— O que fez com meu carro? Não estava na estrada quando passamos pelo cruzamento.
Os olhos azuis se viraram para Lena e se desviaram.
— Não quer falar sobre isso, quer?
— Sou uma mulher com problemas sexuais — Disse a morena prontamente. — Vamos deixar as coisas assim, a não ser que queira o divórcio.
— Eu quero uma mulher —disse asperamente. — Quero filhos. — O queixo endureceu quando levou o cigarro à boca. — Oh, meu Deus, quero filhos, Lena — disse num tom levemente vulnerável.
Nunca tinha mencionado aquele assunto, a não ser logo nos primeiros dias de sua relação. Lena recostou a cabeça contra o assento, mordiscando o lábio inferior, o olhar no colo.
— Provavelmente não vai acreditar, mas eu também, Kara.
A loira se virou para olhar o rosto abatido, seus olhos escuros e calmos.
— Como pretendia fazer isso sem ajuda?
As mãos de Lena apertaram a bolsa
— Tenho medo — disse suavemente, porque, pelo menos uma vez, estava cansada demais para mentir, para encontrar desculpas.
Houve uma longa pausa.
— Bem, o parto não é mais o terror de antigamente, pelo que ouço dizer — respondeu, entendendo de maneira equivocada. — E existem remédios para amenizar a dor.
Lena a olhou, chocada.
— O quê foi?
Era incrível que a loira acreditasse que ela tinha medo de ter um filho. Olhou-a sem se mover.
— E também não há necessidade de ser imediatamente — disse obstinada, desviando o olhar como se o assunto a embaraçasse. E provavelmente embaraçava. Lena se lembrou de que a loira sempre achara difícil falar de coisas como gravidez e que nunca discutia assuntos íntimos. A seu próprio modo, era tão reticente quanto ela. Era uma das coisas que sempre gostara em Kara.
Ainda estava tentando compreender o que a loira tinha querido dizer quando ela deu uma última tragada e apagou o cigarro. Havia um rubor desconcertado em seu rosto que a impedia de olhar para a morena.
— Podia conversar com médico sobre o que deve tomar — disse sucintamente. — Ou eu poderia usar alguma coisa. Não precisa engravidar se não quiser. Não vou forçar você a ter um filho.
Lena ficou vermelha como um pimentão e olhou pela janela, as mãos trêmulas e frias, ao finalmente compreender o caráter íntimo do que a loira acabara de dizer. Limpou a garganta.
— Eu... podemos ir para dentro, agora? — sussurrou. — Estou cansada e com dores no corpo todo.
— É difícil para mim também abordar esse assunto — disse calmamente. — Mas queria que você soubesse. Que pensasse no assunto. Se é por isso que não me deixa tocar em você...
— Ah, não! — Enterrou o rosto nas mãos.
Kara suspirou ruidosamente.
— Sinto muito. Não devia ter dito nada. — Desceu do carro e deu a volta para ajudá-la. — O médico lhe deu algum relaxante muscular ou preciso ir até a farmácia comprar? — perguntou.
— Deu-me algumas amostras — disse a morena. Caminhando ao lado de Kara, subiu os degraus da escada, envergonhada pela forma como tinha mudado de assunto e fugido da conversa. Ela queria lhe dizer o que havia de errado. Mas falar sobre isso com a loira era tão difícil.
— Suba e procure dormir cedo — disse, tão distante com se estivesse falando com uma desconhecida. — Vou pedir a Andréia para lhe levar um chocolate quente. Quer alguma coisa para comer.
— Não, obrigada. — Ela parou ao pé da escada e alisou o corrimão. Não queria ir. Seus olhos ergueram-se até os de Kara do outro lado do hall e ela fitou com um anseio impossível e uma vergonha angustiada. — Não devia ter me casado com você — sussurrou roucamente. — Nunca tive a intenção de fazer você infeliz.
O queixo da loira enrijeceu.
— Tampouco eu tive a intensão de fazê-la infeliz, mas foi o que acabei fazendo.
Lena hesitou.
— Ainda não me contou o que fez com o carro — disse, depois de um minuto. — Posso tê-lo de volta?
— Com certeza — disse, erguendo o queixo e apertando os lábios. — Podemos transformá-lo num cinzeiro ou numa peça de arte moderna.
As sobrancelhas da morena se ergueram.
— O que quer dizer com isso?
Kara encolheu os ombros.
— O tamanho dele agora é de aproximadamente 13cm de largura por 1m de comprimento. Acho um pouco grande para um cinzeiro, mas emoldurado e pendurado na parede teria um ótimo efeito decorativo.
— Do que está falando? O que fez com ele?
— Dei-o ao velho Winn.
Lena virou a cabeça ligeiramente quando registrou as palavras.
— O dono do ferro-velho.
Kara sorriu levemente.
— Isso mesmo. Ele acabou de comprar um super esmagador. Você sabe, uma daquelas máquinas enormes usadas para transformar carros velhos em sucata...
A morena corou.
— Você fez de propósito!
— Pode ter certeza disso! — ela disse, com um desafio metálico no olhar. — Se eu tivesse levado de volta para a revendedora, nada me garante que você não ir lá correndo para comprá-lo de novo. Assim — acrescentou, puxando a aba do chapéu até quase cobrir os olhos — garanto que não.
— Ainda estou devendo dinheiro! Era um carro muito caro!
Kara sorriu agradavelmente
— Estou certa de que vai conseguir explicar tudo isso à seguradora. Pressão atmosférica? Cupins...?
Lena não consegui encontrar uma resposta enquanto a loira se encaminhava para a cozinha.
Subiu as escadas fumegando. Tinha sido um dia perturbador, sob todos os aspectos, e não estava melhorando. Sua cabeça girava com perguntas e problemas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aprendendo a Amar (Karlena) G!P
FanfictionKara Danvers não esperava que Lena Luthor, filha de um dos maiores magnatas de National Ville, retornasse para ela de joelhos após ter destruído seu coração seis anos atrás. Mas o amor tem razões que a própria razão desconhece... Kara está disposta...