Feliz Aniversário

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Lucca não dormiu aquela noite, a culpa que sentia era imensa. Como poderia encarar a sua tia novamente? E para piorar tudo, sentia falta de Helion na cama. O que o fazia se sentir culpado de novo. Esse era um novo tipo de tortura e além do mais ele estava indignado, toda vez que achava que pudesse ser feliz acontecia algo que estragava tudo. Dessa vez ele não sabia se poderia suportar.

Melhor se concentrar no trabalho. E aquela seria uma manhã agitada. Lucca recebera uma carta de Eris, e o que era revelado na carta deixara Lucca estarrecido. Eris afirmava ter descoberto de fonte segura o presente que Beron prometera a Koschei e o pior deveria ser entregue ainda nesta manhã.

Deixando tudo de lado, Lucca se aprontou e se armou rapidamente e saiu, precisava ver com os próprios olhos. Ainda estava escuro quando atravessou até o território humano e partiu dalí, seguindo de perto Beron e seus soldados.

Era dez horas da manhã quando chegou até o lago, não pode se aproximar muito pois temia que tanto Beron quanto Koschei desse por sua presença. Não conseguiu ouvir o que foi dito entre os dois, mas quando o 'presente' foi entregue sentiu ânsia de vômito e uma revolta tremenda. Beron entregava a Koschei uma fêmea.

Lucca conhecia a fêmea. Tinha aproximadamente a sua idade, lembrava de brincar com ela quando era criança. Diziam que ela faria um bom casamento um dia. Provinha de uma boa família da aristocracia da Corte Outonal e era muito bonita. Lucca se perguntava o que teria feito tal fêmea para agora ser mais uma na coleção de Koschei, porém conhecendo Beron... Ele não precisava de motivo algum, fazia o que queria.

O sangue de Lucca gelou, os Grãos Senhores precisavam saber disso. Depois que a fêmea passou de mãos ele não esperou o desfecho e partiu antes de Beron. Primeiro relataria a Lucien para que ele se reportasse a Rhysand e depois, a noite, conversaria com Helion. Alguma coisa precisava ser feita para parar Beron.

Parado na porta da mansão, Lucca torcia para Lucien está em casa, e não só por causa do que acabara de descobrir, mas Lucca precisava de uma distração e seu primo sempre o divertia muito

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Parado na porta da mansão, Lucca torcia para Lucien está em casa, e não só por causa do que acabara de descobrir, mas Lucca precisava de uma distração e seu primo sempre o divertia muito. Era engraçado, eles se conheceram a tão pouco tempo mas Lucca sentia que se conheciam a vida toda. Ele era tão divertido e tão... Familiar. Ambos compartilhavam muitas dores e eram exilados da mesma Corte. Eram como família, mas não a família que divide laços de sangue, mas sim, como família que se escolhe ter. Mesmo sendo imprudente, Lucca já o amava um pouquinho.

Depois de bater e ouvir um abafado "já vou" Lucien abriu a porta. E Lucca estava definitivamente feliz de ter ido até alí, só queria que os motivos que o levaram tivessem sido diferentes. Lucien estava com o cabelo bagunçado preso no alto da cabeça, coberto de farinha e com um lindo avental cor de rosa com bordados de coraçãozinhos vermelhos. Lucca nem tentou abafar o sorriso e gargalhou alto.

- Eu estou cozinhando. - Disse Lucien, tentando disfarçar o constrangimento.

- Eu percebi.

- Entre, vamos até a cozinha. Não esperava receber visitas hoje.

- Você está sozinho?

- Ah, sim. Bem Jurian e Vassa tinham assuntos a resolver, acho que não voltam hoje. Na verdade acho que devem estar em algum hotel barato por aí.

- Então eles são um casal?

- Um dos piores tipos de casal, ou estão brigando ou... bem você sabe.

- É, eu sei.

- Então, o que o traz aqui?

- Seu pai.

Quando Lucien arregalou os olhos, Lucca explicou toda a história, o comunicado de Eris, a pobre fêmea... Lucien ouviu em silêncio, chingando o bastardo de vez em quando. Eles ficaram acertados de comunicarem a seus respectivos Grão Senhores. Lucien imediatamente escreveu a Rhysand e Feyre uma carta, comunicando o ocorrido e prometendo ir a Velaris na manhã seguinte. O que deixou Lucca curioso.

- Então, você não prefere ir até a Corte Noturna dar a notícia, dada a gravidade da situação?

- Eu não gostaria de estar lá hoje. - Disse Lucien um pouco incomodado. Depois de um minuto de silêncio, ele concluiu. - Hoje é aniversário da minha parceira. Ela fica desconfortável com a parceria... E comigo. Gosto de dar espaço a ela. Ela não sabe que eu sei, do aniversário.

Lucca não pode deixar de se entristecer pelo primo, um macho sem a parceira. Sabia como era viver assim, com a ausência, e a saudade. Com o sentimento da perda. Agora ele tinha a oportunidade de pelo menos discutir com o seu. Sentindo o desconforto de Lucien ele tentou mudar de assunto e deixar o clima mais leve.

- Então, o que você tá cozinhando aí?

- Bolo. O bolo de nozes e chocolate da minha mãe. A vi fazendo muitas vezes, decorei a receita. Claro que não fica tão bom quanto o dela.

- Ah! O bolo de nozes da tia Sarah! O meu preferido! Faz muito tempo que não como. - Lucca admitiu, meio triste.

- Então você é meu convidado a ficar. É meu preferido também. Era nossa tradição sabe, todo aniversário meu ela fazia. Agora sou obrigado a fazer eu mesmo. - O sorriso triste de Lucien fez o estômagos de Lucca se contrair.

- Então é seu aniversário também...

- Sim. 367 anos. Mas me sinto com 18 e 1000 ao mesmo tempo.

- Bem, já que é uma festa, vamos comemorar! Onde está o vinho? - Lucca disse, batendo palmas e indo atrás das bebidas enquanto Lucien sorria.

Beberam até a noite cair, e o bolo estava realmente muito bom. Conversaram sobre bobagens, riram e tiraram sarro um do outro, principalmente daquele avental horroroso, que aparentemente era dos antigos donos da casa. Já a noite, andando lentamente a caminho de casa, Lucca pensou que ficou realmente feliz em lhe fazer companhia, pelo visto se não tivesse feito Lucien ia passar o aniversário sozinho.

Pela mãe, 367 anos e nenhum amigo para compartilhar um bolo de aniversário, para lhe dar os parabéns e dizer que se importava com ele. Lucca passou os últimos anos muito sozinho também, já não sabia se podia continuar vivendo assim. Gostava tanto da Corte Diurna e seu povo, de conversar com as pessoas na rua, de brincar com Athos. Já não queria ser mais uma sombra, uma lenda, um ser temido. Queria uma família. A sua família da Diurna. E queria que Lucien tivesse o mesmo. Um macho tão bom, educado e bonito. Lucca sorriu em se lembrar da conversa dos dois, da risada fácil de Lucien que iluminava todo o ambiente. Aquele seu cabelo refletindo uma luz suave toda vez que Lucca contava uma piada... Então, de repente Lucca parou. Perplexo. Agora ele entendia a familiaridade. Não era porque Lucien era filho de Sarah. E no meio da floresta escura ele não pode deixar de dizer em voz alta:

- Pelas tetas da Mãe, Lucien é filho de Helion!


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⏰ Última atualização: Feb 04, 2022 ⏰

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