CAPÍTULO IX

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   Tudo estava preto e Wallace conseguia apenas escutar seus passos. Ele parecia confuso de onde estava mas, em questão de segundos, ele escutou uma melodia e começou a caminhar em direção a ela, chegando perto, viu uma porta e dela saía uma luz branca e, ao se aproximar mais, viu uma jovem moça, muito bela, com cabelos longos e escuros, cantarolando uma canção doce. Em seu colo havia um bebê recém-nascido, e a mulher o chamava por "Wallace Winter", sussurrando doces palavras enquanto cantarolava: "Wallace... Meu pequeno. Eu te amo tanto Winter..." ela beijou a testa do bebê, enquanto balançava para frente e para trás.

   "Mãe..." - o bruxo sussurra para si ao ver aquela cena. Seus olhos enchem de água e ele vê a criança pegar de sua mãe, um colar idêntico ao que ele ganhou antes de retornar no tempo. Ele tira o colar de dentro de sua roupa e o compara pensativo :

   " São os mesmos colares? Como?! Eu nunca o vi na minha vida... "

   O cenário ao seu redor muda para um bosque e ele se vira, analisando o lugar, percebe que o conhece. Era sua casa, o lugar onde crescera com seu pai. O garoto ao escutar uma discussão e choro de criança, corre em direção ao o lugar e o encontra, sua versão mais nova, chorando enquanto tampa o seu olho esquerdo:

   - Viu o que você fez! - um homem grita com uma mulher.

   - Eu não fiz nada! Eu estava preparando a comida e a faca pegou no olho dele. Pobrezinho... - a mulher observava o menino chorar de longe fingindo sentir remorso

   - Eu vou embora daqui! Não vou suportar conviver aqui contigo! Você é horrível e nem se compara a minha doce Elisa!

   A mulher fica furiosa e derruba um pote de vidro que estava do lado dela. Ela observa o homem pegar a criança com o olho ferido e olha bem fundo para o garotinho e sussurra que um dia o encontraria, apontando para sua própria face no mesmo lugar que o rosto do pequeno estava ferido. Wallace não se recordava daquilo com clareza mas sentiu um leve calafrio e percebeu que agora era esta mulher que estava com o colar.

   As coisas estavam calmas novamente, o garotinho estava cego de um olho mas continuava a sorrir e parecia não se importar com nada, além da companhia do seu pai. Tudo parecia bem, até que vários homens vinham em direção ao pai e filho que brincavam ao ar livre. Seu pai percebeu o que estava acontecendo e disse que iriam brincar de esconde-esconde, deu um beijo na testa do menino e disse que o amava, pedindo para correr o mais longe possível. O garoto observou o seu eu correr e se virou para trás para ver o que estava acontecendo, conseguindo apenas ver o homem sendo cercado e se rendendo. Ele tentou correr em direção ao senhor, e  esticou sua mão para tentar alcança-lo, mas foi em vão e tudo começou a se esvair.

   Anderson chamou o garoto por muito tempo, mas não conseguiu:

   - Wallace, acorda! - ele balança o garoto - vamos lá! - ele diz inquieto, com o bruxo deitado no seu colo. O loiro abaixa o lenço preocupado e abraça o garoto com força - eu não vou deixar você sozinho. Eu... - o homem começa a ficar tonto e entra em estado de transe.

   Ele começou a escutar um choro, e seguiu em direção a choradeira. De longe pode observar um garotinho em prantos, rodeado de outras duas crianças:

   - Por que ainda está chorando? Eu disse que tudo vai ficar bem! A gente vai encontrar seu pai - uma menina tenta motivar o menino chorão.

   - Deixa ele em paz, você está assustando ele, com essa sua cara feia!

   - Eu? - a garota ri e joga seus cabelos para trás - já se olhou no espelho? Você é o pior de todos.

   O garoto que provocava, jogou os ombros para trás e observava de longe a garota tentando acalmar o chorão. Quando a garota precisou ir embora, o menino se aproximou do garotinho:

   - Você não tem pra onde ir, né? - ele observa o garoto apenas balançar a cabeça negando - E-eu posso te levar para casa, pelo menos hoje você terá um lugar para ficar... Aceita? - ele morde os lábios nervoso e o garotinho o abraça, deixando-o corado.

   " Argh! " - o homem coloca a mão na cara, envergonhado - " eu era uma decepção... "

   Tudo em sua volta começou a se preencher de memórias boas, mas apenas quando estava sozinho com o garoto chorão, o seu coração acelerava de uma forma inexplicável. Os dois foram crescendo juntos e felizes, mas as memórias começaram a falhar e os momentos só envolviam brigas.  Anderson observava todas as confusões que ele mesmo iniciou e toda sua infância começou a correr sobre seus olhos, rápidas como um flash e ela parou em um laboratório:

    " Não! " - ele se assustou e mudou seu humor drasticamente - " aqui não... " - seu coração começou a acelerar. 

   - Não! Eu não acredito! - uma voz feminina ecoou pelo grande laboratório - o quê você fez seu estupido?! - a mulher empurrou um homem, que deduzindo pela roupa, era um cientista - ele está...

   " Por favor, não diga isso... Não diga isso" - ele fechou os olhos implorando para pular aquela memória.

   - Morto!

   Os olhos do loiro encheram de água e ele sentou no chão, se lamentando:

    " Eu devia ter feito mais, não devia ter confiado nela... A culpa foi minha, você morreu em um experimento, mas a culpa foi toda minha..." 

   Mais uma vez a situação muda, e agora Ander o vê entrando em um portal logo atrás de algumas pessoas, sendo cauteloso como se ninguém pudesse o ver.  O homem apenas continua cabisbaixo e vê ele mesmo com uma criança no colo. Ela parecia ferida mas nada grave:

    " Wallace... " - sussurra para si.

   O homem que carregava o garotinho, retira uma mecha da cara do menino e beija sua testa e sussurra em seguida para o menino desacordado:

   - Tudo vai ficar bem! Você vai ficar em um lugar seguro, e isso nunca, nunca mais vai acontecer de novo! - ele abraça o garoto e caminha com ele em seus braços. Anderson o observa com os olhos até tudo desvanecer.

   Os dois estão parados como uma estátua e um barulho de corvo ecoa sobre o lugar, conseguindo despertar eles, o trazendo de volta a realidade.

DEVIDO LUGAROnde histórias criam vida. Descubra agora