Capítulo Trinta e Oito

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 Kara percebeu o movimento e virou a cabeça.

— Você precisa de permissão para me tocar, Lena?— Perguntou, em tom profundo, lento e delicado.

— Não sei — ela respondeu. — Preciso?

— Não. — A loira olhou, paciente e divertida, até que a morena tornou a mover a mão em direção à dela e a tocou, vibrando ante a força quente de seus dedos ao se entrelaçarem aos da loira, apertando-os.

 Sorriu timidamente e voltou sua atenção para o filme. Mas nada ouviu nem nada viu porque o polegar de Kara esfregava gentilmente sua palma úmida. Sentiu o movimento como se fosse uma marca de ferro quente, queimando seu sangue, tornando-a faminta. Os lábios se entreabriram quando recordou a última vez em que tinham estado naquele sofá e o que tinham feito. Lembrou-se do couro frio contra suas costas, do peso do corpo de Kara sobre o dela, numa intimidade que ainda fazia com que seu rosto ficasse escarlate.

— Gosta de mistérios? — perguntou, para ter alguma coisa que dizer numa trégua da cena de batalha.

— Com certeza — disse a loira, á vontade. — Tenho alguns suspenses do Hitchcock e uma cópia do  Arsênico e alfazema, com Cary Grant.

— Adoro esse — disse ela, pensativa. — Ri de chorar na primeira vez em que o vi.

— E os faroestes do John Wayne? — perguntou com um olhar de soslaio.

 Lena riu.

— Vi Hondo tantas vezes posso latir junto com o cão.

— Eu também. — Kara a examinou por um longo momento, admirando sua aparência no vestido vermelho, apreciando o comprimento do cabelo escuro. — Sempre tivemos muito em comum, Lena. Principalmente o violão. — Ela passou o polegar pelas pontas dos dedos da morena. — Você ainda toca?

 Lena balançou a cabeça negativamente.

— Não mais. Perdi... o gosto.

— Eu também — confessou, porque depois do fim do noivado não suportava as lembranças que o violão trazia. — Talvez possamos voltar a praticar juntas um dia desses.

— Seria bom. — Ela sorriu para a loira, que lhe retribuiu o sorriso. E o aparelho de televisão parecia estar a léguas de distância, à medida que os sorrisos foram murchando, e o olhar foi ficando longo e intensamente excitante.

 Os dedos de Kara apertaram fortemente os da morena e ela inspirou profundamente.

— Venha aqui, meu amor — disse baixinho.

 Lena vibrou com a forma como a esposa disse o carinhoso termo, porque raramente o empregava. A loira fazia com que ela se sentisse jovem e vulnerável. Ela chegou mais perto, com controlada ansiedade, e se enroscou de encontro a Kara com a cabeça descansando naturalmente em seu ombro.

— Não vá cair no sono — murmurou secamente.

— Não estou com sono — respondeu suspirando. Ela sorriu e esfregou o rosto na esposa. — Você tem cheiro de baunilha.

— Você tem cheiro de rosas — Kara murmurou. — É um aroma que nunca associei a oura pessoa que não seja você.

— É o perfume que  eu usava — ela disse.

 Kara retirou a mão e fez uma pausa para apagar o cigarro. Depois, ergueu-a e a virou para si, de forma que ficasse deitada em seu colo, com a cabeça em seu peito.

— Se preferir outro filme, não me importo — disse baixinho, sabendo perfeitamente que o filme era a última preocupação de qualquer uma das duas.

 Lena não estava dando a menor importância para o que se passava na tela, porque tudo que vira desde o começo do filme fora o duro perfil de Kara. Mas não disse isso.

— Este está bom — assegurou.

— Certo.

 A loira alisou os longos cabelos, segurando a mão delgada contra seu peito largo enquanto fazia de conta que estava interessada no filme. Ela agora estava consciente da presença de Lena, de seu cheiro, da maciez dos seios apertados contra seu toráx forte, da mão quente a tocá-la.

 A carícia dos dedos da morena fez com que seu coração batesse mais rápido. Kara sentiu as primeiras notas de desejo no corpo vigoroso e, ao olhar para baixo e pressentir a ânsia nos olhos macios, deixou de lado toda a dissimulação. Sem nenhuma pressa, abriu os botões perolados de sua camisa e, devagar, guiou a mão de Lena até seu abdômen musculoso e quente, induzindo-a a tocá-la. Enquanto os dedos da morena trabalhavam em seu corpo, sua boca começou a passear pela testa da esposa, nas pálpebras fechadas, no nariz, na face, no queixo e no pescoço da morena.

 Lena sentiu sua respiração se tornar mais rápida à medida que chegava mais perto. O nariz da loira roçou o dela. A boca começou a procurar os lábios dela, e quando os encontrou o toque foi explosivo.

 Lena a ouviu expirar fortemente enquanto sua boca se tornava autoritária, íntima. Os dedos se emaranharam nos cabelos em sua nuca, fazendo-a arquear o pescoço de forma que sua boca fosse ao encontro da loira, respondendo seu ardor faminto.

 O coração da morena enlouqueceu. A respiração rápida e irregular se igualou à da esposa. Lena enterrou as unhas em seu abdômen e Kara gemeu contra os lábios dela.

— Desculpe — balbuciou.

 A loira pegou seu lábio inferior entre os dentes e percorreu-o com a língua.

— Gostei disso — murmurou, e sua boca abria a dela, muito devagar, enquanto se deitava ao comprido a seu lado. Kara suspirou, e Lena sentiu sentiu seu corpo da cabeça aos dedos dos pés, enquanto o beijo se tornava mais quente, mais vagaroso e mais intensa. — Me beije com força, Lena — falou com a voz rouca.

 Lena se ergueu, suas inibições desaparecendo sob as profundas carícias. Seus dedos penetraram no espesso cabelo loiro e apreciaram sua calma enquanto sua boca respondia a da esposa.

 O filme fazia um barulho estridente, as cenas de batalhas gritavam na quietude, mas nenhuma delas ouviu. Os beijos se tornaram mais longos, anestesiantes, enquanto as mãos de Kara tentavam abrir os botões e fechos. Lena sentiu os seios nus contra os seus sem protestar. Era delicioso, o toque de pele contra pele, como tinha sido havia  algumas noites. Mas, desta vez, os velhos medos tinham diminuído bastante, porque agora sabia que o que a esposa fez não ia machucá-la. Ela sabia o quanto ela podia ser delicada e paciente.


Aprendendo a Amar (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora