DEVIDO LUGAR

CAPÍTULO XXIII

   As nuvens no céu começam a se carregar e o tempo parece piorar a cada segundo, mas isso não faz Samantha desistir:

   - Wallace, você está deixando as coisas complicadas demais! Olha o que você me fez fazer - ela aponta para o trio embalado em ramos - Se você se entregar, eu as solto, caso contrário, morrerão.

   - Você sabe resolver alguma coisa sem usar ameaças para alcançar o seu desejo?

   - Saberia se você colaborasse comigo!

   Roger e Anderson se entreolham e aproveitando a deixa da mulher, avançam para cima dela, que responde eles com um belo reflexo, pegando sua adaga e acertando a barriga de Roger e ao se virar para Ander, consegue apenas fazer um arranhão em seu rosto. O loiro desvia e corre na direção do caçador e Wallace começa a ficar inquieto, pensando se realmente valeria a pena entregar seu "dom" para uma maluca como ela. Ele não queria machucar ninguém, então ousou perguntar sobre e esperou uma boa resposta em troca:

   - Me diz o por que meus poderes são tão importantes para você, talvez você me convença de te cedê-los mais uma vez.

   - Ah, agora você está falando a minha língua...- se aproximou do garoto - Winter... Esses poderes foram roubados de mim!

    A mulher sorriu com a cara de espanto do garoto que questionou outra vez:

   - Diz logo, para que quer tanto eles? E, como sabe o meu sobrenome... Eu nunca lhe disse sequer uma vez.

   - E nem precisa, pois esse também é o meu.

   - O quê?! - garoto fica pálido - Impossível! Esse era o sobrenome da minha família.

   - Exatamente! - ela sorri cada vez mais - Você não se lembra quem fez essa cicatriz no seu olho esquerdo? Fui eu, bobinho... Seu pai dizia que eu era uma má influência e iria tirar você de mim. Eu sabia que não veria você por muito tempo, e queria tanto poder reconhecer meu sobrinho após anos. Não é todo o mundo que possui essas belas características, então seria mais fácil lhe encontrar mais tarde sem tanto trabalho.

   - Então, você era a irmã da mamãe que papai sempre me disse para evitar?! Você fez isso comigo só para poder me encontrar para extrair meus poderes? Meu pai nunca deveria ter confiado em você e passado o verão na sua casa!

   - Mas vocês não tinham escolha, né? A casa de vocês foi tomada. Eu ajudei seu pai a se reerguer, e ver que o dom da minha querida Elisa preso em você, me fez sentir raiva! Você tem o sangue daquele infeliz e não merece esses poderes! Nunca mereceu!

   - Você é maluca! Eu mereço esses poderes, sim! Foi deixado por minha mãe para mim.

   - Ela infelizmente não tinha escolha... E seu pai, foi outro que não merecia nada do que eu lhe dei! Ele tornou a vida da sua mãe um inferno, e graças a você ela morreu!

   - Meu pai amou minha mãe tanto quanto ele amou e se dedicou a cuidar de mim!

   - Ah, querido... Nós poderíamos ter sido melhores amigos, mas infelizmente ninguém quis colaborar conosco - ela se aproxima do jovem - Se me permitir, eu lhe direi o quão tóxico foi o seu pai na vida da sua querida mãe...

   O garoto apenas a encara, tentando não se abalar com as palavras da mulher e a mesma continua a desabafar:

   - Seu pai não queria que seu filho nascesse um bruxo, pois ele tinha medo. Ele também, às vezes implicava com sua mãe por aquele dom, ou em suas palavras, maldição. Por conta disso, ela tentou se matar porque descobriu que estava grávida e acreditava que o marido não aceitaria nem ela e muito menos o fruto dos dois... Mas eu a salvei! Eu a ajudei a convencer o seu esposo que a criança nasceria saudável e sem essa "maldição", pois eu estava disposta a transferir toda a magia dela para mim, porém, não foi possível. Você já havia recebido todo o poder dela para si, e você a enfraqueceu cada dia mais! Mas eu não lhe culpo, era só um bebê, não é? - ela diz isso acariciando o cabelo do bruxo que estava aflito.

   - Mas meu pai nunca me decepcionou. Ele sempre cuidou de mim da melhor forma possível!

