Capítulo Vinte e Sete

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— O que está fazendo aqui fora?

— Olhando-a perambular pelo hall. O que pretendia fazer, entrar ali e me violentar?

 Lena caiu numa gargalhada, surgida de algum lugar desconhecido, e seus olhos brilharam.

— Não sei como. — confessou.

 Kara até sorriu. A morena ficava muito  linda quando sorria. Era linda de qualquer jeito. A loira ergueu o copo de uísque melancolicamente.

— Pensei que pudesse me ajudar a dormir — disse.

— Acho que nada vai me ajudar — murmurou Lena.

 Mudava de um pé descalço para o outro, consciente da curiosa atitude examinadora de Kara e da forte batida de seu coração.

— Quer dormir comigo? — perguntou a loira.

 Lena corou.

— Não foi só por essa razão que eu vim. — Ela olhou para cima e depois novamente para baixo, até os pés de Kara, também descalços. — Você sabia que nunca alguém tinha me beijado intimamente até que você o fez?

 A loira piscou.

— Você veio até aqui às três da madrugada para me dizer isso?

 Lena deu de ombros.

— Pareceu bastante importante na hora — disse. Olhou-a com tristeza, os pálidos olhos  verdes procurando o rosto magro e esculpido, a boca sensual, os músculos de seus braços e abdômen. — É incrível. — ela murmurou, os olhos fascinados pela extensão nua de músculos bronzeados.

— O quê? — Kara franziu a testa, observando como os olhos da morena a examinavam. Era perturbador. E ela devia saber disso.

— Que você não tenha que afugentar mulheres do seu quarto com um cabo de vassoura — murmurou distraída.

 As sobrancelhas da loira se arquearam.

— Andou chegando perto do meu uísque?

— Parece, não  parece? — Ergueu os olhos para os dela. — Posso dormir com você, Kara? Ainda estou bastante abalada. Se... — Limpou a garganta e olhou para o outro lado. — Se não for incomodá-la muito, quero dizer. Não quero tornar as coisas mais difíceis para você do que já são.

— Não estou certa que possam piorar — disse em voz baixa. Procurou os olhos suaves da morena. — Muito bem. Venha.

 Lena a seguiu. Nunca tinha estado no quarto da loira, embora tivesse passado algumas vezes e lançado uma olhadela curiosa.

 A mobília era antiga. Antiguidades, como aquelas da casa onde crescera. Ela se perguntou se também na casa da loira elas vinham de longa data, se tinha herdado dos pais. Passou a mão por uma das quatro colunas da cama, admirando a madeira polida e os lençóis listrados de bege e marrom.

— Não pensei que gostasse de lençóis coloridos — disse em tom de conversa. — Andréia disse que não gostava.

— E não gosto — disse sucintamente. — Andréia gosta. Ela jura que perdeu todos os lençóis brancos e teve de substituí-los.

— Bem, estes são bonitos — murmurou.

— Venha para dentro deles.

 Kara puxou o lençol de cima para trás e deixou que ela deslizasse para debaixo dele.

— Vou regular o ar condicionado, caso esteja muito frio para você — ofereceu.

— Não, está bem assim. Detesto quartos quentes, mesmo no inverno.

 Kara sorriu gentilmente.

— Eu também. — Apagou a luz e voltou para a cama. O colchão cedeu quando a loira se sentou, obviamente terminando seu uísque.

— Você, hum..., você dorme com a parte debaixo dos pijamas? —perguntou a morena, agradecida pela escuridão que encobria seu rubor.

 Kara até riu.

— Oh, meu Deus.

— Bem, não precisa zombar de mim — murmurou, alisando o travesseiro antes de deitar a cabeça nele.

— Sempre pensei que você fosse uma garota sofisticada — disse simpaticamente. — Sabe, do tipo liberada, com uma fila de pessoas atrás de você e o tipo de sofisticação que combina com champanhe e brilhantes.

— Menina, que choque iria levar. — murmurou a morena. — Até você aparecer eu só tinha namorado um rapaz, e o máximo que ele fez foi tentar me agarrar e levar um tabefe de volta. Meu pai era obcecado em me manter inocente até que ele pudesse me vender para alguém que o tornasse ainda mais rico. Mas isso você não sabe, naturalmente, porque acha que ele é um santo.

 Kara acendeu a luz. Seus olhos estavam escuros e firmes nos dela, reparando no rubor que cobria o rosto da morena.

— Pode apagá-la, por favor? — perguntou, tensa. — Se eu for falar desses assuntos, não pode ser olhando para você.

— Pudica — acusou a loira.

 Lena a olhou fixamente.

— Veja quem fala.

 Kara sorriu melancolicamente e apagou as luzes.

 A morena sentiu o colchão se mover à medida que a loira se deitava e puxava os lençóis até o quadril.

— Muito bem. Se quer falar, vá em frente.

— Meu pai nunca quis que nos casássemos, Kara, apesar da encenação que ele montou para você — ela disse sucintamente. — Ele queria que eu me casasse com os haras de Jack Spheer para que houvesse uma fusão e ele saísse do vermelho.

—  Essa é uma pílula difícil de engolir, considerando aquilo que sei sobre seu pai — disse a loira, recordando-se de que fora o dinheiro do pai de Lena que possibilitara o sucesso do posto de engorda pertencente a sua família. Ela se perguntava se a morena teria conhecimento desse fato, e quase o revelou quando a ouviu suspirar.

 Lena se mexeu.

— No entanto, é verdade. Ele estava pronto para arruiná-la se eu não colaborasse com esse esquema inventado de me casar com Jack.

— Você admitiu que tinha dormido com Jack — lembrou-lhe. Sua voz ficou mais pesada. — E eu sei o quanto não queria dormir comigo.

— Mas não porque eu a achasse repulsiva — disse.

— Não?    


Aprendendo a Amar (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora