Capítulo Vinte e Quatro

2.6K 340 35
                                    

— Não há motivos para preocupação, Andréia... — Kara começou, mas nem bem tinha terminado a frase Andréia veio correndo do hall. Quando viu o rosto branco de Lena, começou a choramingar em espanhol.

— Estou bem— disse-lhe Lena. — O carro caiu numa vala, foi só isso.

 Andréia olhou para  Kara. Aquilo não era tudo, mas sabia que não devia criar uma confusão.

— O que quer que eu faça, señora Kara? — Andréia perguntou.

— Vou levá-la para cima. Que tal me servir um uísque puro e trazer um vinho para Lena?

—  Si, señora.

 Por que não posso tomar um uísque puro? — Lena perguntou.

 Os olhos azuis de Kara procuraram os da morena e ela a aconchegou um pouco mais ao subir com facilidade a escada com aquela leve carga aninhada contra o  peito.

— Você é apenas um bebê.

— Tenho 27 anos — lembrou-lhe.

 A loira sorriu gentilmente.

— Como disse meu bem, um bebê.

 O tratamento carinhoso fez a morena corar. Abaixou os olhos para sua camisa. Kara a tinha trocado antes do jantar. Esta era azul  e cheirava a baunilha. Lena adorava ficar nos braços da loira. Se pelo menos pudesse lhe dizer isso e explicar por que tinha medo dela. Mas não podia.

 Kara a carregou até o quarto e a pôs na cama, olhando avidamente a forma como o vestido vermelho e branco se moldava nos lugares certos. Não era decotado, mas fazia sobressair os seios altos da melhor forma possível, e só de olhá-los fazia doer.

 Lena franziu a testa ante a expressão do rosto da loira.

— O que foi? — perguntou, com sinais de fadiga na voz macia.

— Nada... Daqui a pouco, Andréia vai trazer o seu vinho. É melhor tomar um banho quente e depois eu a levarei ao médico. Quero que seja examinada para ter certeza de que não houve nenhum dano.

 Lena se sentou, os olhos arregalados.

— Kara, eu estou bem!

— Você não é médica e eu também não. Você levou um baita sacolejão e estava quase em choque quando a tirei daquele carro. — A teimosia transparecia em seu queixo. — Você vai. Ande depressa e mude de roupa. Use alguma coisa... — ela hesitou— ... menos sexy.

 As sobrancelhas da morena se ergueram:

— Perdão?

 Kara se virou em direção à porta.

— Vou telefonar para o médico enquanto toma banho.

Lena olhou para ela inexpressivamente.

— Não quero ir ao médico.

 A loira apenas fechou a porta, sem dar atenção ao que ela queria ou não. Assumindo o controle, como sempre, irritou-se. Teve vontade de atirar objetos longe. Ela estava bem, será que Kara não podia perceber? Explodiu em lágrimas de contrariedade e foi para o banheiro. Ela se sentia como se os joelhos tivessem desaparecido.

 Depois do banho, secou os cabelos e vestiu uma simples blusa branca e uma saia cinza, alegrando o conjunto com um lenço cinza e vermelho no pescoço. Ficou se perguntando porque a loira queria que ela usasse uma roupa menos sexy, e então seu coração falhou quando se deu conta de que ela devia ter achado o vestido vermelho e branco sexy. Sorriu acanhadamente. Era a primeira vez, desde o casamento, que Kara admitira achá-la atraente. Se pelo menos pudesse ter certeza de que ela não perderia o controle, teria tido coragem o suficiente para ir além do beijo.

 Pegou o copo de vinho que Andréia tinha deixado e sorveu-o vagarosamente. Ela a beijara sim. E Kara ia se agarrar a isso até a morte. Mas a mesma estava abalada, e a morena queria confortá-la tão desesperadamente que suas inibições usuais não constituíram uma barreira entre elas. E o beijo tinha sido delicioso. Sua boca ainda vibrava com a doçura. E então se lembrou de por que tinha sido tão doce. Kara tinha permitido que  toda a iniciativa fosse de Lena. A loira não tinha tirado o controle dela. Começou a cismar.

 Uma batida na porta interrompeu suas ponderações. Abriu-a. Kara já estava com um ar impaciente.

— Como se sente? — perguntou.

— Estou dolorida... — ela começou.

— O médico está esperando. Vamos — Tirou-lhe o copo, colocou-o sobre a cômoda e escoltou-a para fora do quarto.

 O médico que encontrara estava na sala de emergências do hospital. Lena sentiu-se nervosa e tensa porque mal chegara perto de um hospital desde o acidente na Irlanda, com exceção da ida ao Dr. John. Era um jovem médico chamado Hays, bem apessoado  e bondoso e, obviamente, estava achando graça da impaciente preocupação de Kara.

— Vai se sentir dolorida por alguns dias, mas estou certo de que sua esposa ficará aliviada ao saber que não há nenhum dano permanente — disse após terminar o exame e ela ter respondido às perguntas pertinentes. — Apenas mais uma coisa: existe alguma possibilidade de estar grávida? — Ele perguntou calmamente, com a curiosidade despertada por ela ter enrubescido e Kara ter desviado o olhar. — Uma experiência como esta pode ter seus riscos...

— Não estou grávida — disse roucamente.

— Então vai ficar bem. Vou prescrever um relaxante muscular no caso de sentir tensão. Pode tomar um analgésico, exceto aspirina, para a dor e um pouco mais de descanso amanhã seria benéfico. Naturalmente, se tiver outros problemas, avisa-me.

 Lena agradeceu, e Kara murmurou alguma coisa antes de acompanhá-la para fora do consultório e ao longo do hall para pagar a conta. Quando terminaram e se puseram a caminho de casa, eram quase oito horas e estava escuro.

 Kara manteve-se silenciosa durante todo o trajeto. Lena sabia a razão. Tinha sido a pergunta bastante natural do médico sobre gravidez. Kara tinha ficado embaraçada e provavelmente irritada porque o assunto era um pomo de discórdia entre elas.

— Devia ter lhe dito que poderíamos incluí-la no Livro dos recordes se estivesse grávida — disse a loira entre dentes ao estacionar o carro na entrada e desligar o motor.

 Lena brincou com a bolsa no colo. Agora que a tensão estava diminuindo, sentia-se apenas cansada e dolorida.



Aprendendo a Amar (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora