3. A chegada

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DEZEMBRO DE 1837,

TESSA FINALMENTE CONHECE A CASA DE FÉRIAS.

Os dias passados no mar tinham surpreendido a todos com a neve que caiu de maneira intensa. Ao que tudo indicava, toda a pequena ilha de Drake Ridge estaria coberta pela neve pesada, o que parecia deixar Henry muito feliz, pois ele queria que as crianças pudessem ver neve de verdade e não aquela pouca coisa que caía em Lamero nos natais.

Por ser uma ilha particular, não haviam rotas de navios que passavam por lá e, por esse motivo, foi preciso também um navio particular para leva-los até lá. Isso foi bom, pois a ilha não tinha nada além das propriedades de alguns nobres e um castelo da família real, eles tinham que levar a criadagem toda e também animais para os serviços que fossem necessários.

A parada em Gruffin não levou mais que meio dia, tempo suficiente para reabastecer o navio e Sarah desembarcar, cedendo espaço para Storms, a governanta de Charlote que era como mãe de Levi e passaria o natal com eles também. Tessa tinha conversado muito com a irmã, aconselhando-a quanto ao seu reencontro com Simon, e Sarah parecia mais tranquila ao descer em Gruffin.

Eles seguiram por mais dois dias depois dali, com neve caindo de modo intenso e dificultando um pouco a navegação.

Tessa estava olhando pela pequena janela da cabine, vendo o aglomerado de pedras na costa da pequena ilha e o porto particular que levava o nome de Athos Campbell, nada narcisista da parte do rei falecido, que dera seu nome à várias construções durante seu reinado e escolhera dar seu nome ao porto dali também depois que conquistara a ilha junto da conquista de Gruffin. Ainda era muito cedo e tinha uma bruma cobrindo a paisagem, a neve parecia ter parado de cair, e ela estava enrolada em um cobertor para poder se manter aquecida, já que não podiam ter fogo dentro do navio.

Ela sentiu braços fortes ao seu redor e lábios molhados no seu pescoço e sorriu, sem se virar para o marido.

- No que está pensando? – Perguntou ele, acomodando o queixo no ombro dela.

- No narcisismo de Athos Campbell. Ele deu seu nome à um porto, um castelo, um prédio na Universidade Real e várias outras construções. – Ela externou seu pensamento e fez Henry rir.

Ali, no silêncio enquanto nenhum dos dois dizia nada e ele mantinha-se abraçado a ela, Tessa se pegou pensando sobre toda a história dos dois enquanto se aconchegava ao marido. Ter recebido aquelas cartas dele, ter conhecido o passado pelos olhos dele fez ela sentir ainda mais paixão por aquele homem maravilhoso e, desde que completaram vinte anos de casamento meses antes, ela não parava de pensar sobre aquelas cartas. Vez ou outra Tessa voltava à caixa em que elas estavam guardadas e escolhia uma para reler, revivia as aventuras dos dois, coisas que a faziam sorrir e outras que a deixavam ruborizada de vergonha por vê-las ali, escritas.

Instintivamente, Tessa olhou para o teto da cabine, posicionada na popa do navio, como se pudesse rever aquela noite em que voltavam da Escócia, os dois fazendo amor no convés, contra a amurada. Aquilo fora muita loucura e, naquele momento, Tessa sentia vergonha em sequer pensar a respeito.

- Estamos aportando. – Henry avisou, chamando a atenção dela para o presente e depositando um beijo na bochecha dela. – Acho melhor nos prepararmos, as crianças devem estar eufóricas e as babás não vão dar conta delas.

Tessa sorriu, vendo o navio entrar no porto, e virou-se nos braços do marido, enlaçando o pescoço dele e puxando seu rosto para o dela até unir suas bocas. Henry pareceu surpreso, mas retribuiu o beijo dela e sorriu ao afastar-se, alisando o rosto dela com o polegar. Apesar de amar cada um dos momentos especiais com Henry, eram aqueles os preferidos de Tessa, os espontâneos e despretensiosos, apenas os dois juntos, sem preocupações ou pressa, apenas aproveitando a companhia um do outro.

As cartas do marquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora