Carta 1

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Querida Tessa,

Era abril de 1817, o dia do grande Baile Real daquele ano e quando as senhoritas à procura de marido seriam apresentadas à sociedade.

Minha mãe estava tensa e corria para os lados como uma galinha choca pela semana toda, enquanto Maitê não se importava com nada e reclamava todas as vezes em que era forçada a experimentar vestidos ou falar sobre début e enxoval. Minha irmã não queria se casar, eu sabia, mas minha mãe a criara para ser uma esposa e meu pai a entregaria ao primeiro homem que lhe oferecesse um bom acordo, eu também sabia, e não havia nada que eu poderia fazer.

A carruagem parou em frente à nossa casa e minha mãe saiu brigando com Maitê pois ela pisava na barra do seu vestido.

- Eu não quero fazer isso. – Reclamou ela, irritada, com a nossa mãe.

- Mas vai. – Minha mãe dissera, conduzindo-a enquanto segurava seu braço enluvado. – Eu a criei para isso, Maitê.

Papai trocou um olhar divertido comigo e, em silêncio, nós dois rimos daquilo. Ambos sabíamos que a noite seria longa, mamãe tentava dobrar Maitê de todas as formas e minha gêmea reclamava de tudo que podia. As duas subiram na carruagem e nós fomos logo atrás, permiti que meu pai subisse primeiro e fui logo em seguida.

A verdade é que eu não estava nenhum pouco ansioso para o primeiro baile que eu colocaria os pés, já tinha ido à eventos sociais antes e sabia como tudo seria, fui treinado por anos para ser o melhor possível entre as pessoas e sabia o que deveria fazer para impressionar ou para não chamar a atenção, tinha a minha confiança me guiando para o que a noite reservava e tudo que passava pela minha mente era salvar Maitê de qualquer possível problema que surgisse, como ela chutando um lorde durante a dança ou meu pai aceitando a primeira oferta de casamento que ela recebesse.

Eu não esperava que minha vida mudasse naquela noite. Não fazia ideia de que voltaria para casa com um destino totalmente mudado pela frente.

Mamãe e Maitê falavam em cochichos uma com a outra e o leque da marquesa batia sem dó na perna da filha, castigando-a por alguma reclamação dela. Aquele leque causava terror em mim e na minha irmã desde a infância, era feito de marfim e doía para burro. Tinha levado umas bofetadas com ele algumas vezes na infância, na orelha ou nos dedos, e os vergões ainda me assombravam às vezes.

- Teve resposta da universidade? – Meu pai perguntou, chamando minha atenção, e o olhei, sentando ao meu lado na carruagem.

No escuro, neguei com a cabeça como se ele pudesse me ver.

- Nada ainda. Está cedo demais para isso.

Eu nem tinha completado dezoito ainda, mal sabia o que queria cursar, mas assim como mamãe controlava o futuro de Maitê com rédeas curtas, meu pai controlava o meu sem rédea alguma, ele me segurava diretamente no couro mesmo. Eu seria o futuro marquês de Dempster, seria um dos homens de confiança do rei, assim como meu pai era e como o pai dele fora, era de suma importância que eu fosse bom com finanças, com política, com tudo que um cavalheiro deveria ser bom. E que eu tivesse um diploma. Por isso meu pai escolheu meu curso, Direito.

Odiava pensar em mim advogando, não queria ter que conhecer todas as leis de cabeça. Mas o destino estava traçado e não havia como muda-lo.

- Conversei com o reitor da Escola Real de Direito. – Estremeci com as palavras do meu pai, por mais que já esperasse por aquilo. Ele não era de ficar parado e confiar no destino. – Ele me garantiu que você será aceito, então já pode começar a se preparar para a universidade.

- Estou preparado. – Menti, colocando toda a firmeza que fora treinado para ter na voz.

- Bom, bom... – papai murmurou como sempre fazia. – Dempster precisa de alguém capaz para assumir o meu lugar. E a família Baker precisa de alguém capaz de dar continuidade nos nossos negócios na política.

As cartas do marquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora