CAPÍTULO XVI

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   Wallace se joga na cama e permanece lá sem animo algum:

   - Acho que eu nunca deveria ter voltado para cá! O Luke estava vivo e nunca me disse nada, todo esse tempo vendo meu sofrimento e nunca me disse uma sequer palavra sobre esse assunto... Eu nem fico chateado por ele trabalhar para Samantha, mas por muito mais, ele só mentiu para mim... - ele resmunga para si próprio melancólico - e sobre Jenny? Nem quero saber mais, provavelmente ela também está junto com essa mulher. Eu só queria poder sair daqui! Ajudar a mim mesmo e sair daqui... - o garoto se vira para o lado e começa a soluçar.

    Heitor é convocado junto com Helena para uma reunião particular com a bela dama, e o garoto começa a se preocupar do porquê daquele chamado repentino:

   - Você não contou nada a ela, contou? - o menino cochicha para a irmã.

   - Você tá louco?! Se eu tivesse dito, ela não estaria tão calma - responde no mesmo tom para o irmão.

   - Eu preciso encontrar eles no corredor principal, Helena! O que eu faço?

   - Só sente aqui e eles resolvem isso sozinho... E tente se acalmar ou vai acabar se entregando!

   Anderson começa a passear pelos corredores e toda vez que ele avistava alguém no corredor, ele se escondia em alguma sala. Quando tudo pareceu livre, ele tomou mais liberdade e acelerou o seu passo para procurar seu amigo. Após muita insistência, ele encontrou Wallace preso em uma cela. O garoto estava deitado e o homem tentou chamar sua atenção:

   - Ei! Wallace! - ele diz segurando as barras da cela e continua o chamando até o menino se levantar.

   - O que você quer?! - o bruxo parece zangado.

   - Eu sei que você está chateado comigo, mas eu vim aqui para te resgatar e...

   - Eu não preciso da sua ajuda! - Wallace se aproxima da grade - você é um mentiroso, e eu não quero mais nada que venha de você!

   - Se não quer saber de mim, então por que me salvou?

   - Uma coisa não tem nada haver com a outra! Só fiz o necessário e eu precisava estar aqui... Não nesse estado, mas precisava. Então só vá embora, Luke.

   - Por favor, pare de me chamar assim.

   - Ué, esse não é o seu nome? - o garoto ergue a sobrancelha.

   - Prefiro que me chame de Anderson! Eu gosto quando você me chama de Ander... - o loiro desviou o seu olhar e abaixou sua cabeça. O menino segura a mão do homem na tentativa de o acalmar e o amigo o responde, pegando sua mão de volta - se quiser que eu vá embora, eu irei, mas só depois que eu me explicar, tudo bem? - ele observa o garoto afirmar com a cabeça e se senta de costas para o parceiro - eu queria ter te contado isso a mais tempo, mas nunca achei o momento certo e estávamos tão próximos que fiquei com medo de estragar tudo, porém percebi que só piorei mais a situação, peço desculpas... - deu um longo suspiro - essa confusão toda aconteceu porque Samantha queria toda essa sua "força mágica" e, ela me encontrou, conseguiu me convencer de que seus poderes eram uma ameaça para você e se eu a ajudasse, você gostaria de mim.

   - Então você queria me entregar, porque eu era uma ameaça para mim mesmo e me "salvando", eu gostaria de você?! - o garoto começa a se estressar.

   - É basicamente isso... - o grandão se envergonha - então na noite da explosão, você conseguiu fugir, mas eu e a Jenny fomos pegos. Quando chegamos no laboratório, ela contou a mesma história a nossa amiga e se ela a ajudasse, Samantha daria a ela o que ela mais desejava.

   - Então Jenny também...

   - Sim, ela também está nessa - o homem escuta Wallace resmungar e continua - Nós saímos em busca e te encontramos. Aquela mulher obrigou a realizarem inúmeros exames em você mesmo sendo apenas uma criança e aí você...

   - O que aconteceu comigo?

   - Você faleceu - a voz de Anderson treme mas ele tenta continuar firme, - e Samantha ficou tão revoltada que em semanas ela projetou algo parecido como uma arma-portal e conseguiu voltar no tempo...

   - Em semanas?! Eu demorei anos para saber como voltar no tempo e ela fez uma arma em semanas?! Parece até que ela já sabia sobre isso a muito tempo...

   - Também achei estranho, e ela nunca tentou usar os poderes dela, era como se ela já estivesse fraca, mas continuando - o grande ajeita sua postura - ela não me queria mais, depois da discussão que a gente teve fui deixado de lado, levara apenas a Jenny, que segundo ela tinha uma mente brilhante e a ajudaria no futuro. Eu fui escondido entre a tropa dela e aguardei ansiosamente o dia. Eu consegui te tirar de lá desacordado e te escondi na casa onde você passou todos esses longos anos. Essa casa era para ser minha. Meu avô a construiu pois queria viver longe das pessoas. Ele odiava ver tantas gente junta, principalmente jovens que sempre se reuniam para fazer farra em frente a antiga residência dele - riu - e disse que eu era a pessoa mais confiável para cuidar daquela velha moradia quando ele viesse a falecer, mas eu acho que perdi essa casa para você - os dois permaneceram calados por um breve tempo e Anderson decidiu quebrar o silêncio prosseguindo - eu acho incrível ela não ter te encontrado...

   - Talvez porque eu raramente saía de casa... Eu passei muito tempo mergulhado nos estudos e, talvez eu tenha gastado todas as economias que seu avô deixou no armário do quarto em livros...

   - Ei! Eu que deixei aquilo para suas futuras emergências, como comprar alimentos para te manter vivo! Eu demorei muito tempo para juntar aquilo! - ele franze a testa.

   O garoto dá um sorriso amarelo e se desvia do assunto:

   - O foco não são suas economias, então apenas continue falando... Por que você voltou?

   - Eu precisava acabar com esse ciclo, e vi que Samantha queria recomeçar novamente, porque ela estava cansada de gastar seu tempo atrás de você e se ela voltasse exatamente no dia da explosão, poderia conseguir te capturar novamente. Então eu peguei a arma-portal dela e roubei o colar, que é a chave para ativar o portal.

   - Chave?! Como isso funciona?

   - Eu não sei muito bem, eu sei que essa pedrinha do colar ajuda a controlar os poderes e também os absorvem. Não sei como se utiliza isso mas, Samantha sempre recarregava a arma com isso e foi o que eu fiz, carreguei a arma com a pedrinha e quando ela parecia cheia e pronta para o uso, dei esse colar para você! E então, eu retornei para aquela noite que nos "conhecemos", achei que Samantha não retornaria, mas aquela mulher é implacável e eu iria fazer a mesma coisa que eu já tinha feito mas tentaria parar aquela maluca de alguma forma para deixar-nos em paz e eu vi você atrás da árvore planejando alguma coisa no minímo idiota e precisei para-lo!

   - Então a última parte era realmente verdade e você não mentiu para mim, apenas omitiu que já trabalhara com Samantha... Interessante. Enfim, essa é toda sua históriazinha? - pergunta em um tom arrogante.

   - Wallace, essa é toda a verdade, eu nunca quis te machucar, confie em mim, por favor... Tudo o que eu fiz foi porque eu te amava e queria o seu bem! Eu entendo o motivo de estar tão chateado, eu deveria ter te dado apoio e não dores de cabeça mas, eu fui um idiota e eu não posso simplismente voltar no tempo de novo e evitar que eu seja tão imaturo como fui na primeira vez, entretanto, posso tentar ser o meu melhor agora e mesmo que nunca mais queira olhar na minha cara... - Anderson se vira para o garoto que já está de frente e o encara bem no fundo dos olhos - ...Eu vou tirar você daí e impedir Samantha de uma vez por todas, nem que eu morra tentando fazer isso!

   Os dois escutam passos se aproximando e o homem se afasta de Wallace lentamente olhando para os lados na tentativa de encontrar alguma sala aberta e vazia para se esconder. O bruxo apenas o observa se afastar lentamente e consegue segurar sua mão por alguns segundos:

   - Ander, eu vou estar te esperando... - o loiro cora enquanto o garoto apenas acompanha com os olhos suas mãos se soltarem lentamente, enquanto caminha para trás e retorna para o fundo de sua cela, se sentando no canto escuro e abaixando sua cabeça entre as pernas.

DEVIDO LUGAROnde histórias criam vida. Descubra agora