Capítulo Quarenta e Cinco

1.9K 261 48
                                    

 Do outro lado hall, Kara que apenas regressara do Wyoming também estava acordada, sentindo falta da respiração familiar de Lena, da sensação de seu corpo macio contra o dela na escuridão. A loira se sentiu culpada e doente pela forma como tinha falado com a esposa, pelas lágrimas e a mágoa que tinha causado. Mas ela também estava magoada. Pensara que Lena a amava e a mesma se casara com ela apenas porque tinha perdido sua casa e segurança. A morena a estava fazendo de boba novamente, mantendo outra pessoa na obscuridade. O fato de ser seu patrão só piorava as coisas. Agora sabia porque ela brigara para manter o emprego. Lena estava apaixonada pelo patrão playboy, por isso se recusara a ficar em casa. E agora ela tinha visto a prova de sua deslealdade. Mal conseguia suportar a dor. Não sabia como ia continuar a viver com ela depois do que vira.

 Por um minuto, considerou a possibilidade de confrontá-la com a verdade. Mas de que serviria? Ela a tinha confrontado com Jack Spheer e a morena tinha mentido. Ela mentira naquela ocasião e vinha mentindo o tempo todo desde então. Kara tinha sido conduzida a uma falsa sensação de segurança. Ela tinha realmente começado a confiar nela de novo. Ainda bem que havia ido à cidade sem avisar para trazê-la para casa. Agora a morena não poderia enganá-la outra vez. A loira vira a verdadeira Lena e se sentia enojada. Sabia que a morena era virgem quando se casara com ela, mas agora que Kara a livrara do obstáculo de sua primeira vez, ela provavelmente estava desfrutando uma relação totalmente nova com o patrão.

 E era a última gota. Com um suspiro raivoso, fechou os olhos e se forçou a não pensar mais nela.

 Na manhã seguinte, desceu com uma expressão devidamente estudada, determinada a não permitir que Lena percebesse sua derrota emocional. Kara morreria antes de mostrá-la.

 Lena também levantara cedo, e estava tomando café preto e beliscando uma torrada. Olhou para a loira quando entrou na sala de jantar, os olhos dela inchados por  ter chorado a noite toda, com uma expressão de  esperançosa incerteza.

— Não quis dizer o que disse ontem à noite, quis? — Ela perguntou. Os olhos verdes procuraram os dele. — Quis, Kara?

 A loira passou por ela e se sentou displicentemente à cabeceira da mesa, pondo café na xícara antes de responder.

 — Quis dizer cada palavra, Lena — ela respondeu. Serviu-se de bacon, ovos e biscoitos, indiferentemente, como se ela fosse uma colega de trabalho. — Quer ovos?

 Lena não podia sequer vê-los, muito menos comê-los. Há muito perdera o apetite, e estava a ponto de botar para fora os pequenos pedaços da torrada que comera. Balançou a cabeça com tristeza. 

Os olhos azuis se estreitaram enquanto a examinava. Estava abatida . Os cabelos longos eram exuberantes, mas o rosto estava pálido e macilento, mesmo com a maquiagem.

— Não estou com muita fome — acrescentou.

— Como quiser. — Kara não deu a perceber sua própria falta de apetite. Ficou em silêncio o tempo necessário para limpar o prato, mas podia sentir os olhos de Lena e eles a deixavam desconfortável.

— Que  tipo de relação tem em mente para nós agora? — a morena perguntou com o resto do orgulho que lhe restava.

 Kara empurrou o prato para o lado e bebeu o café.

— Você é minha esposa — disse friamente. — Vai morar na minha casa e vou tomar conta de você. Mas vamos ter quartos separados, e vidas separadas de agora em diante.

 Os olhos da morena se fecharam numa onda de tristeza e vergonha. E quanto ao bebê que estou carregando, ela queria perguntar. E quanto a nosso filho?

— Certamente não vai se incomodar de dormir sozinha — provocou. — Uma vez que já satisfez sua curiosidade.

— Não me incomoda — ela disse, rouca. Não conseguiu terminar o café. O cheiro virou-lhe o estômago. Levantou-se vagarosamente. — Vou chegar atrasada se não sair agora.

 Os olhos da loira faiscaram.

— Deus nos livre de que você chegue atrasada ao... trabalho — a loira disse.

 Lena estava enjoada demais para notar a hesitação ou o veneno em seu tom. Saiu quando pôde, esforçando-se para não demonstrar fraqueza. Era a única coisa que não podia se permitir no momento.

  Lena foi trabalhar e ficou violentamente enjoada no banheiro, no minuto em que chegou lá. Passou lenços de papel molhado pelo rosto e se sentou, quieta, em sua mesa, até que a náusea estivesse sob controle. Ia levar tempo para se conformar com a nova frieza de Kara. Era como ter vislumbrado o céu para, em seguida, ser forçada e retornar à realidade. Ela não conseguia entender por que Kara escolhera aquele modo para lhe dar o troco. Ia ser quase impossível ficar com ela, mas não tinha para onde ir. Ainda não, pelo menos por enquanto. E certamente não antes de passar a primeira fase do enjôo matinal e ela poder se mexer melhor do que agora.

 Quando o patrão e Lucy chegaram ao escritório, ela tinha o enjôo temporariamente sob controle. Mas trabalhar até tarde era difícil para ela, e tinha perdido completamente o apetite. À medida que se passavam os dias, o simples ato de pôr um pé adiante do outro se tronara um sacrifício.

 Sam apareceu certa noite e elas decidiram os detalhes para a festa de aniversário de Alex. Sam percebeu a atmosfera e quase fez um comentário, mas Lena parecia tão abatida que ela mordeu a língua e ficou quieta. Obviamente, alguma coisa dera errado.

Aprendendo a Amar (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora