Capítulo Quarenta e Seis

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 — Não se esqueceu da festa de Alex? — Lena perguntou a Kara numa das cada vez mais raras refeições que fizeram juntas antes da festa.

 A loira levantou por um instante os olhos calmos e, de alguma forma, assombrados, da comida que nem provara, para logo piscar e fazer sumir a expressão. Lena estava com aspecto ruim. Sua cor era terrível e parecia fraca e sem brilho. Kara sabia que era por causa de sua frieza, mas não podia fazer nada, assim como não podia superar seus sentimentos de traição e mágoa.

— Não esqueci — respondeu. Inclinou-se na cadeira e a examinou. —  Você não parece bem.

— Foi uma longa semana, Kara — disse sem entonação. — E um pouco inesperada. Não precisa se preocupar — disse com uma risada desmaiada. — Estou bem. Na verdade, estou muito bem. Tenho tudo que você me prometeu quando nos casamos. Não tenho do que me queixar.

 Lena pousou o garfo e se levantou, oscilando um pouco. Agarrou-se à cadeira, rezando para que a repentina escuridão passasse antes que ela caísse. Passou, e ela se esquivou do movimento rápido de Kara em sua direção.

— Você está bem? —  As palavras foram arrancadas da loira. Ela detestava o aspecto da morena. Fazia com que se sentisse culpada. Incrível quando tinha sido Lena a magoá-la e não o contrário.

 —  Já disse estou bem. —  Ela deixou a sala com a cabeça erguida e subiu sem nenhuma palavra. Não ficavam mais juntas agora. Era raro comerem na mesma hora. Em seguida, a loira sempre ia para o escritório e ela subia para o quarto. Andréia notou, mas ela e Kelly permaneceram em silêncio. Com Kara naquele humor era melhor assim.

 Na noite da festa Lena descansou antes de se vestir. Ela achara um vestido de veludo verde-esmeralda que tinha usado no ano anterior. Estava um pouco apertado quando ela e Kara se casaram, mas devido a perda de peso agora lhe caía bem. Era longo, sem mangas, com uma fenda até a altura da coxa. Ela prendeu o cabelo e complementou o vestido com um delicado colar de esmeraldas que tinha pertencido a sua avó. Parecia frágil, mesmo maquiada, e gostaria que as coisas  estivessem diferente entre ela e Kara. Sam certamente teria mencionado sua breve felicidade a Alex. Quando a ruiva chegasse à noite e visse a distância existente entre a irmã e a cunhada, talvez dissesse alguma coisa à Kara. Lena achava que não resistiria a mais um confronto.

 Ela apalpou a barriga, pensando quando deveria procurar o médico. A morena sabia que a gravidez podia ser detectada com seis semanas, e tinha quase isso. Mas o problema era como esconder isso de Kara numa comunidade tão pequena como National Ville. Talvez pudesse ir até Houston e ser examinada numa clínica.

 A música tocava lá embaixo. Pôs uma gota de perfume e desceu, segurando-se cuidadosamente no corrimão. Senta-se cambaleante. A semana que passara fora muito estressante devido ao excesso de trabalho e à inexplicável atitude fria de Kara.

 Lena localizou Sam e Alex quando chegou ao primeiro patamar. Estavam de braços dados, parecendo tão felizes que faziam partir seu coração. Alex num traje de noite escuro, e Sam num vestido de seda azul pálido.

 A morena não viu Kara até chegar embaixo. Ela usava um terninho preto e estava muito elegante. Lena ficou se perguntando se a loira faria uma encenação para os convidados ou se iria ser ela mesma. Não se atrevia a olhá-la muito de perto. Ela poderia ver a mágoa e a saudade em seus olhos.

 Lena se virou para a entrada, onde Kelly, de jaqueta branca, acabava de abrir a porta para receber os recém-chegados. A morena ficou petrificada ao ver o homem que estava no hall, trocando nervosamente os pés, tentando descobrir na sala um rosto que lhe fosse familiar.

 Os olhos de Lena faiscaram. Não podia acreditar que Kara tivesse tido a audácia de convidá-lo. Era o aniversário de Alex, e ela sabia que a loira não esperaria uma cena de sua parte.

 Mas sequer pensou nisso quando se dirigiu ao hall, ignorando Kara, e pegou um vaso antigo, de grande valor no caminho.

— Olá, Jack —  cumprimentou Jack Spheer com aparente sarcasmo. —  Que bom vê-lo novamente.

 E, sem diminuir o passo, a morena levantou o vaso e o atirou bem na cabeça de Spheer.

 Lena olhou fascinada quando o vaso antigo passou raspando pela orelha esquerda de Jack e se espatifou contra a parede.

—  Lena? —  Jack perguntou recuando um passo.

 A morena começou a pegar o arranjo de flores que Andréia havia criado a duras penas para a mesa do hall.

— Lena, não! —  Jack deu meia-volta, as mãos na cabeça, e correu porta afora.

 Lena saiu atrás dele, cega aos olhares chocados dos outros convidados, incluindo o de sua esposa, arregalado de espanto.

— Inseto —  enfureceu-se. —  Fracote endinheirado! —  Ela o  deixou chegar à metade da escada antes de lhe arremessar o arranjo de flores no vaso de cerâmica. Jack quase perdeu o equilíbrio, espremido junto à balaustrada, com os cacos de cerâmica se espatifando em volta dele.

 Esforçou-se para vencer o resto dos degraus e correu para o carro. Lena o viu ir embora com fúria nos olhos. Ele tinha sido indiretamente responsável por todas as suas desgraças. Como tinha tido a coragem de aparecer logo naquela noite, e a convite de Kara? Será que Jack realmente acreditava que a morena tivesse esquecido sua participação em sua agonia? Lena chegara mesmo a lhe dizer, na época , o que pensava a seu respeito.

 Ela se virou subiu os degraus. Sequer olhou para Kara.

— Boa noite —  cumprimentou os convidados como se nada tivesse acontecido. —  Feliz aniversário, Alex! Estamos muito contentes por Sam ter permitido que déssemos esta festa para você. —  Aproximou-se e beijou o rosto da ruiva.

—  Obrigada, Lena —  murmurou Alex.

—  Vamos jantar? —  Lena acenou para os demais, em sua maior parte amigos de Kara e Alex que ela mal conhecia! Deu o braço a Kara como se temesse que o toque da loira fosse queimá-la. Não a olhou e nem falou com ela. 



Aprendendo a Amar (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora