De início, não quisera tomar o relaxante muscular, mas as dores aumentaram com o passar da noite. Finalmente cedeu, engolindo-os com um gole de chocolate quente. Vestiu os pijamas de cetim cinza e se deitou entre as cobertas. Minutos mais tarde, adormeceu.
Foi quando os sonhos começaram. Viu-se vezes e mais vezes no carro esporte, mas na Irlanda. Dirigia pelos Alpes com destreza e facilidade até quase chegar ao sopé da montanha. Aí, escorregara num pedaço de gelo, e toda sua experiência ao volante não tinha podido salvá-la. O carro, dessa vez, tinha rolado. E rolado. E rolado.
Ela estava descendo pela lateral da montanha branca, céu e neve misturados numa descida terrível. Esperou pelo impacto, esperou, gritando...
Mãos levantaram-na do travesseiro, sacudindo-a gentilmente.
— Está tudo bem — alguém disse. — Está tudo bem. Acorde, Lena, você está sonhando.
Ela acordou como se um interruptor tivesse sido ligado em seu cérebro. Kara a abraçava, os olhos azuis apertados de preocupação.
— O carro... — ela sussurrou. — Estava desabando montanha abaixo.
— Estava sonhando, querida — Kara afastou uma mecha do cabelo do rosto corado e dos ombros. — Apenas sonhando. Está em segurança, agora.
— Com você, sempre estive — disse involuntariamente, encostando a cabeça no ombro da loira. Ela suspirou pesadamente e relaxou, segura. Moveu o rosto e Kara enrijeceu, e a morena se deu conta de que estava repousando de encontro à pele nua.
Com a luz acesa, Kara estava sentada ao seu lado na cama, o cabelo despenteado. Ela quase perdeu a presença de espírito ao afastar o rosto de seu musculoso antebraço, mas respirou aliviada quando viu que ela estava de top.
Ela vestia calças de pijama de seda escura, mas o abdômen musculoso estava completamente nu, e só de olhar para ele perdia o fôlego.
Lena sentiu a respiração lhe faltar diante da proximidade. Ela sabia, sem que lhe dissessem, que a loira nada usava por baixo das calças do pijama, e isso fez com que se sentisse ameaçada.
— Tomou os comprimidos que o médico receitou? — perguntou a Kara, em voz baixa.
— Sim. Fizeram com que a dor diminuísse, mas agora estou tendo pesadelos. — Ela riu sem jeito. Afastou o farto cabelo, olhando-a apreensivamente. — Acordei você?
— Na realidade, não. — Ela suspirou. — Não tenho dormido bem esses dias. Acordo com qualquer coisa. Ouvi você gritar.
Lena tampouco dormia bem, e provavelmente pela mesma razão. Abraçou os joelhos, enroscando-se para apoiar a cabeça neles.
— O acidente de hoje trouxe de volta o da Irlanda — murmurou estonteada. — Estava machucada e fiquei dormindo e acordando. — Encostou a testa no cetim macio. — Disseram-me que chamei por você dia e noite depois que me levaram para o hospital — disse a morena, sem essa intenção.
— Eu, e não seu amante? — perguntou friamente.
— Eu nunca tive um amante, Kara — disse timidamente.
— Claro. E eu sou a rainha da Escócia. — Ergueu-se, olhando-a meio irritada. Ela estava linda naquela camisola. Kara nunca pensara sobre o que ela usaria para dormir, mas agora tinha certeza de que não conseguiria pensar em outra coisa. A camisola tinha um decote baixo que lhe permitira uma visão tentadora dos seios firmes. Eles eram fartos, pensou especulativamente, muito bem proporcionados, a se confiar no contorno sob a roupa de dormir. Semicerrou os olhos e teve de desviar a vista, porque queria olhar para eles com tal sofreguidão que a deixou rígida.
Virou-se para ir embora.
— Se você está bem, vou tentar dormir. Tenho um compromisso no banco amanhã cedo, na cidade.
Lena a viu ir embora com intensa tristeza. A distância entre elas se aprofundava o tempo todo, e a morena a fazia mais infeliz a cada dia que passava.
— Obrigada por ter vindo me ver— disse.
Kara parou com a mão na maçaneta, o olhar preocupado.
— Sei que você preferiria morrer a fazer isso — disse vagarosamente, — mas se sentir medo de novo, pode vir ficar comigo. — Ela riu com frieza. — É suficientemente seguro, caso você esteja preocupada. Não vou colocar meu ego em risco novamente com você.
Ela se foi antes que ela pudesse contradizê-la. Lena estremeceu diante da dor que aquelas palavras revelaram. Sentia-se pior do que nunca, sabendo o quanto a magoara.
E era tão desnecessário. Tudo o que tinha a fazer era contar a ela. Pelo amor de Deus, tinha 27 anos! Sim, e fora protegida obsessivamente pelo pai louco por dinheiro, que tivera medo de perdê-la para uma mulher pobre. Ela sequer tinha sido beijada intimamente até a noite do noivado. Perguntava-se se a loira sabia disso.
Ela provavelmente não sabia, conclui. Levantou-se da cama, acendeu a luz e dirigiu-se para a porta. Talvez tivesse chegado a hora de contar.
Não lhe ocorrera até se encontra no hall, descalça, em frente a porta de Kara, que três da manhã não era a melhor hora para trocar intimidades secretas com uma mulher que estava sedenta por satisfação física desde o casamento. Lena hesitou, mordiscando o lábio inferior. A luz ainda estava acesa no quarto da loira, mas o silêncio era total.
Franziu a testa, pensando no que fazer, e afastou o cabelo rebelde com um suspiro
— Ela não está aí dentro — falou uma voz baixa e divertida às suas costas.
Lena se virou, assustada e deu de cara com a loira, segurando um copo de uísque.
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Aprendendo a Amar (Karlena) G!P
FanfictionKara Danvers não esperava que Lena Luthor, filha de um dos maiores magnatas de National Ville, retornasse para ela de joelhos após ter destruído seu coração seis anos atrás. Mas o amor tem razões que a própria razão desconhece... Kara está disposta...