Capítulo Dezenove

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— Receio que sim. — Alex falou em voz baixa. — Não sabia?

 A expressão de Kara tornou-se dura. Lena não estava feliz e ela sabia disso. Seu comportamento recente já a preocupava, embora tomasse cuidado para não demonstrá-lo. Mas comprar um carro esporte era ir longe demais. Ia ter que falar com ela. Evitara confrontações até então, deixando-a se instalar, mantendo distância enquanto tentava lidar com angústia de ter Lena em casa e vê-la recuar no minuto em que ela entrava na sala. Mas aquilo era demais.

 Não podia deixar que ela se matasse. Levantou-se sem mesmo olhar para Alex, pegou o chapéu no cabide e andou em direção à porta.

— Ela estava indo na direção de casa?— perguntou rispidamente.

— Na direção oposta. —  Alex lhe disse. seus olhos se estreitaram. — Kara, o que está havendo entre vocês duas?

 O loira olhou para a irmã, os olhos brilhantes.

— Minha vida particular não é da sua conta.

 Alex cruzou os braços.

— Sam diz que Lena está ficando desatinada e que você aparentemente não faz nada para impedi-la . Será que está tão decidida assim em se vingar?

— Fala com se ela fosse suicida — Kara disse friamente. — Ela não é.

— Se estivesse feliz, não agiria assim — insistiu a mulher mais velha.—Tem que parar de tentar viver no passado. Já é hora de esquecer o que aconteceu.

— É muito fácil para você dizer isso. — Os olhos negros de Kara chisparam. — Ela me rejeitou e dormiu com outra pessoa!

 Alex olhou-a fixamente.

— Você não tem o meu currículo, mas não é mais santa que eu, irmãzinha. Suponha que Lena não conseguisse aceitar as mulheres de seu passado?

— É diferente — disse a loira, irritada.

— É mesmo?

— Ela era minha namorada. Tomava tanto cuidado para sempre andar na linha. Eu me contive e cerrei os dentes para não amedrontá-la, mas ela se afastava de mim toda vez que eu a tocava. E durante todo esse tempo ela estava dormindo com aquele garoto milionário com cara de pastel. Como acha que me senti? — ela explodiu. — E então ela me disse que eu era pobre demais para satisfazer seus gostos dispendiosos, queria alguém rico.

— Ela não se casou com ele, casou? Foi para a Irlanda e ficou descontrolada, exatamente como está fazendo agora. Teve um acidente, Kara. Com um carro esporte — acrescentou, vendo o horror crescer nos olhos da irmã — exatamente igual ao que está dirigindo agora. Ela sofria por você. Até o pai dela chegou a essa conclusão, finalmente.

 Kara pôs um cigarro na boca e o acendeu.

— Nunca me disseram isso.

— E quando foi que você quis ouvir alguma coisa a respeito dela? — respondeu Alex. — Foi só nos últimos meses que você se acalmou o suficiente para falar de qualquer coisa relacionada aos Luthors.

— Eu a amava! — exclamou Kara. — Você não pode imaginar como me senti quando ela terminou o noivado.

— Sim, posso. Eu estava lá. Sei como se sentiu. Mas você nunca parou para pensar que Lena poderia ter tido uma razão. Ela tentou lhe explicar uma vez, dizer por que tinha terminado o noivado. Você se recusou a ouvir.

— O que havia para ouvir? — Kara perguntou impaciente. — Ela já tinha dito a verdade, logo no início.

— Nunca acreditei naquilo — respondeu Alex. — E nem você teria acreditado, se não estivesse apaixonada pela primeira vez na vida e insegura quanto a sua própria capacidade de segurar Lena. Estava sempre preocupada em perdê-la para outra pessoa. Mesmo para mim. Está lembrada?

 Era difícil discutir com a verdade. Kara sabia que tinha sido possessiva com Lena. Droga, ainda era. Mas como poderia evitar? Ela era uma linda mulher e a loira era uma mulher comum, sem graça. Nunca tinha conseguido compreender por que Lena tinha ficado com ela por tanto tempo.

— Mesmo agora —  Alex continuou em voz baixa — parece-me que está fazendo de tudo para que ela a deixe.

 Kara sorriu com cinismo.

— O que espera que eu faça? que a amarre no porão? — perguntou moderadamente. — Não posso fazê-la ficar se ela não quer. Inferno — riu com frieza —, não posso nem tocá-la. Ela se retraiu na única vez em que tentei fazer amor com ela — disse cruamente, recordando-se. Seus olhos ficaram mais escuros e desviou o olhar. — Não consigo chegar perto dela. Ela tem medo de mim desse jeito.

— Que interessante —  disse Alex, escolhendo as palavras —  que uma mulher tão experiente e vivida possa ter medo de sexo. Não é?

 Kara franziu o cenho

—  O que quer dizer?

 Alex não respondeu. Sorria ligeiramente quando se dirigiu para a porta, mas Kara não podia ver aquele sorriso.

—  Tenho que ir para casa. Até mais irmãzinha. —  E antes que Kara pudesse responder, saiu.

 Kara demorou um minuto para recobrar o controle. Seguiu Alex porta afora sem uma palavra para a secretária, os olhos cheios de preocupação. Alex a tinha atrasado muito. E se Lena tivesse destruído o carro?

 Foi e voltou pela estrada mas não viu vestígio do carro esporte. Mais tarde, foi para casa e quase se ajoelhou de alívio ao ver o carro estacionado na entrada.

 Teve de se esforçar para proceder normalmente quando suas mãos estavam quase tremendo do medo de encontrar a morena em uma vala qualquer. Entrou em casa, arremessou o chapéu no cabide e foi para a sala de jantar, onde Lena estava sentada numa cadeira no meio da longa mesa de cerejeira, falando com Andréia sobre uma nova receita. 


Aprendendo a Amar (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora