Se Lena esperava encontrar Kara menos irritada durante o jantar, estada fadada ao desapontamento. Ela se sentou à cabeceira da mesa como uma mulher de pedra, quase sem falar. Lena não conseguia conversar. Não sabia oque dizer.
Mas tarde, a loira saiu porta afora sem dizer uma palavra, e Lena sentiu um enorme desespero. Se pelo menos pudesse ir até a loira e abraçá-la, explicar como se sentia, por que era como era. Mas será que Kara acreditaria, tendo em vista o passado?
A infelicidade a envolveu como um cobertor. Pegou a bolsa e foi até o carro. Se Kara achava que ela ia ficar sentada sozinha pelo resto da noite, estava enganada. Ligou o motor, acelerou, deu marcha-ré e saiu ventando. A coisa maravilhosa daquele pequeno carro era a deliciosa sensação do controle da velocidade. Ela adorava a estrada sem curvas, o sentimento de liberdade com vento em seus longos cabelos, a excitação de estar sozinha com seus pensamentos.
Kara a odiava, mas isso não era novidade. Sempre a odiara. Ela magoara a loira e a mesma nunca a perdoaria. Não sabia por que tinha concordado em se casar com ela; nunca daria certo. Tinha sido tola em aceitar, para início de conversa, portanto só podia culpar a si mesma por sua infelicidade.
Lena estava tão imersa em seus pensamentos que não notou o sinal de parar até estar muito em cima, e o alto som atordoante de uma buzina de caminhão fez gelar seu coração.
Uma enorme carreta vinha à todo vapor pela estrada. O carrinho de Lena não ia conseguir desenvolver velocidade suficiente para atravessar o cruzamento antes daquela carreta, e havia o risco de ela não conseguir frear a tempo.
Com o coração na boca e a certeza da morte enrijecendo seu corpo, pisou no freio. O carro girou sobre si mesmo, o chiado horrível dos pneus na calmaria do fim da tarde, seu rosto petrificado de terror ao perder o controle, e o céu rodou, rodou, e rodou...
O carro foi parar e uma vala funda e ficou balançando, mas surpreendentemente não virou de cabeça para baixo. Lena permaneceu sentada, abalada, mas sem ferimentos, uma náusea amarga na garganta e o mundo a girar em torno dela. Ouviu-se o barulho de outro carro frear até parar. Uma porta se abriu. Ouviu-se o barulho de pés correndo e então, subitamente, um grito angustiante de uma mulher.
—Lena! — O rosto da mulher era familiar, mas ao mesmo tempo não conseguia localizá-la. Estava rouca, engasgada e furiosa. — Responda-me, você está bem?
Lena sentiu que mãos brancas, frias e trêmulas removiam o cinto de segurança. Sentiu aquelas mesmas mãos correrem sobre seu corpo, à procura de sangue ou ossos quebrados, com rara delicadeza.
— Você está bem? — Kara perguntou com a voz falha. — Está sentindo dor em algum lugar? Pelo amor de Deus, querida, responda!
— Eu... eu estou bem — sussurrou entorpecida. — A porta...?
— Não abre está emperrada. — A loira se abaixou cuidadosamente para segurá-la por debaixo dos braços e, com incrível força, retirou-a do carro. Quando estava no chão, ainda tonta, pegou a morena com imensa ternura e carregou para fora da vala. O motorista do caminhão parara mais abaixo e estava vindo ao encontro delas, mas Kara não parecia vê-lo. Sua expressão estava rigidamente controlada, mas não conseguia fazer os braços pararem de tremer sob o esguio corpo da morena...
O fato finalmente foi registrado na cabeça estonteada de Lena. Ela olhou para cima e viu o rosto de Kara, e sua respiração se agitou. Estava branca como um lençol, apenas os olhos azuis vivos e brilhantes no rosto assustado. A loira abaixou os olhos para ela, os braços puxando-a contra o peito.
— Sua bobinha!... — gaguejou.
Por mais que vivesse, ela sabia que nunca iria esquecer o horror que vira nos olhos de Kara. Ergueu o braço para segurá-la, só pensando em tirar aquela expressão de seu olhar.
— Está tudo bem, Kara — murmurou docemente. A reação da loira a deixou fascinada. Nunca a tinha visto abalada antes. Aquele pequeno furo em sua fria armadura fez com que a morena se sentisse protetora. — Estou bem, Kara —sussurrou. Seus olhos procuraram os dela, estarrecida ante tanta vulnerabilidade. Ela tocou a boca da loira, os dedos macios acariciando-a até deslizarem por entre o espesso cabelo loiro. — Querida, estou bem, de verdade! — Puxou-a para si e colocou suavemente sua boca na da loira, amando a forma com ela se deixava beijar, mesmo que fosse devido ao choque, o que, de fato, era. Por alguns segundos a morena saboreou a novidade, depois alguma coisa se agitou em seu corpo, e sua boca se ergueu, ansiando por um contato mais forte, mais profundo que aquele. Havia anos que não se beijavam de verdade. Ela gemeu baixinho e Kara pareceu sair do transe. O braço se contraiu e sua boca rígida abriu-se faminta contra a da morena.
Sua boca doía, conforme pressionava a de Lena. Murmurando alguma coisa violenta e ininteligível contra seus lábios macios. Afastou-se com visível relutância diante da aproximação do motorista do caminhão, que corria em direção a elas.
— Ela está bem? — o homem perguntou, ofegante pela longa corrida. — Meu Deus, eu estava certo de que ia bater nela...!
— Ela está bem. — Kara respondeu com brevidade. — Mas aquele maldito carro não estará quando for esmagado.
O motorista do caminhão suspirou de puro alívio.
— Puxa, dona, a senhora sabe o que faz — disse com admiração. — Se não tivesse freado seria uma mulher morta, e eu, um condenado.
— Sinto muito. — Lena chorava, os nervos fragilizados por ter escapado da colisão e pelo estranho ardor da boca firme de Kara. — Sinto muito. Não o vi.
O motorista do caminhão, um rapaz de cabelos vermelhos, apenas balançou a cabeça negativamente mal conseguindo recuperar o fôlego.
— Tem certeza de que está bem?
— Estou bem — disse ela, forçando um sorriso ainda trêmulo. — Obrigada por ter parado, não foi culpa sua.
— Isso não faz om que eu me sinta melhor — disse-lhe. — Bem, se tem certeza, vou andando. — Olhou para Kara e quase ofereceu ajuda, mas ver a raiva naqueles olhos azuis não era encorajador.
— Como disse minha esposa, obrigada por ter parado — disse Kara secamente.
O homem mais novo aquiesceu, com um gesto de cabeça, sorriu e se afastou visivelmente aliviado. Estava contente por Lena não estar ferida. Não teria gostado de ter de enfrentar aquela esposa de olhos selvagens desarmado.
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Aprendendo a Amar (Karlena) G!P
FanfictionKara Danvers não esperava que Lena Luthor, filha de um dos maiores magnatas de National Ville, retornasse para ela de joelhos após ter destruído seu coração seis anos atrás. Mas o amor tem razões que a própria razão desconhece... Kara está disposta...