Carta 3

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Querida Tessa,

Dempster House me dava calafrios às vezes. Era uma propriedade centenária, velha e estranha. Podia sentir os fantasmas dos antepassados do meu pai me observando às vezes e isso me tirava o sono em algumas noites.

Porém, naquela noite, não foi um fantasma que me deixou sem dormir. Era tarde quando retornamos para casa, mas nem o cansaço de passar horas em pé em um salão de bailes me fez apagar ao deitar-me. Tinha Tessa Hildegart em meus pensamentos e não conseguia deixa-la de lado para adormecer.

Queria conhecer mais de você.

Queria conhecer seus medos, seus sonhos, seus desejos.

Queria que você me conhecesse.

Queria, pela primeira vez na minha vida, ter uma mulher ao meu lado. Ter você ao meu lado.

Aquilo era estar apaixonado?

Eu achava que sim.

Levantei-me, ainda com você em meus pensamentos, e decidi ir até a biblioteca. Meu pai sempre tinha uma garrafa de licor ou conhaque lá, eu esperava que fosse conhaque naquela noite, daquele forte e velho que ele guardava para beber sozinho. Aquilo me ajudaria a apagar e deixar você um pouco de lado.

Os corredores estavam escuros e apenas a lua fornecia uma parca iluminação para os meus passos, mas não queria acender uma vela e correr o risco de alguém me ver. Meu pai não ligava que eu bebesse, mas minha mãe ainda me via como um menino e sempre me dava broncas por beber. Só acendi uma única vela quando cheguei à biblioteca e meus olhos foram direto para o peitoril da janela.

O líquido escuro me fez sorrir, era conhaque. Deixei a vela sobre a mesa em um canto e rumei para a janela, coloquei apenas um dedo de conhaque no copo e me virei novamente para pegar a vela e sair dali, para ir para o quarto.

Havia um livro ao lado da vela e ele me chamou a atenção. Olhei para a capa de couro e minhas sobrancelhas se uniram ao ler seu título. Era um daqueles romances que minha mãe lia escondida sem que ninguém soubesse, afinal até mesmo Susan Foster Baker ainda tinha uma crença no amor, por mais ínfima que fosse. O título dizia algo sobre perguntas a se fazerem antes de se casar.

Aquilo me podia ser útil.

Sorri. Peguei o livro com uma mão e a vela com a outra, o copo de conhaque sobre o livro, e saí para o corredor.

Se minha mãe desse por falta do livro, ela nunca diria nada. Que Deus a livrasse de alguém saber que Susan Baker lia romances!

Naquela noite, sobre o telhado para o qual minha janela dava, eu praticamente devorei o livro. Cada capítulo da história trazia uma nova pergunta, eram cinquenta, e eu marquei cada uma delas. Eram boas. Pensei nas minhas próprias respostas e tentei prever as que você me daria.

Minha mente absorta voava pelas palavras da história e eu pensava em como poderia fazer para aquilo dar certo. Você não esperaria quatro anos até eu me formar em Direito, eu não queria esperar quatro anos para tê-la como esposa. Eu precisava me livrar daquela droga de universidade, precisava mostrar ao meu pai que um casamento com você seria vantajoso para a família.

Como eu faria isso?

O sol nasceu e eu ainda levei mais algum tempo para sair do telhado. A vela ao meu lado tinha derretido completamente. O livro tinha acabado e todas as perguntas estavam marcadas, precisava fazer uma lista delas.

Me vesti e desci para o café da manhã, sabendo que teria que acompanhar meu pai em uma reunião e que não poderia ir ver você logo pela manhã, como eu queria. Havia dito para você que iria só a tarde, mas queria poder estar lá mais cedo.

As cartas do marquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora