Passado

141 15 6
                                    


Semanas se passaram sem nenhuma notícia de Beron ou da Corte Outonal. Esse silêncio e falta de ação não eram bons, Lucca pensou. Uma tempestade se aproximava, tinha certeza, se Beron não estava agindo era porque estava planejando algo grande. Mas Lucca estava preparado. Tinha espiões em todos os lugares, inclusive dentro do exército da Outonal e ele mesmo sem adimitir a ninguém as vezes ia até lá pessoalmente. Era bom em se esconder.

Em casa as coisas estavam ótimas, ele e Helion passavam todo o tempo que conseguiam juntos, e é claro, dormiam juntos todas as noites. Quando Helion precisava sair cedo e Lucca estava dormindo sempre deixava um girassol, a flor símbolo da Corte, ou um chocolate ou outro doce sobre o travesseiro. Lucca amava doces. Já Lucca, voltou a destribuir bilhetinhos pela casa, para que Helion os encontrasse.

Lucca pensou que não pudesse ser mais feliz. É claro que ele queria acabar com Beron e poder voltar a circular pela Outonal. Queria a sua família, que lá vivia, segura e feliz, mas tinha um pouco de medo, tinha que admitir. Ele teria tudo o que sempre quis, e ninguém pode ter tudo. Ou pode? A sensação de que algo ruim ia acontecer não o deixava em paz e sua intuição nunca o enganou antes.

Durante a manhã ele conversou sobre isso com Helion. Era ótimo ter alguém em que podia confiar integralmente e ser sincero sobre seus sentimentos. Helion o ouvia e apoiava em tudo. O ouviu com paciência e tentou acalmá-lo. Disse que ele só estava ansioso e temoroso pela família e que isso era normal. Que ia ficar tudo bem. Ele concordou, para não alarmar Helion, mas a sensação ruim não passou.

Lucca sempre fora muito destemido e não se preocupava muito com as consequências de seus atos, mas ele também nunca tivera nada a perder. Mas agora ele tinha e isso o estava apavorando.

As coisas não melhoraram muito a tarde. Das poucas vezes que em que viu Helion ele parecia distante, Lucca não entendia o porquê, de manhã eles estavam ótimos e até tiveram aquela conversa, mas quando a noite chegou, Lucca teve certeza de que alguma coisa realmente incomodava Helion.

Athos e Helion jogavam xadrez depois do jantar e estavam imersos em uma conversa que parecia muito séria, assuntos da Corte, Lucca pensou, mas de onde estava sentado no sofá lendo um livro ele não podia ouvir a coversa realmente. Então Athos deu um olhar muito significativo a Helion que anuiu e se levantou, abandonando o jogo. Então virando para Lucca ele disse:

- Precisamos conversar. - e seguiu para as escadas sem esperar por Lucca.

Lucca olhou para Athos que acenou o incentivando a seguir Helion, e a julgar pela cara dele, que sempre estava bem humorado, essa não seria uma coversa agradável. Athos estava extremamente sério.

Helion não sabia como começar aquela conversa, mas desde que tinham acordado em serem sinceros um com o outro Helion tentava se preparar pra isso

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Helion não sabia como começar aquela conversa, mas desde que tinham acordado em serem sinceros um com o outro Helion tentava se preparar pra isso. Pela manhã Lucca estava genuinamente preocupado com a situação na Outonal e se mostrou muito preocupado principalmente com a sua tia Sarah. Aparentemente seu parceiro a amava muito o que levava Helion a uma situação complicada.

Ele se preocupou pouco com esse assunto até agora. Ele era velho, conheceu e se relacionou com muitas pessoas, e se Helion fosse sincero consigo mesmo ele tinha que admitir que nunca achou que fosse ter essa conversa com seu parceiro, não porquê queria esconder coisas de Lucca, mas porquê no fundo tinha perdido as esperanças de ter uma vida a dois com ele. Mas dada as circunstâncias Lucca em algum momento descobriria, então melhor que fosse por ele. O relacionamento de Helion e Sarah só era um segredo porque tinha sido extraconjugal, mas acabou a muitos anos e não tinha porquê Helion continuar escondendo isso de seu parceiro.

Mas Helion tinha receio da reação de Lucca. Era óbvio que ele sabia que Helion tinha um passado, mas não com a sua tia. Sua amada tia, que um dia arriscou a própria vida para salvar a dele. Que pediu um favor a seu ex amante para que o abrigasse. Talvez fosse demais para Lucca. Athos insistia que estava passando da hora de ele saber, dizia que quanto mais Helion demorasse a contar pior seria quando Lucca soubesse e depois de toda a preocupação de Lucca mais cedo em relação a sua família... Bom, havia chegado o momento.

Helion sentiu que Lucca o havia seguido até uma sala de leitura no segundo andar. Helion não teria aquela conversa no quarto. Se sentou em uma poltrona e sinalizou para que Lucca se sentasse na outra, a sua frente.

- Não quero me sentar, me diga o que está acontecendo. - Lucca o olhava temeroso.

- Pois bem... - Helion uniu os dedos das mãos, respirou fundo e continuou. - Você sabe, eu me relacionei com muitas pessoas antes de conhecer você e já que acordamos em sermos sinceros um com o outro nós precisamos conversar sobre isso.

- Helion, eu não posso te culpar ou julgá-lo por ter tido relacionamentos mesmo antes de eu nascer...

- Eu sei anjo, mas existe um em especial que você precisa saber. Aconteceu a muitos séculos e acabou a séculos também, mas você precisa saber. - A respiração de Helion estava falhando e suas mãos suavam, mas ele tentava manter a calma. Lucca sinalizou para que ele continuasse. - Quando eu era jovem conheci uma fêmea em um baile no Solstício. Nos apaixonamos, como jovens se apaixonam, eu quis me casar com ela. Mas a família dela tinha outros planos, queria ter laços internos com sua Corte, então decidiram casa-la com outro macho. Nos encontramos muito tempo depois disso, ela já casada e com filhos, então tivemos um caso. - Helion não acreditava que estava dizendo aquelas palavras a Lucca.

- Então você foi amante de uma fêmea casada, e no que isso me diz respeito? Porquê preciso saber disso?

- Você precisa saber Lucca... que aquela fêmea... é a sua tia Sarah. - Helion viu Lucca ficar vermelho e depois pálido. Parecia enjoado, então deslizou e caiu sentado, sem graça nenhuma, na poltrona.

- Continue. - Foi tudo o que Lucca disse, e Helion continuou. Contou tudo, de como a salvou na guerra, das indas e vindas por décadas e de quando Beron descobriu e foi o fim dos dois. Lucca ouviu tudo em silêncio, não fez perguntas, não interrompeu Helion. Por fim, quando o relato acabou, ele disse:

- Você descreve minha tia muito diferente da fêmea que eu conheço.

- Ela era diferente. Quando Beron descobriu a traição, bem, as coisas mudaram. Você sabe como ele a trata. Eu era o amante, não era parceiro dela, não podia reclamá-la para mim. Não pude tirá-la de lá. E ela não viria. Ela nunca abandonaria os filhos. - Lucca acentiu, ele sabia.

- E você esperou todo esse tempo para me dizer. Eu gostaria de ter podido escolher se queria ou não ter um relacionamento com o amante da minha tia. - Ele estava irritado.

- Eu sei anjo. Mas isso é um assunto sério, se Beron soubesse que alguém mais sabe... Você era muito jovem e o relacionamento acabou a muito tempo, a 368 anos para ser mais exato. Esse assunto pertence ao passado e eu não sabia que seríamos parceiros. E depois, quando soube, você estava me deixando.

- Como vou encará-la agora Helion? Como vou dizer a minha tia que por ela ter me salvado aquele dia eu roubei o macho que ela amou? Quando Beron por ventura morrer vocês poderiam ficar juntos, não?

- Eu não sei anjo, mas agora, para mim, só existe você. Ela é passado! - Lucca estava arrasado, não olhava Helion nos olhos e tinha os ombros curvados. Então disse:

- Entendo o porquê de você ter demorado para me dizer. Também não posso julgá-lo pelo seu passado. Mas eu me sinto culpado, mesmo só sabendo agora. Preciso pensar Helion. Quero dormir sozinho essa noite.

A Court Of Fire And SunlightOnde histórias criam vida. Descubra agora