Capítulo Vinte e Oito

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 Antes que Lena pudesse dizer mais alguma coisa, Kara rolou sobre ela. Em um abraço longo enlaçou o corpo da morena puxando-a contra ela. Na escuridão, a loira procurou sua boca e a beijou com abandono impetuoso. As mãos de Lena se ergueram contra o peito, empurrando os sólidos músculos quentes, enquanto a boca de Kara pediam coisas que a amedrontavam. Quando o joelho da loira se insinuou entre os dela, a morena se contraiu e empurrou com mais força, debatendo-se.

 Kara a soltou sem uma palavra e se levantou. Acendeu a luz. Voltou-se para ela, os olhos brilhando como incêndios na floresta, o rosto lívido pela fúria mal controlada.

— Saia! — disse furiosa.

  Lena sabia que, naquele momento, não havia palavra capaz de acalmar a loira. Se tentasse amaciar a situação, talvez desencadeasse alguma reação física que a amedrontaria ainda mais do que seu ardor de seis anos atrás.

 Saiu da cama, os olhos culpados e cheios de lágrimas, e fez o que Kara mandou. Não olhou para trás. Fechou a porta gentilmente e, ainda chorando, desceu a escada.

 O escritório de Kara estava silencioso. A morena acedeu a luz, dirigiu-se ao bar e, com mãos trêmulas, pegou um copo. Despejou nele um pouco de conhaque e o agitou. O que ela queria era pular do telhado, mas talvez o conhaque resolvesse.

A casa estava tão silenciosa. Tão pacífica. Mas sua cabeça era um turbilhão. Por que Kara não podia compreender que sexo a amedrontava? Por que ela se recusava a escutar?

  Lena a afastara por isso. Tinha se debatido. Mas se não tivesse feito aquilo e a loira perdesse o controle... seus olhos se fecharam com um tremor. Não conseguia sequer pensar no assunto.

  As pernas tremiam quando se sentou no sofá, o corpo dobrado, a testa encostada na borda do copo. As lágrimas nublavam sua visão. Ela tomou gole após gole até que finalmente o álcool começou a acalmar seus nervos.

 Ao perceber que já não estava mais sozinha, nem olhou para cima.

— Sei que me odeia — disse entorpecida.— Não precisava ter vindo aqui para me dizer.

 Kara recuou, diante das lágrimas em seu rosto, da angústia em sua voz macia. Seu orgulho fora novamente estilhaçado. Mais doía ver a morena chorando.

 A loira se serviu de outro uísque e sentou na beirada da pesada mesa de centro em frente a Lena.

— Estava lá em cima xingando você — disse depois de um minuto. — Até que de repente compreendi o que havia dito, sobre nunca ter deixado ninguém beijá-la de forma mais íntima.

— Embora eu seja uma mulher da vida — disse a morena amargamente. — Dormi com Tom. Até lhe contei.

— Acabou de me dizer que seu pai mentiu sobre isso. — Os olhos azuis se estreitavam. Tomou um gole de uísque e pousou o copo. Ajoelhou-se bem na frente da morena, sem tocá-la, seus olhos no mesmo nível que os dela. — Também me lembrei de outra coisa. Logo após o acidente de carro, você me beijou. Não teve medo de mim e nem sentiu aversão, Lena. Mas você estava tomando todas as iniciativas, não estava?

 Lena levantou os olhos. Então a loira fizera a conexão. Ela suspirou, preocupada.

— Sim — disse finalmente. — Não tive medo.

— Mas até então — Kara acrescentou, os olhos perspicazes fazendo rápidas avaliações — eu tinha sido muito bruta com você quando estivemos próximas a fazer amor.

 Lena enrubesceu, evitando seu olhar.

— Sim.

— E não era repulsa. Era medo. Não de ficar grávida, mas da própria intimidade.

— Dêem um prêmio a esta mulher — ela murmurou, com humor forçado.

 Kara suspirou, observando-a afagar o copo de conhaque. Tirou-o de suas mãos e pôs sobre a mesa.

— Levante-se.

 Espantada, Lena sentiu a loira erguê-la do sofá, colocá-la de lado e se deitar nas almofadas.

— Agora sente-se.

 Lena obedeceu, hesitante, porque não conseguia entender onde a loira queria chegar.

 Kara pegou uma das mãos da morena e a levou ao peito.

— Pense em mim como um sacrifício humano — murmurou a loira secamente — Um primeiro passo.

 Os lábios da morena se entreabriram numa respiração profunda, ao perceber o que Kara estava fazendo. Seus olhos fugiram para os dela, curiosa, tímida.

— Mas você... você não gosta disso — disse Lena, mostrando discernimento, porque no passado fora  sempre a loira a tomar iniciativa, nunca a tendo  encorajado nesse sentido.

— Vou aprender a gostar — disse francamente. — Se isso é o que é preciso para fazer com que você chegue perto de mim, estou mais do que disposta a lhe dar essa vantagem, Lena.

 As lágrimas arderam nos olhos da morena. Mordeu o lábio inferior para que parasse de tremer.

— Oh, Kara — murmurou estremecendo.

— Deste jeito você consegue? — perguntou a loira baixinho, os olhos azuis vivos de ternura. — Se eu deixar, você consegue fazer amor comigo?

 Lágrimas brotaram de seus olhos e escorregaram pelo rosto.

— Eu queria lhe dizer — soluçou Lena. — Mas estava constrangida demais.

— Está tudo bem. — Kara colocou a mão sobre a da morena e percorreu o traçado das pequeninas veias. — Já deveria ter percebido isso a muito tempo. Não vou machucar você. Nunca vou machucar você.

 Lena sorriu entre as lágrimas. Incrível que a loira tivesse descoberto por si mesma. A morena sorriu e se inclinou, hesitantemente, até encontrar sua boca quente, e a roçou com os lábios.

 Kara sentiu como se seu coração fosse explodir. Só Deus sabia como é que ela não entendera antes. É óbvio que Spheer a tinha magoado, e a morena se afastara de qualquer intimidade daí para a frente. A loira odiava pensar que o homem tinha sido o seu primeiro amante, mas não podia mais ficar parada vendo Lena se destruir emocionalmente por conta disso. Precisavam de um ponto de partida para a construção de uma vida em comum, e aquele parecia o melhor de todos.

Aprendendo a Amar (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora