Capítulo Vinte e Cinco

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— O que fez com meu carro? Não estava na estrada quando passamos  pelo cruzamento.

 Os olhos azuis se viraram para Lena e se desviaram.

— Não quer falar sobre isso, quer?

— Sou uma mulher com problemas sexuais — Disse a morena prontamente. — Vamos deixar as coisas assim, a não ser que queira o divórcio.

— Eu quero uma mulher —disse asperamente. — Quero filhos. — O queixo endureceu quando levou o cigarro à boca. — Oh, meu Deus, quero filhos, Lena — disse num tom levemente vulnerável.

 Nunca tinha mencionado aquele assunto, a não ser logo nos primeiros dias de sua relação. Lena recostou a cabeça contra o assento, mordiscando o lábio inferior, o olhar no colo.

— Provavelmente não vai acreditar, mas eu também, Kara.

 A loira se virou para olhar o rosto abatido, seus olhos escuros e calmos.

— Como pretendia fazer isso sem ajuda?

 As mãos de Lena apertaram a bolsa

— Tenho medo — disse suavemente, porque, pelo menos uma vez, estava cansada demais para mentir, para encontrar desculpas.

 Houve uma longa pausa.

— Bem, o parto não é mais o terror de antigamente, pelo que ouço dizer — respondeu, entendendo de maneira equivocada. — E existem remédios para amenizar a dor.

 Lena a olhou, chocada.

— O quê foi?

 Era incrível que a loira acreditasse que ela tinha medo de ter um filho. Olhou-a sem se mover.

— E também não há necessidade de ser imediatamente — disse obstinada, desviando o olhar como se o assunto a embaraçasse. E provavelmente embaraçava. Lena se lembrou de que a loira sempre achara difícil falar de coisas como gravidez e que nunca discutia assuntos íntimos. A seu próprio modo, era tão reticente quanto ela. Era uma das coisas que sempre gostara em Kara.

 Ainda estava tentando compreender o que a loira tinha querido dizer quando ela deu uma última tragada e apagou o cigarro. Havia um rubor desconcertado em seu rosto que a impedia de olhar para a morena.

— Podia conversar com médico sobre o que deve tomar — disse sucintamente. — Ou eu poderia usar alguma coisa. Não precisa engravidar se não quiser. Não vou forçar você a ter um filho.

 Lena ficou vermelha como um pimentão e olhou pela janela, as mãos trêmulas e frias, ao finalmente  compreender o caráter íntimo do que a loira acabara de dizer. Limpou a garganta.

— Eu... podemos ir para dentro, agora? — sussurrou. — Estou cansada e com dores no corpo todo.

— É difícil para mim também abordar esse assunto — disse calmamente. — Mas queria que você soubesse. Que pensasse no assunto. Se é por isso que não me deixa tocar em você...

— Ah, não! — Enterrou  o rosto nas mãos.

 Kara suspirou ruidosamente.

— Sinto muito. Não devia ter dito nada. — Desceu do carro e deu a volta para ajudá-la. — O médico lhe deu algum relaxante muscular ou preciso ir até a farmácia comprar? — perguntou.

— Deu-me algumas amostras — disse a morena. Caminhando ao lado de Kara, subiu os degraus da escada, envergonhada pela forma como tinha mudado de assunto e fugido da conversa. Ela queria lhe dizer o que havia de errado. Mas falar sobre isso com a loira era tão difícil.

— Suba e procure dormir cedo — disse, tão distante com se estivesse falando com uma desconhecida. — Vou pedir a Andréia para lhe levar um chocolate quente. Quer alguma coisa para comer.

— Não, obrigada. — Ela parou ao pé da escada e alisou o corrimão. Não queria ir. Seus olhos ergueram-se até os de Kara do outro lado do hall e ela fitou com um anseio impossível e uma vergonha angustiada. — Não devia ter me casado com você — sussurrou roucamente. — Nunca tive a intenção de fazer você infeliz.

 O queixo da loira enrijeceu.

— Tampouco eu tive a intensão de fazê-la infeliz, mas foi o que acabei fazendo.

 Lena hesitou.

— Ainda não me contou o que fez com o carro — disse, depois de um minuto. — Posso tê-lo de volta?

— Com certeza — disse, erguendo o queixo e apertando os lábios. — Podemos transformá-lo num cinzeiro ou numa peça de arte moderna.

 As sobrancelhas da morena se ergueram.

— O que quer dizer com isso?

 Kara encolheu os ombros.

— O tamanho dele agora é de aproximadamente 13cm de largura por 1m de comprimento. Acho um pouco grande para um cinzeiro, mas emoldurado e pendurado na parede teria um ótimo efeito decorativo.

— Do que está falando? O que fez com ele?

— Dei-o ao velho Winn.

 Lena virou a cabeça ligeiramente quando registrou as palavras.

— O dono do ferro-velho.

 Kara sorriu levemente.

— Isso mesmo. Ele acabou de comprar um super esmagador. Você sabe, uma daquelas máquinas enormes usadas para transformar carros velhos em sucata...

 A morena corou.

— Você fez de propósito!

— Pode ter certeza disso! — ela disse, com um desafio metálico no olhar. — Se eu tivesse levado de volta para a revendedora, nada me garante que você não ir lá correndo para comprá-lo de novo. Assim — acrescentou, puxando a aba do chapéu até quase cobrir os olhos — garanto que não.

— Ainda estou devendo dinheiro! Era um carro muito caro!

 Kara sorriu agradavelmente

— Estou certa de que vai conseguir explicar tudo isso à seguradora. Pressão atmosférica? Cupins...?

 Lena não consegui encontrar uma resposta enquanto a loira se encaminhava para a cozinha.

 Subiu as escadas fumegando. Tinha sido um dia perturbador, sob todos os aspectos, e não estava melhorando. Sua cabeça girava com perguntas e problemas.


Aprendendo a Amar (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora