Capítulo Vinte e Um

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 Lena ficou vermelha e desviou os olhos. Não conseguia encontrar as palavras certas. Era surpreendente que estivessem casadas, que ela tivesse 27 anos e que aquele tipo de conversa ainda pudesse embaraçá-la. 

— Tive medo de que não conseguisse parar — murmurou evasivamente.

 Kara suspirou profundamente e levou a xícara de café aos lábios, esvaziando-a.

— Também tive — disse inesperadamente. — Corremos esse risco durante alguns segundos. Tinha estado de jejum por muito tempo..

— Não pensei que, nos dias de hoje, as pessoas precisassem fazer isso — falou mansamente. — Quer dizer, a sociedade sendo tão permissiva e tudo mais.

— A sociedade pode ser permissiva, eu não. — disse secamente. Os olhos chisparam em sua direção. — Nunca fui, no sentido em que pensa. Uma mulher não seduz uma virgem ou tira vantagem de mulheres que não conhecem a regra do jogo. Isso deixa de lado as garotas de programa. — Segurou a xícara nas mãos, grandes e longas, alisando-a com o polegar. — E só para ser franca, meu bem, esse tipo não me atraí.

 Os olhos suaves da morena estudaram as feições endurecidas de Kara, demorando-se na boca esculpida.

— Imagino que, ainda assim, não lhe tenham faltado propostas — ela disse, baixando novamente o olhar até o colo.

— Sou rica. — Havia um cinismo frio em suas palavras. — É claro que recebo propostas. — Examinou o rosto da morena calculadamente. — Na realidade, Lena, recebi uma enquanto estive no Novo México, semana passada, anel de noivado e tudo.

 Os dentes de Lena se cerraram. Não queria que a loira percebesse que aquilo a incomodava, mas era difícil de esconder.

— Foi mesmo?

Kara pousou a xícara.

— Você é tão possessiva em relação a mim quanto sou em relação a você — disse então, cruzando o olhar com o dela numa lenta e eletrizante troca. — Você não gosta da idéia de outras pessoas se interessando por mim, gosta Lena?

 A morena cruzou as pernas.

— Não — disse honestamente.

 A loira sorriu ironicamente enquanto acendia outro cigarro.

— Bem se lhe serve de consolo, desanimei-o. Não pretendo traí-la, meu bem.

— Nunca imaginei que o fizesse — respondeu. — Assim como tampouco eu o faria.

— Esse seria a oitava maravilha do mundo — retrucou com enganadora suavidade — considerando seus problemas. Estamos casadas há quase duas semanas e você continua parecendo um cordeiro pronto para o sacrifício cada vez que me aproximo.

 Lena respirou profunda e uniformemente.

— Sim, eu sei — disse infeliz. Sorriu com amargor. — Tenho consciência de minhas limitações, Kara. Acho que não vai acreditar, mas você não conseguiria me culpar mais do que eu própria me culpo por ser como sou.

 Kara fez uma expressão de desagrado. Não pretendia colocá-la na defensiva. Seu orgulho estava mordido e estava rebatendo, mas não queria mais magoá-la. Já tinha feito isso suficiente...

— Não quis dizer isso — falou num sussurro fatigado. — Foi a maneira como as coisas aconteceram, só isso. — Por um minuto aparentou a idade que tinha, expressão desolada, olhos azuis assombrados. — Você acabou com meu orgulho, Lena. Tem-me custado muito superar isso. Acho que ainda não consegui.

— Também não saí ilesa — ela murmurou. Os frágeis ombros se curvaram. — Tive minha quota de sofrimento pelo que fiz.

— Por quê? — a loira perguntou rápido.

 Lena fechou os olhos e se encolheu.

— Fiz pelo seu bem — sussurrou.

 Kara soltou um suspiro irritado.

— Bem, essa pelo menos é uma nova saída. — Esmagou o cigarro meio consumida e se levantou. — Tenho trabalho para fazer antes da Andréia servir o jantar. — Parou perto da cadeira da morena, observando a forma que ela se retraia diante de sua proximidade. Kara se abaixou e apanhou um punhado de seus longos cabelos , obrigando-a a inclinar a cabeça para trás, de modo a poder olhar em seus olhos. — Medo — disse perscrutando-os. — É tudo o que vejo em seus olhos quando chego perto. Bem, não se preocupe, querida, não será chamada para o supremo sacrifício. Não estou desesperada!

 Soltou-a e passou por ela, o corpo musculoso tenso de raiva, sem dizer mais nenhuma palavra ou olhar para trás.

 Lena sentiu as lágrimas virem e nada fez para impedi-las. Kara não sabia a razão de seu medo e ela não podia contar. A loira simplesmente partira do princípio e que ela recuara porque não a queria. Nada estava mais longe da verdade. Lena a queria desesperadamente. Mas a queria controlada e gentil, lembrando-se de como tinha sido quando a loira não fora assim.

 Levantou-se da mesa e foi para o quarto para se recompor por alguns minutos antes do jantar. Era tão difícil conversar com Kara, contornar sua crescente impaciência. A rejeição de Lena estava fazendo um mal terrível a loira, mesmo que sua vontade fosse a de protegê-la. Queria dar a ela o que queria, apagar aquelas linhas vincadas de seu rosto. Mas tinha tanto medo das exigências que poderia fazer.

 Se pelo menos conseguisse dizer a ela. Mas o meio protegido em que crescera tornava muito embaraçoso explicar por que ela era como era. Até conseguir um jeito de fazer com que a loira entendesse, aquilo ia provocar um desgaste ainda maior em seu casamento. 

Aprendendo a Amar (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora