CAPÍTULO XVIII

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   Anderson encontra Heitor no corredor, ofegante, e a cara do loiro se fecha enquanto o garoto começa a se desculpar, falando rápido tudo o que havia ocorrido na última hora :

   - ...E então, Samantha me chamou para uma reunião de última hora, eu sinto muito por não estar no momento para receber vocês, mas já estou livre e podemos seguir com o plano - ele acena com a cabeça, suspirando, ao terminar de falar.

   - Eu não sabia que você era tão barulhento! - o homem colocou suas mãos nas orelhas.

   - Me desculpa, eu me descontrolo um pouco quando estou nervoso... - o menino observa de um lado para o outro - cadê o Roger?

   - Infelizmente, você não checou o tamanho dos uniformes e o Roger é grande e gordo demais para caber em um tamanho médio.

   - Então só tem você aqui?

   - Quem mais teria?

   - Bem... Podemos prosseguir? Eu vou tentar encontrar as chaves e você me espera aqui - ele responde nervoso.

   - Acho que já adiantei esta parte do plano - diz levantando o braço e mostrando o lindo molho de chaves pendurado em seu dedo indicador enquanto o menino o encarava boquiaberto - me diz que essas chaves são as que precisamos.

   - C-Como você...?

   - Eu tenho o charme certo para conseguir o que eu quero - o homem joga seus cabelos loiros para trás.

   - Que incrível, versão masculina de Afrodite! - debocha - mas acho melhor seguirmos logo com isso, pois esse seu "charme" não vai encantar Samantha e se ela nos encontrar aqui, não vai ser empolgante.

   - Eu sei, eu sei... - Ander respira fundo - você tem ideia de qual dessas chaves abre aquela jaula horrível ? - o menino balançou sua cabeça negando e Anderson revirou os olhos - olha, eu preciso tirar o Wallace pequeno daqui também e se demorarmos muito, vai ser um pouco complicado...

   - Wallace... O que?!

   - Ah, é uma longuíssima história e não temos tempo, uma pena - Ander finge estar desapontado e retoma em seguida - vamos até onde o Wallace está e encontramos a chave, após isso, eu cuido dele e você encontre um garotinho de cabelos médios e castanhos, com uma cicatriz igualzinha a do meu amigo, ok? - ele observa o menino apenas acenando com a cabeça concordando - e mais uma coisinha, menino tagarela, se você puder sedar o garotinho, estaria me fazendo um favor enorme - ele abre um enorme sorriso.

   - E-Eu nunca fiz isso. Para o que é tão importante fazer isso? E por favor, para com esse sorriso, ele me assusta... - Heitor responde um pouco aflito.

   - Eu já te disse, é uma longa história e não temos nem um pingo de tempo restando, quanto mais rápido você concordar, mais rápido prosseguiremos!

   - Tudo bem, vamos logo com isso - o garoto joga as mãos para cima e prossegue corredor a frente - incrível como você me tira do sério, nem minha irmã consegue ser cansativa quanto você! - reclama com Anderson que lhe acompanhava logo atrás.

   - Pelo menos eu tenho atitude e resolvi os meus problemas sozinhos! - os dois se calam e caminham aborrecidos até chegar na cela de Wallace.

   A dupla testa o molho de chaves, uma por uma, e encontram a chave correta na penúltima tentativa, Ander provoca Heitor, que o encara mal-humorado e se retira do lugar para procurar o pequeno Wallace. Anderson entra na cela escura e encontra Wallace deitado:

   - Ei, Wallace! Heitor e eu conseguimos abrir o cadeado, agora a gente pode sair daqui, juntos! - o bruxo fica quieto e o loiro se aproxima do amigo preocupado - você está bem?

   - Estive pensando sobre isso... Será que realmente é uma boa ideia? Samantha vai ficar furiosa se ela descobrir que eu escapei e não cumpri com o que prometi - o garoto se levanta devagar e se senta.

   - Como assim você vai desistir?! Sabe que a única coisa que ela quer é tirar os seus poderes, né? Você é só um produto na mão dela.

   - Ander, eu não vou morrer dessa vez, não se preocupe.

   - Não é isso, é que... Argh! - ele coloca sua mão na cara e se senta do lado do companheiro - você correndo risco de vida ou não, ainda está entregando a ela, tudo o que não deveria! E vai mesmo deixar uma das suas melhores partes partir tão fácil assim de você? Wallace, os seus poderes são incríveis e eu nunca deveria ter dito o contrário.

   - Eu nem consigo mais usar eles como deveria. Estou exausto e cansado, depois de tantos esforços, durante uma década, acho difícil me recuperar tão fácil, é como se algo sugasse minhas energias e talvez seja porque esse poder todo não é para mim!

   - Eles não são apenas seus - o homem segura a mão do amigo - seus poderes são como uma herança da sua mãe, e se você odiá-lo ou entregá-lo tão facilmente assim, é como se estivesse ao mesmo tempo negando suas origens também. E sobre estar tão exausto sem ao menos conseguir usufruir dos seus poderes, talvez seja apenas sua ansiedade... Tem certeza que só não está reprimindo tudo o que não deveria? Toda essa história, principalmente após descobrir que a vítima dela era você, possivelmente é o que está te causando esse mal. 

   Wallace fica em silêncio e solta sua mão da do grandão, enquanto permanece de cabeça baixa. Anderson respeita seu espaço e apenas continua a seu lado calado.

   Heitor segue a procura de anestesiantes para sedar o pequeno Wallace. Ao encontrar, ele se dirige ao lugar onde a criança está. O pequeno estava acordado, sentado em sua cama, com sua cabeça apoiada em sua mão. O garoto abre a cela devagar:

   " Que tamanha crueldade, por que ela prenderia uma criança tão inocente?" - pensou consigo mesmo - " espero que ele não se assuste quando eu terminar de abrir... " - ao dizer aquilo, o portão se emperrou, fazendo um grande barulho que assustou o menininho - " droga! " - Heitor se apressa para dentro e se fecha junto do pequenino, e ao se aproximar devagar o garotinho se encolhe assustado:

   - P-Por favor... N-Não faça nada comigo, vocês prometeram me deixar em paz e eu estou me comportando - o jovenzinho começa a soluçar.

   - E-Eu não vou te machucar, estou aqui para te ajudar a sair daqui! - o garoto chega sem jeito mas envolve seu braço sobre o menino assustado - minha irmã fazia isso quando eu estava triste ou assustado... Isso me ajudava a acalmar os nervos - riu.

   Os dois ficam quietos, e o garotinho se acalma aos poucos e o abraça de volta:

   - Eles me machucaram, todo dia eles faziam exames e eu nunca soube o porquê. A mulher alta de cabelos branco sempre ficava brava quando eu demonstrava estar exausto, e todos daqui são assustadores! A única pessoa que foi gentil comigo, era a senhora Johnson - choramingou.

   - E sobre mim, eu te assusto?

   - Um pouco, seu cabelo é enorme e cobre o seus olhos... - ele ri

   - Mesmo parecendo um pouco assustador, quero que confie em mim, tudo bem? - o menininho afirma com a cabeça e o cabeludo pega a agulha e um pequeno frasco que estava no seu bolso - para vir comigo, você precisa...

   - NÃO! - o pequeno grita ao ver a agulha - eu não quero mais isso! - ele pula da cama e se encosta na parede.

   - É só uma anestesia, não vai doer nada, eu prometo! - Heitor enche a agulha e se aproxima do garoto assustado.

   - Não, eu não quero! Você é um daqueles médicos que me machucam e eu não quero! - exclama se irritando.

   - É muito importante, se você não vir comigo, eu também não vou poder sair daqui!

   O bruxinho continuava se irritando enquanto o outro insistia, mas de tanto ser enfurecido, quando Heitor se aproxima dele, o pequeno bruxo solta um grande poder que causa dano em uma pequena parte do lugar, e o garoto é jogado para trás. A sirene é acionada e Heitor se recompõe rápido, aplicando a injeção no menino que já estava desacordado, apenas como precaução e, pegando o pequeno Wallace no colo, corre ao encontro de Anderson. 

DEVIDO LUGAROnde histórias criam vida. Descubra agora