   - Isso tudo foi por arrependimento! - ela se enfurece - Mesmo ele não gostando do fato dela ser uma bruxa, ele a amava, e você era a única coisa mais próxima a Elisa, se ele o abandonasse, estaria abandonando sua amada.

   - Mesmo assim, isso seria um problema entre nós. Ainda não entendi o motivo de querer tanto meus poderes... Isso tudo é porque não conseguiu o que minha mãe lhe prometeu? E agora está amargurada e com ciúme de ver que o filho dela cresceu e não vai continuar com a promessa que ela lhe fez?

   - Escuta aqui, garoto! O motivo pelo qual eu quero seus poderes é muito maior do que a promessa que ela me fez.

   - Então qual seria? - ele ergue a sobrancelha.

   - Eu... - ela observa o colar do garoto brilhando - Apenas quero me sentir forte uma vez na vida...

   - Ah, você tem mil e um cientistas do seu lado e ao invés de desenvolver algo para si mesmo preferiu me perseguir por todos esses anos?! Que plano incrível! - debocha.

   - Você acha que eu nunca tentei?! O problema é que nunca consegui aumentar meus poderes para um nível tão elevado quanto ao seu.

   - Então, azar o seu! - o garoto revira os olhos.

   - Você é o único que pode me ajudar... - ela o abraça fingindo estar arrependida, se fazendo de vítima, e ao se soltar do abraço, puxa o cordão do colar garoto e amarra o item em si.

   - O meu colar! - o garoto arregalou os olhos - Me devolve ele. Eu preciso dele...

   - Esse colar é meu!

   - Ele pertencia a minha mãe.

   - Que é a minha irmã, e isso passou a vida toda comigo.

   - Por favor, me devolve isso... - ele começa a se sentir ansioso.

   - Devolve isso agora! - Anderson aparece atrás dela e aponta a arma para a cabeça da mesma.

   - Calma, eu não machuquei ele... Por enquanto - ela ri enquanto coloca suas mãos para o alto.

   - Você vai devolver isso agora ou eu atiro!

   - Quanta coragem você tem... Parabéns, finalmente superou sua covardia, entretanto, infelizmente não poderei devolver.

   - Eu sei o que você planeja, mas não vou deixar você fazer isso! - o homem franze a testa.

   - Ah, você sabe? Então o que é?

   - Você não vai voltar no tempo de novo! Eu quebrei a sua arma-portal então não tem como voltar mais - ele diz confiante mas Samantha gargalha o deixando apreensivo.

   - Você acha mesmo que eu só tinha aquela arma? E mesmo se tivesse, eu sei muito bem produzir mais.

- Mas você não vai poder criar uma nova se estiver morta!

   Samantha se irrita e parte para cima do homem que desvia pegando no braço da mulher e a jogando em direção ao chão. Wallace começa a ficar angustiado mas não sabe como parar a briga dos dois, ele olha para Roger sentado com dor e percebe que o outro companheiro também não poderá ajudar. O bruxo tenta usar seus poderes, mas sua mão começa a formigar e sua cabeça começa a doer, o deixando mais despreparado para lidar com a situação que ocorre em sua frente.

   - Só desiste logo!

   - Eu demorei anos para chegar até onde eu estou e você acha que eu vou desistir porque você está me pedindo?! Você é tão ingênuo... - ela consegue o segurar por trás.

   - Só estou querendo te dar uma chance de viver, mas acho que seu único destino será outro.

   Anderson se solta e tomando um pouco de distância se prepara para pegar sua arma mas percebe Wallace instável e se distrai ao ver o companheiro mal. Com isso, a mulher percebe o homem quieto e abaixa lentamente colocando sua mão no chão. Os ramos que seguravam Heitor, Helena e Jennifer, vão se esvaindo aos poucos e retornam lentamente ao redor dos pés do loiro, o prendendo. Os garotos que estavam presos, caem no chão, fracos, e quando o grande nota o que está ocorrendo já é tarde. Samantha se prepara para o ataque e antes dele reagir ela enfia a sua adaga no peito do grande o fazendo gritar com dor e chamando a atenção do garoto que começa a se sentir ainda mais nervoso e por ver seu companheiro ferido, ele acaba perdendo o controle.