Lena ergueu os olhos. Estavam sem vida.
— Estou cansada — disse suavemente. — Você se incomoda se eu for me deitar depois de comermos?
— Sim, me incomodo. — Pôs de lado o guardanapo e acendeu um cigarro. — É nossa noite de núpcias.
Lena riu com amargura.
— É mesmo? O que você tem em mente? Mais alguns comentários sobre o meu passado promíscuo?
Kara frangiu a testa ligeiramente. Não parecia Lena. Aquele som cortante em sua voz era perturbador. Seus olhos se estreitaram. Ela tinha perdido o pai, a casa, todo um estilo de vida, até o irmão foi embora. Tinha perdido tudo nas últimas semanas e se casara com ela porque precisava de um pouco de segurança. A loira tinha transformado a vida dela num inferno, e aquele dia parecia ter sido a gota d'água. Não fora sua intenção. Não queria magoá-la. Mas não conseguia ficar calada; eram tantas as mágoas.
Kara suspirou profundamente. Os olhos azuis procuraram o rosto abatido, relembrando dias melhores, mais felizes, quando podia olhá-la e se embriagar só de ver seu sorriso.
— Tem certeza de que quer continuar a trabalhar? — perguntou em voz baixa, apenas para mudar de assunto, para manter a conversa num nível mais ameno.
Lena olhou para o prato.
— Sim, gostaria — disse ela. — Nunca trabalhei, a não ser em funções sociais e como voluntária. Gosto do meu emprego.
— E James Olsen? — a loira perguntou, com um sorriso de desafio.
Lena se levantou. Ainda usava a saia branca e a blusa rosa claro, e estava elegante e muito desejável. O longo cabelo caía sobre os ombros, e Kara queria poder se levantar, pegar duas mãos cheias deles e beijá-la até a morena não conseguir ficar de pé.
— O sr. Olsen é meu patrão — disse. — Não meu amante. Eu não tenho um amante.
Kara também se levantou, chegando mais perto, os olhos apertados e calculistas, o corpo tenso com anos de desejo frustrado.
— Você vai ter — disse secamente.
Lena não recuou. Não daria a loira a satisfação de vê-la fugir. Ergueu o rosto orgulhosamente, embora os joelhos estivessem fracos e o coração batesse descompassadamente. Tinha medo de Kara por causa do passado, porque ela queria vingança. Tinha medo porque a loira pensava que ela fosse experiente, e mesmo com a pequena cirurgia, ela sabia que não iria ser fácil. Kara era enganadoramente forte. A morena conhecia a força daquele corpo esguio e musculoso, e ser subjugada por ela, em um momento de paixão, era um pouco assustador.
Kara viu o medo nos olhos da morena e compreendeu imediatamente.
— Está equivocada, meu bem — disse calmamente. — Muito equivocada. Nunca a machucaria na cama, nem por vingança nem por qualquer outra razão.
O lábio inferior da morena tremeu num soluço abafado e lágrimas encheram-lhe os olhos. Abaixou o olhar até o largo tronco dela, sem reparar o leve choque provocado por sua reação no rosto da loira.
— Talvez não conseguisse evitá-lo —sussurrou.
— Lena, você realmente tem medo de mim? — perguntou, com voz rouca.
Os frágeis ombros da morena se mexeram.
— Sim, lamento.
— Teve medo com ele? — perguntou — com Spheer?
Lena abriu a boca para responder, mas desistiu. De que adiantava? Ela não ia ouvir. A morena se virou e foi em direção à escada.
— Fugir não resolverá nada — disse ela, sucintamente, vendo-a ir com uma mistura de sentimentos, sendo o maior deles a raiva.
— Nem tentar falar com você — replicou. Parou ao pé da escada, os olhos verdes brilhantes com as lágrimas reprimidas e por ter recuperado o sangue frio.
— Aja como quiser. Faça-me pagar. Acabei de ficar sem as coisas que me são caras e não tenho absolutamente mais nada a perder, portanto, preste atenção, Kara: não vou fazer o papel de mulher de sociedade. Vou ser eu mesma, e sinto muito se isso destrói alguma de suas antigas ilusões.
Kara a olhou, quieta.
— O que isso quer dizer?
— Nenhum caso — respondeu ela, lendo os pensamentos da loira. — Apesar do que pensa a meu respeito, não estou sofrendo por falta de um relacionamento.
— Esse tanto eu acredito — disse breve. — Meu Deus, consigo ter mais calor de um cubo de gelo do que alguma vez recebi de você.
Lena sentiu o impacto dessas palavras como punhais contra sua pele. Devia ter percebido a loira a julgava fria, mas isso nunca lhe tinha ocorrido.
— Talvez Jack Spheer tenha conseguido mais — jogou-lhe na cara.
Seus olhos azuis encheram-se de raiva. Chegou mesmo a dar uns passos em direção a morena, antes que o controle férreo que mantinha sobre seu gênio a detivesse.
Lena percebeu o movimento e agradeceu a Deus pela loira ter parado. Ergueu o queixo.
— Boa noite, Kara. Obrigada pelo teto sobre minha cabeça e um lugar para morar.
Os olhos dela pestanejaram enquanto a morena subia a escada. Olhando para ela, se lembrou dos anos de sonhos, da deliciosa recordação de apenas estar com ela, da frustração de ter se contido e a ter perdido mesmo assim. Ainda gostava de Lena. Mentira para preservar seu orgulho, mas gostava tanto! E a estava perdendo uma vez mais.
Kara queria dizer que não tivera a intenção de acusá-la de ser fria. Ela a desejara com loucura, e a morena não a tinha querido. Isso a magoara muito mais do que o fim do noivado, particularmente quando descobrira que Jack Spheer era seu amante. Aquilo quase a matou. E aqui estava Lena, jogando isso em sua cara, atingindo-a nos lugares mais vulneráveis. Kara se perguntara muitas vezes se a morena a achava repulsiva pelo fato de ser uma mulher "diferenciada" fisicamente. Foi o que a fez acreditar que Lena era sincera ao dizer que não a queria, que preferia Jack Spheer.
E agora a morena estava diferente. Não era mais a tímida e introvertida jovem que conhecera havia seis anos. Estava estranhamente inquieta, espirituosa e desinibida quando conseguia relaxar. Mas a loira não podia se dobrar. Não conseguia se dobrar o suficiente para lhe dizer o que tinha no coração, o quanto ainda a queria, porque não ousava confiar nela de novo. Lena a magoara demais. Olhou-a subir a escada, com os olhos azuis, suaves e ávidos. Não se moveu até perdê-la de vista.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aprendendo a Amar (Karlena) G!P
FanficKara Danvers não esperava que Lena Luthor, filha de um dos maiores magnatas de National Ville, retornasse para ela de joelhos após ter destruído seu coração seis anos atrás. Mas o amor tem razões que a própria razão desconhece... Kara está disposta...