Capítulo Três

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— Veio tripudiar, Kara? — Perguntou com calmo amargor.

— Não me dá nenhum prazer vê-la humilhada — a loira respondeu, com o queixo erguido e os olhos apertados. — Sam me disse que você estava sozinha.

 Ela suspirou, baixando os olhos para suas botas empoeiradas e gastas.

— Tenho estado sozinha há bastante tempo. Aprendi a viver assim. — Mexeu-se, inquieta. — Há muita gente no leilão?

— O jardim está cheio —  Tirou o chapéu e o segurou numa das mãos, enquanto passava a outra pelo cabelo loiro.

 Lena olhou para cima, pousando os olhos desamparados nas linhas do rosto da mulher a sua frente, na boca bem detalhada que beijara tão sofregamente seis anos atrás. A morena fora tão desesperadamente apaixonada por Kara naquela época. Mas a loira tinha se revelado ousada demais na noite do noivado, e seu desejo a amedrontara. Lutara para se desvencilhar dela, e a lembrança de como tudo tinha sido entre elas, até o medo se tornar tangível, era formidável. Ela desejara tão mais do que tinham experimentado, mas tinha mais razões do que a maior parte das mulheres para temer a intimidade. Kara, porém, não sabia disso, e a morena fora tímida demais para explicar seu comportamento.

 Virou-se com um gemido angustiado.

— Se conseguir suportar minha companhia, preparo-lhe um copo de chá gelado.

 Kara hesitou, mas só por um instante.

— Seria bom — disse em voz baixa. — Está um calor infernal lá fora.

 Foi atrás da morena, inconscientemente fechando a porta. Mas parou atônita ao ver com o que ela tinha de lidar. Kara se enrijeceu e quase praguejou em voz alta.

 O apartamento improvisado só tinha dois quartos. Estavam vazios, a não ser por um sofá surrado, uma cadeira, uma mesa de café em mau estado e um pequeno aparelho de televisão. As roupas estavam aparentemente guardadas nas malas, porque não se via nenhum vestígio de cômoda. na cozinha, havia um forninho, uma chapa elétrica e uma pequena geladeira. Isto, enquanto ela estava acostumada a empregados, vestidos de seda, pratarias e móveis rústicos.

— Meu Deus — sussurrou.

  A morena ia se virar, mas ela não se voltou ao sentir pena na voz profunda de Kara.

— Não preciso de compaixão, obrigada — disse secamente. — Não foi culpa minha termos perdido a casa, foi do meu pai. E afinal a casa era dele. Posso abrir meu próprio caminho no mundo.

— Não assim, raios! — Bateu com o chapéu na mesa do café e tirou o bule de chá das mãos de Lena, pondo-o de lado. Suas mãos longas, calejadas pelo trabalho, seguraram os pulsos dela. Olhou-a com determinação. — Não ficarei parada vendo-a tentar sobreviver numa ratoeira como esta. James Olsen e sua caridade que vão pra casa do caralho.

 Lena estava chocada, não apenas pelo que a loira dizia, mas por sua atitude.

— Não é uma ratoeira — Lena hesitou.

— Comparado ao que você estava acostumada, é — retrucou. Seu peito subiu e desceu com um suspiro irritado. — Pode ficar comigo por enquanto.

 Lena ficou vermelha como um pimentão.

— Na sua casa, sozinha com você?

 A loira ergueu o queixo.

— Na minha casa — concordou — Não na minha cama. Não terá que me pagar por um teto sobre a sua cabeça. Lembro-me com bastante clareza de que não gosta de minhas mãos em você.

 Lena teve vontade de se enfiar num buraco diante da amarga ironia daquelas palavras. Não conseguia encarar aqueles olhos azuis ou desafiar as secas palavras sem causar embaraço a ambas. De todo modo, tinha sido há muito tempo. Já não importava agora.

 Em vez disso, olhou para a camisa dela, para os volumosos seios sobre a seda branca. Ela deixara que Lena tocasse ali, uma vez. Na noite do noivado, tinha desabotoado a camisa e permitido que as mãos da morena fizessem o que bem entendessem. Beijara-a como se morresse de vontade de beijá-la, mas tinha assustado muito a menor quando os beijos foram longe demais.

Aprendendo a Amar (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora