Carta 8

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Querida Tessa, 

Por já ser o fim do dia quando chegamos na Escócia e desembarcamos em Edimburgo, não tivemos tempo de explorar a cidade antes de termos que ir para o hotel. Você parecia feliz como nunca a vi, tinha um sorriso no rosto que não se desfazia por nada e, antes de dormirmos, confidenciou-me que sentia dores nas bochechas por sorrir daquela forma.

Vê-la tão feliz com aquilo me deixava muito feliz também, ver você realizando seu sonho e estar ali com você era o melhor presente de casamento que eu poderia receber.

- Vou dar uma aula particular sobre Edimburgo para você. – Foram suas primeiras palavras na manhã seguinte, totalmente pronta para começar a desbravar a cidade antes mesmo do sol nascer.

Com os trajes típicos, um vestido de tecido grosso e xadrez, que eu sei que você vai dizer que se chama tartan e não simplesmente xadrez, era óbvio que você estava empenhada demais naquela missão de conhecer cada tijolo da cidade. Apoiei minhas mãos sob a cabeça, olhando para você parada no meio do quarto, com aquele sorriso enorme, enquanto o sol nascia atrás do seu corpo pela janela.

- Acha que eu não conheço nada sobre a cidade? – Indaguei, me divertindo.

- Acho que não a conhece como eu. – Exibia os braços na cintura, o olhar sobre mim e uma pose muito confiante em suas palavras. – Para começar, julho nem é o melhor mês para estarmos aqui. Devíamos ter vindo em abril, para o Beltane.

Arqueei uma sobrancelha. Alguém tinha mesmo feito a lição de casa.

- E a senhora pode, por favor, me explicar o que seria o Beltane? – Pedi. – Talvez eu leve isso em consideração para a próxima viagem.

Seu sorriso se mantinha enquanto revirava os olhos e uma das malas no chão.

- Só se o senhor, por favor, se levantar dessa cama e se arrumar logo para sairmos. – Você pediu, jogando algumas peças de roupa para cima da cama. – Serei uma ótima guia turística enquanto nós caminharmos pela cidade. Eu estudei muitos livros sobre a Escócia, querido.

Com um suspiro fingido e um drama teatral, me levantei e comecei a me arrumar enquanto você narrava a história da cidade.

- Você sabia que, no começo de 1800, a cidade de Edimburgo já tinha mais de cem mil habitantes? – Sua empolgação era muito bonitinha e eu a assistia admirar a cidade enquanto abotoava os botões da camisa. Era excitante vê-la feliz daquela maneira.

- É mesmo? – Perguntei, mesmo já sabendo daquilo.

- Pois é! – Seus olhos encontraram os meus. – A expectativa é que isso dobre antes da virada do século. Eu acho que, em três décadas, já serão mais de cento e setenta mil pessoas.

Sorri com aquilo. Você falava com tanta propriedade, com tanta paixão sobre aquilo, que eu começava a estudar na minha mente a possibilidade de nos mudarmos para a Escócia. Talvez eu fosse mesmo louco.

- Posso perguntar qual o seu estudo de base para tal estimativa, milady? – Indaguei, me divertindo.

Com uma sobrancelha arqueada, você me estendeu a mão ao se aproximar de mim, um olhar de desafio presente.

- Quer apostar comigo? – Foi o desafio. – Se eu ganhar, nós vamos retornar para Edimburgo em trinta anos para uma segunda lua de mel. Vamos passar um mês aqui, em abril, e vamos participar do Beltane.

- Mas se eu ganhar... – disse ao aceitar a mão e o desafio que me eram oferecidos, pensando no que pediria em troca. – Caso a sua estimativa não se concretize, eu vou escolher o outro lugar para a segunda lua de mel.

As cartas do marquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora