4. O pinheiro

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DEZEMBRO DE 1837,

A TEMPORADA DE BUSCA PELO PINHEIRO PERFEITO ESTÁ ABERTA.

Havia um bom motivo para Henry Baker amar o natal desde que era apenas uma criança.

Seus pais podiam não serem os melhores do mundo, Deus era testemunha que, mesmo com quase quarenta anos de prática naquilo, Susan Baker ainda não era uma mãe exemplar, mas o natal em Dempster House... ah, esse sim era exemplar. As comemorações começavam semanas antes do dia vinte e cinco, a casa toda era decorada e os presentes começavam a ser empilhados em um canto da sala de estar, até o dia vinte e quatro, quando o próprio marquês saía para encontrar um bom pinheiro e voltava arrastando-o no seu trenó – provavelmente ele comprara cada uma das árvores, ano após ano, mas o que valia era a intenção – e depois a mãe de Henry passava a tarde com ele e Maitê, decorando a árvore. Eles eram uma família normal e feliz naquelas semanas e foi fácil criar uma predileção por aquela época do ano, com muitos biscoitos decorados e sempre tendo um chá ou um chocolate quente enchendo a casa toda com os aromas.

E quando Henry tivera os próprios filhos, ele fizera questão de passar esse amor pelo natal para ambos. Lamero não era uma cidade que era agraciada com muita neve para brincadeiras ao ar livre, fazer bonecos de neve ou simplesmente rolar por ali não era uma opção, mas mesmo assim eles sempre tinham uma grande árvore em casa e muitos presentes sendo empilhados sob ela para serem trocados entre a família, fosse nos anos em que passavam a data com a família de Henry ou quando iam para Gruffin comemorar a data com a família de Tessa.

No arco da porta da cozinha de Abbot Park, o marquês de Dempster assistia com um sorriso à cena que se desenrolava ali. Tessa havia decidido no ano anterior que as crianças já tinham tamanho o suficiente para irem à cozinha preparar os próprios biscoitos de natal, então ali estavam eles pelo segundo ano consecutivo. As crianças usavam aventais vermelhos, o de Agatha ostentava uma rena sorridente bordada e o de John tinha um enorme desenho do Papai Noel, e Tessa também tinha um avental protegendo o corpo. Charlote estava ali também, com Frederico junto dos primos mais velhos e Olívia e Marie apenas observando a cena, sentadas à mesa de trabalho.

- Eu quero um boneco! – John declarou quando a mãe tirou uma assadeira enorme e cheia de biscoitos de dentro do forno.

- E eu quero uma rena! – Agatha se empolgou junto do irmão.

Tessa colocou a assadeira sobre a bancada, afastando os filhos para não se queimarem e pediu que eles esperassem um pouco para pegarem os biscoitos, até que esfriassem.

Querendo participar daquilo tudo também, Henry avançou para dentro da cozinha enquanto Tessa agitava um guardanapo para esfriar mais rápido os biscoitos.

- O que aconteceu com todos os criados dessa cozinha? – Ele perguntou, estranhando a falta de todos.

Sua esposa lhe deu um sorriso culpado.

- Dispensei eles esta tarde para podermos usar a cozinha sem interferências. – Ela deu de ombros. – E, conforme o combinado com as crianças, a mamãe vai fazer biscoitos e o papai vai limpar a sujeira depois.

Henry riu, roubando um dos biscoitos de gengibre enquanto Tessa já distribuía eles para as três crianças ao redor da bancada e espalhava também os confeitos para que eles usassem.

- Sinto muito e desapontá-la, mas o papai aqui vai sair agora mesmo para encontrar um bom pinheiro que será decorado amanhã. – Falou ele.

- Eba! – John comemorou, jogando os braços para cima e sorrindo de orelha a orelha. – Pode ser um bem grandão?

As cartas do marquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora