DEVIDO LUGAR

CAPÍTULO XI

   Quando os gêmeos vão embora, Anderson corre desesperadamente em direção ao garoto ferido:

   - Wallace! - ele se abaixa próximo ao garoto - como você está se sentindo?

   - Péssimo! Nunca senti tanta dor!

   - Roger, você sabe o que fazer? - Ander olha desesperado para o velho - você é um caçador, mexe com armas e possivelmente já foi ferido ou precisou ajudar alguém assim... Você sabe o que fazer, não sabe? - os olhos do loiro enchem de lágrimas.

   - Relaxa loirinho! Por muito tempo de experiência sei o que precisamos fazer, mas primeiro temos que ir para um lugar mais calmo e água para limpar esse ferimento.

   - Não, não podemos desviar do caminho... A gente precisa chegar lá o mais rápido possível.

   - Calado, Wallace! Você está ferido e precisamos primeiro cuidar de você. Pare de pensar nos outros e ser tão ansioso! Vai ficar tudo bem e vamos prosseguir o mais rápido possível depois que você descansar, ok?

   O bruxo fica em silêncio e apenas aceita os cuidados dos amigos.

   Roger está umedecendo seu lenço e Wallace está deitado sobre as pernas de Anderson, tremendo por causa da febre:

   - Estou com frio, me dê o meu cardigan...

   - É bom se contentar com meu casaco. Sua blusa já não tem mais utilidade - responde pegando a roupa e mostrando o seu estado atual, rasgada por completo, pois foi usada para fazer os curativos.

   - Anderson! - o caçador chama a atenção - coloque isso na testa do jovenzinho. Vou procurar algo para comermos a noite e também tentar encontrar alguma coisa que possa abaixar a febre dele - entregou seu lenço úmido.

   - Ok. Tente voltar rápido...

   O velho balança a cabeça e segue o seu caminho. O garoto tenta se levantar mas o loiro o impede:

   - Fique aqui!

   - Não... Eu preciso mostrar que eu estou bem e que podemos prosseguir. Só estou com um pouco de febre... O ferimento dói... Mas eu tô bem! - o menino se senta e encosta na árvore atrás de si.

   - Não, você não está! - Anderson segura o lenço na testa do amigo - Você está pelando! Só relaxa. O mundo não vai acabar se a gente adiar o que precisa fazer!

   - Mas o meu sim... Cada dia é um tempo a mais que eu levo para encontrar a verdade - O garoto fica cabisbaixo.

   - Por que você quer tanto resolver isso ?

   - Porque aquelas crianças são meus amigos! - o bruxo apoia sua cabeça no ombro do companheiro - Eu... eu acredito que matei eles na noite que nós nos encontramos. Não o eu de agora, e sim a minha pessoa do passado. Eu sei que parece loucura mas eu vim do futuro e desperdicei anos da minha vida atrás de respostas então não posso deixar tudo isso ter sido em vão!

   - Mas se acredita que seus amigos estão mortos, por que simplesmente não desistiu?

   - Porque... Na verdade eles nunca foram encontrados, mas sei que é difícil sobreviver quando você é atingido por um raio, não?

   - Mas você sobreviveu - aponta com os olhos para o braço descoberto do garoto - figuras de lichtenberg. Li sobre isso em algum livro... Acho que você não cuidou bem dela, pois já era para ter desaparecido - ele sente o garoto negar com a cabeça - deixa eu adivinhar... Você não teve tempo?

   - Ei! Eu não sou tão descuidado assim! - ele levanta a cabeça e encara o grandão que debocha do jovem.

   - Continuando...Se eles tiverem morrido, não acha que já se livraram do corpo deles?

   - Sim! mas... - parou por um instante.

   - Tudo o que você quer é só provar que estava equivocado... Se eles tivessem mortos, você não voltaria! No fundo você sabe que tem algo de errado e a única coisa que falta é confirmar com os olhos, pois o seu coração já sabe a verdade.

   - É engraçado como parece que você me conhece há décadas e, aparentemente, sabe mais sobre mim do que eu próprio. 

   - Depois de conviver com você por alguns dias, é fácil imaginar o que se passa com você - Anderson ajeita o cabelo do garoto e se aproxima dele lentamente.

   - Ander... Não - Wallace coloca seu dedo nos lábios do loiro - Talvez você tenha me entendido errado sobre o que aconteceu na noite passada. Eu não quero que você crie expectativas que não vão ser cumpridas.

   - Entendo...

   - Não é nada pessoal... Apenas não é o momento agora, então, por favor, não fique bravo.

   - Eu não estou! A única coisa que eu quero é te ver bem - o homem segura a mão do bruxo e a beija suavemente - então descanse, ok? Amanhã é um longo dia - ele sorri enquanto o menino sorri de volta.

   Roger chega com um coelho como janta e algumas folhas para fazer um chá para Wallace. Depois de pronto ele coloca o líquido em uma latinha :

   - Beba isto, vai fazer sua febre diminuir - entrega o chá pronto em uma latinha.

   - Obrigado! - o garoto aceita e bebe devagar.

   - Agora durma um pouco que amanhã você vai estar melhor! - o loiro pegou a lata e sussurrou para o amigo enquanto o ajudava a se deitar e dá um beijo em sua testa.

   Anderson se levanta e se junta próximo a fogueira que o caçador havia feito para assar a caça :

   - Ei, velho! - ele pega um pedaço do animal e se senta - obrigado por ajudar a cuidar dele...

   - Não precisa me agradecer, isso é o mínimo que posso fazer por ele.

   - Mas eu quero! Isso é importante para mim também - mordeu um pedaço da sua refeição - uau! Isso tá incrível!

   - O loirinho elogiando minha comida? - o velho riu com gosto - isso sim é novidade!

   Anderson revira os olhos e apenas ignora, continuando a saborear a deliciosa carne.