Declaração

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Helion observava Lucca da varanda de seu quarto. Ele caminhava lenta e despreocupadamente com Lucien pelos jardins em direção aos portões. Helion odiou isso, o modo como eles riam e brincavam um com o outro, claramente flertando. Aquele moleque abusado da Outonal! Helion sentia o seu sangue ferver.

Na noite anterior, depois da discussão, Helion foi até a Crepuscular com o intuito de ficar bêbado longe de casa e dos olhares curiosos de seus súditos. Se arrependeu amargamente disso. Acordou com uma ressaca horrivel, a décadas ele não bebia assim.

Dormiu até tarde, o que não era de seu feitio e não queria encarar Lucca tão cedo. Agora se arrependia de não ter comparecido a reunião, com os dois flertando daquele jeito! Deveria ter posto um fim naquilo. Desde que Lucca voltou, Helion não parava de ter arrependimentos. Maldito Lucca!

Athos bateu em sua porta para atualizá-lo sobre a ata da reunião, não antes de debochar da sua cara.

- Você parece miserável meu Senhor. - Disse Athos, rindo, entrando no quarto. - A culpa é da bebida ou do amor? - Perguntou com inocência fingida.

- Vá a merda Athos!

- Culpa dos dois então! - Concluiu Athos, que estava claramente se divertindo.

- Será que você poderia dizer o que veio dizer e me deixar em paz? - Helion estava ranzinza.

- Mas é claro meu Senhor. - Athos se curvava e adulava Helion, rindo. O que deixava Helion com mais raiva ainda.

- Pois bem, aparentemente Beron anda se encontrando com Koschei com muita frequência e lhe oferecendo presentes.

- E como sabem disso? - Perguntou Helion, atônito.

- Pergunte a seu Amor, foi ele quem descobriu.

Helion deixou a parte do "Amor" passar. O que o intrigava era como Lucca tinha conseguido aquelas informações tão detalhadas. Com poucos dias na Corte Diurna e Helion nem o viu sair. Se lembrou de meio século atrás quando Lucca costumava esconder bilhetinhos de amor nos lugares mais inusitados. Bom, aparentemente ele realmente tinha talento para espionagem e conseguia passar despercebido.

Helion sentia um misto de orgulho e assombro. Lucca ainda conseguia surpreende-lo e o fazia se sentir saudoso. Sentia falta da intimidade que ambos tinham compartilhado. Das declarações de amor do rapaz, ainda inocente. Agora a inocência tinha ido embora e o que ficou foi um macho ferido, misterioso e bem... Potencialmente perigoso. Helion não deveria gostar disso, mas se sentia exitado. Era interessante saber que seu parceiro tinha se tornado uma pessoa tão singular.

Será que a mágoa que Lucca sentia era tão grande ao ponto de ter desistido dele? Será que ele estava disposto a seguir sua vida sem Helion? Essas perguntas rondavam a sua mente incessantemente e nem mesmo a bebida foi capaz de aplacar a dúvida. Ele dava razão a Lucca em alguns pontos. Entendia a mágoa, mas não queria admitir. Se Lucca tivesse descoberto a parceria primeiro, Helion iria querer ser informado. Será que ele deveria ter dito mesmo Lucca sendo tão jovem?

Pela primeira vez na sua vida Helion não queria ser capaz de pensar, queria pausar sua mente. Logo ele que sempre deu valor a sua racionalidade. Talvez as questões do coração devesse ser tratada pelo coração e não pelo cérebro. Mas será que ele conseguia fazer isso?

Depois que Athos saiu dizendo que ele precisava descançar mais para curar a cara feia. Helion se dirigiu a sua escrivaninha, em uma das gavetas ele guardava uma caixa com os bilhetes que Lucca uma vez deixou para ele. Ele guardou todos. Talvez ele fosse mais emotivo do que poderia admitir pra sí mesmo.

Depois de ler todos os bilhetes não se sentiu melhor do que estava antes. A saudade aumentou, a dor de cabeça também. Então tomou sua terceira decisão ruim em vinte quatro horas, e decidiu curar a ressaca bebendo mais.

 Então tomou sua terceira decisão ruim em vinte quatro horas, e decidiu curar a ressaca bebendo mais

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Lucca se sentia cansado. Depois da conversa com Lucien, almoçou sozinho e decidiu ir até uma das bibliotecas da cidade. Não queria correr o risco de cruzar com Helion pela casa. Pegou um livro emprestado, passeou pela cidade, conversou com algumas pessoas que não via desde a sua partida e só voltou quando já
estava bem tarde, pois sabia que Helion dormia cedo.

Deitando em sua cama, decidiu ler um pouco antes de dormir, mas cinco minutos depois ficou atento. Havia algum tipo de comoção no andar de baixo, no jardim abaixo da varanda de seu quarto. Alguém estava gritando.

Pulando da cama, Lucca pegou uma espada e algumas facas e foi verificar o que estava acontecendo e não acreditou no que viu quando abriu as portas da varanda. Helion estava visivelmente bêbado, sem a parte de cima da sua roupa e descalço com os braços para cima e gritando o seu nome.

- Lucca, Lucca, fala comigo! Lucca você não me ama mais! - Helion gritava a plenos pulmões.

- Pela mãe, Helion, que merda é essa? - A essa altura alguns guardas e pessoas que trabalhavam no Palácio começaram e espiar de longe, preocupados.

- Lucca! Meu amor! Eu te amo! Meu amor! - Helion soluçava, chorava e trocava as pernas como se fosse cair. O queixo de Lucca já tinha caído, morrendo de vergonha ele disse:

- Helion, saia já daí. Cala a boca e vá para seu quarto. As pessoas estão olhando!

- Lucca! Seus cabelos são negros como a noite e seu olhos são verdes como... A grama! - Nesse momento Lucca teve uma crise de riso, pelo Caldeirão, Helion era péssimo! Isso era pra ser um elogio?

- Fique aí, eu vou descer pra te buscar.

Descendo as escadas, Lucca se encontrou com Athos no meio do caminho para o jardim, e bastou um olhar na cara um do outro para a crise de risos voltar. Lucca não sabia dizer quem estava se divertindo mais, ele ou Athos. Provavelmente Athos, já que Lucca também estava um pouco confuso e mortificado.

- Vamos tirar o bêbado de lá antes que ele faça algo de que se arrependa. - Disse Athos entre uma gargalhada e outra.

- De que se arrependa mais, você quer dizer. Acredito que amanhã ele não vai olhar na cara de ninguém.

- Ah, mas ele vai! Porque eu vou fazer questão de nunca o fazer se esquecer disso!

Chegando no jardim, Helion estava sentado na grama, ainda olhando para a varanda de Lucca. Parecia mais jovem do que era, parecia vulnerável. Lucca sentiu um afeto muito grande, um aperto no peito e uma vontade de proteje-lo a todo custo. Pegando Helion pelo braço Lucca disse:

- Vamos, vou levá-lo para a cama.

- Para a sua cama, meu amor? - Os olhos de Helion já se fechava sozinhos.

- Não, para a sua cama. Acho que você vai querer acordar sozinho amanhã.

Então Helion desmaiou, deixando Lucca e Athos a cargo de carregar mais de cem quilos de músculos escada acima.

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