Capítulo Vinte e Seis

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 De início, não quisera tomar o relaxante muscular, mas as dores aumentaram com o passar da noite. Finalmente cedeu, engolindo-os com um gole de chocolate quente. Vestiu os pijamas de cetim cinza e se deitou entre as cobertas. Minutos mais tarde, adormeceu.

 Foi quando os sonhos começaram. Viu-se vezes e mais vezes no carro esporte, mas na Irlanda. Dirigia pelos Alpes com destreza e facilidade até quase chegar ao sopé da montanha. Aí, escorregara num pedaço de gelo, e toda sua experiência ao volante não tinha podido salvá-la. O carro, dessa vez, tinha rolado. E rolado. E rolado.

 Ela estava descendo pela lateral da montanha branca, céu e neve misturados numa descida terrível. Esperou pelo impacto, esperou, gritando...

 Mãos levantaram-na do travesseiro, sacudindo-a gentilmente.

— Está tudo bem — alguém disse. — Está tudo bem. Acorde, Lena, você está sonhando.

 Ela acordou como se um interruptor tivesse sido ligado em seu cérebro. Kara a abraçava, os olhos azuis apertados de preocupação.

— O carro... — ela sussurrou. — Estava desabando montanha abaixo.

— Estava sonhando, querida — Kara afastou uma mecha do cabelo do rosto corado e dos ombros. — Apenas sonhando. Está em segurança, agora.

— Com você, sempre estive — disse involuntariamente, encostando  a cabeça no ombro da loira. Ela suspirou pesadamente e relaxou, segura. Moveu o rosto e Kara enrijeceu, e a morena se deu  conta de que estava repousando de encontro à pele nua.

 Com a luz acesa, Kara estava sentada ao seu lado na cama, o cabelo despenteado. Ela quase perdeu a presença de espírito ao afastar o rosto de seu musculoso antebraço, mas respirou aliviada quando viu que ela estava de top.

 Ela vestia calças de pijama de seda escura, mas o abdômen musculoso estava completamente nu, e só de olhar para ele perdia o fôlego.

 Lena sentiu a respiração lhe faltar diante da proximidade. Ela sabia, sem que lhe dissessem, que a loira nada usava por baixo das calças do pijama, e isso fez com que se sentisse ameaçada.

— Tomou os comprimidos que o médico receitou? — perguntou a Kara, em voz baixa.

— Sim. Fizeram com que a dor diminuísse, mas agora estou tendo pesadelos. — Ela riu sem jeito. Afastou o farto cabelo, olhando-a apreensivamente. — Acordei você?

— Na realidade, não. — Ela suspirou. — Não tenho dormido bem esses dias. Acordo com qualquer coisa. Ouvi você gritar.

 Lena tampouco dormia bem, e provavelmente pela mesma razão. Abraçou os joelhos, enroscando-se para apoiar a cabeça neles.

— O acidente de hoje trouxe de volta o da Irlanda — murmurou estonteada. — Estava machucada e fiquei dormindo e acordando. — Encostou a testa no cetim macio. — Disseram-me que chamei por você dia e noite depois que me levaram para o hospital — disse a morena, sem essa intenção.

— Eu, e não seu amante? — perguntou friamente.

— Eu nunca tive um amante, Kara — disse timidamente.

— Claro. E eu sou a rainha da Escócia. — Ergueu-se, olhando-a meio irritada. Ela estava linda naquela camisola. Kara nunca pensara sobre o que ela usaria para dormir, mas agora tinha certeza de que não conseguiria pensar em outra coisa. A camisola tinha um decote baixo que lhe permitira uma visão tentadora dos seios firmes. Eles eram fartos, pensou especulativamente, muito bem proporcionados, a se confiar no contorno sob a roupa de dormir. Semicerrou os olhos e teve de desviar a vista, porque queria olhar para eles com tal sofreguidão que a deixou rígida.

 Virou-se para ir embora.

— Se você está bem, vou tentar dormir. Tenho um compromisso no banco amanhã cedo, na cidade.

 Lena a viu ir embora com intensa tristeza. A distância entre elas se aprofundava o tempo todo, e a morena a fazia mais infeliz a cada dia que passava.

— Obrigada por ter vindo me ver— disse.

 Kara parou com a mão na maçaneta, o olhar preocupado.

— Sei que você preferiria morrer a fazer isso — disse vagarosamente, — mas se sentir medo de novo, pode vir ficar comigo. — Ela riu com frieza. — É suficientemente seguro, caso você esteja preocupada. Não vou colocar meu ego em risco novamente com você.

 Ela se foi antes que ela pudesse contradizê-la. Lena estremeceu diante da dor que aquelas palavras revelaram. Sentia-se pior do que nunca, sabendo o quanto  a magoara.

 E era tão desnecessário. Tudo o que tinha a fazer era contar a ela. Pelo amor de Deus, tinha 27 anos! Sim, e fora protegida obsessivamente pelo pai louco por dinheiro, que tivera medo de perdê-la para uma mulher pobre. Ela sequer tinha sido beijada intimamente até a noite do noivado. Perguntava-se se a loira sabia disso.

 Ela provavelmente não sabia, conclui. Levantou-se da cama, acendeu a luz e dirigiu-se para a porta. Talvez tivesse chegado a hora de contar.

 Não lhe ocorrera até se encontra no hall, descalça, em frente a porta de Kara, que três da manhã não era a melhor hora para trocar intimidades secretas com uma mulher que estava sedenta por satisfação física desde o casamento. Lena hesitou, mordiscando o lábio inferior. A luz ainda estava acesa no quarto da loira, mas o silêncio era total.

 Franziu a testa, pensando no que fazer, e afastou o cabelo rebelde com um suspiro

— Ela não está aí dentro — falou uma voz baixa e divertida às suas costas.

 Lena se virou, assustada e deu de cara com a loira, segurando um copo de uísque.



Aprendendo a Amar (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora