Capítulo Quarenta e Nove

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— Você namorou Jack Spheer — Kara acrescentou.

— Não. Parti o coração de meu pai quando me recusei a me casar com Jack — disse com uma risada fria. — A vida sem você foi o pior inferno que conheci. Tentei lhe contar, mas você não me ouviu. Você continua a não me ouvir. — Lágrimas turvaram seus olhos. — Bem, estou cansada de falar com você, Kara. Você é muito amarga e apaixonada demais pelo passado para abrir mão de seus rancores. Não posso mais viver assim. Magoou-me mais do que jamais chegará a saber, embora eu deva admitir que minha própria covardia ajudou. Mas o que fiz, fiz para protegê-la, porque eu amava você demais para deixá-la perder tudo. Tudo que sempre quis foi você. Mas você sempre me quis de uma única forma, e agora que, como é mesmo que você disse?, "satisfez seu desejo por mim", até isso acabou, não é?

 A loira cerrou os dentes numa onda de dor.

— Oh, Deus, Lena — murmurou com voz rouca.

— Bem, não perca seu sono por causa disso, Kara. Talvez estivéssemos condenadas desde o início. Sem confiança não temos nada. — A morena afastou do rosto as mechas de cabelo soltas. — Pensei que houvesse uma oportunidade para nós antes da sua  ida para o Wyoming. Mas se ainda não te confiança em mim, então não temos sequer um chão comum onde construir. Estou tão cansada, Kara — disse então, sentando-se na borda da cama. — Estou tão cansada de brigar... Só quero dormir.

 Kara passou a mão pelos fartos cabelos loiros, observando-a:

— É claro — disse calmamente. — Falamos amanhã.

 Lena não estaria lá no dia seguinte, mas não tina intenção de lhe contar.

— Sim, amanhã.

 Kara queria abraçá-la. Falar com ela. Confessar  que sua frieza fora provocada por puro ciúme, porque acreditava que uma mulher tão linda  nunca poderia realmente amá-la. Nunca acreditara, e sua própria insegurança quanto à possibilidade de ser atraente para uma mulher como Lena era a maior parte do problema. Mas a morena parecia exausta, e seria cruel tornar sua noite ainda mais difícil do que já estava.

— Descanse. Se precisar de mim, é só chamar.

— Você é a última pessoa na face da terra de quem preciso, Kara —  disse ela calmamente.

Kara inspirou devagar.

—  Meu Deus, sei disso. Sempre fui. —  Os olhos azuis deslizaram sofregamente sobre a morena. —  Embora pareça não ter feito nenhuma diferença. Não consegui parar de querê-la. Nunca conseguirei.

 Saiu pela porta sem olhar para trás, e Lena se deitou por cima da coberta e chorou pelos muitos anos de felicidade que não teria com a loira, pela criança que carregava e de quem ela sequer tinha conhecimento. Chorou por todos eles e adormeceu, ainda vestida, deitada sobre as cobertas.

 Kara encontrou-a assim na manhã seguinte. Não a acordou. Ela pareci tão frágil com o cabelo em volta do rosto adormecido. Estava pálida, e a loira se sentiu culpada até o fundo de sua alma. Ela a magoara. Lena era a coisa mais preciosa de seu mundo e ela nada fizera senão magoá-la.

 Tirou os sapatos dela e a cobriu com a coberta acolchoada, os olhos azuis cheios de adoração em seu rosto.

— Eu lutaria contra o mundo por você —  disse docemente. —  Que ironia que eu não consiga parar de magoá-la.

 Lena não ouviu. Kara tocou sua face com delicadeza, indo até as sobrancelhas. Seus olhos azuis se suavizaram, tornaram-se ternos.

— Eu amo você —  disse roucamente. —  Oh, Deus, amo tanto! Por que não consigo lhe dizer? —  Ela se curvou e roçou sua boca com extraordinária ternura, um leve toque que não iria acordá-la. Endireitou-se, respirando pesadamente enquanto examinava o rosto adormecido. —  Disse que eu não confiava em você. A verdade talvez seja nada mais do que eu não confiar em mim mesma. Você precisa de alguém mais gentil do que eu. Alguém menos rude e de costumes estáveis. Eu sempre soube, mas nunca encontrei foça suficiente para desistir de você. —  Ela segurou a mão esguia entre as suas e sorriu melancolicamente —  Seria bem feito se eu a perdesse. Mas acho que não permaneceria viva se isso acontecesse.

 Kara pousou a mão da morena sobre a coberta e, com um último olhar para o rosto adormecido, virou-se e saiu do quarto. Talvez mais tarde pudessem conversar, e ela lhe diria todas as coisas quando ela estivesse acordada e ouvindo. Se continuasse a reprimir, correria um risco muito grande de perdê-la.

 Lena acordou uma hora depois que a loira saiu e se deu conta do vestido de noite e da coberta que tinha sido puxada. Perguntou-se se teria feito aquilo ou se Andréia a cobrira. Bem, não tinha importância. Tinha coisas para fazer e pouco tempo.

 Tentou telefonar para Lucy, mas deveria ter ido para o escritório. Telefonou para a casa da prima em Houston. Telefonou e perguntou se podia ficar um ou dois dias, sendo imediatamente convidada a permanecer lá por mais tempo.

 Lena e Eve se conheciam desde o primeiro grau, e eram amigas, além de parentes. Prometeu estar com a prima mais tarde naquele dia, desligou e fez uma reserva para o vôo de meio-dia que saía do aeroporto de National Ville para Houston.

 Fez a mala, levando apenas o necessário, e rezou para que o enjôo matinal aguardasse até que ela fosse embora.

 Esgueirou-se escada abaixo, chamou um táxi e estava quase do lado de fora da porta quando Andréia entrou no hall para chamá-la para o café-da-manhã. Encontrou Lena com uma mala na mão e um táxi à espera.

Señora! — exclamou, sem saber o que fazer.

—  Vou ficar fora apenas por  uns dois dias —  disse Lena, hesitante. —  Sam sabe onde me encontrar. Não diga nada a Kara. Prometa-me.

 Andréia fez um trejeito, mas acabou por concordar. Olhou Lena entrar no táxi e partir. Prometera nada dizer a Kara. Não prometera não telefonar para Sam. Pegou o telefone e rapidamente discou o número.

Aprendendo a Amar (Karlena) G!POnde histórias criam vida. Descubra agora