Adeus

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Então havia chegado, o fatídico dia. Lucca não dormiu aquela noite, Helion também não. Eles leram, fizeram amor, Lucca chorou copiosamente, fizeram amor de novo, mas ninguém dormiu. O seu navio sairia antes do almoço o que o dava poucas horas para se aprontar.

Tomaram o café juntos, Athos apareceu logo em seguida com os braços cheios de livros.

- Vou sentir sua falta garoto, os livros são para você. - Athos parecia genuinamente melancólico, eles haviam feito uma bela amizade durante os debates literários em que participavam. Sinceramente, Lucca teve de admitir, a maior parte do tempo eles se uniam para tirar Helion do sério, o que era muito engraçado.

- Acho que vou precisar de uma mala só para os livros. - Lucca riu agradecendo a Athos em seguida.

- Então, está animado para a sua nova aventura? - Athos perguntou, tentando parecer otimista.

- Ansioso sim, animado, não muito, não sei o que esperar.

- Bem, você sempre pode voltar, não é Helion? Ele não vai ser tão jovem para sempre!

- É, claro. - Helion não parecia muito animado. Olhava para Athos com uma cara engraçada.

- Bem menino, faça uma boa viagem e mande notícias.

Depois de se despedir de Athos, Lucca voltou a seu quarto pela última vez. Guardou os livros, conferiu se não estava se esquecendo de nada e desceu para o hall do Palácio com suas malas. Quando ele chegou só tinha uma pequena mochila, agora estava indo embora cheio de coisas. Ele só tinha que agradecer, aquelas pessoas não precisavam tê-lo ajudado, mas além de terem feito ainda tinham sido muito boas para ele.

Helion o encontrou em seguida. Eles seguiriam juntos até o porto.

- Está pronto anjo?

- Eu gostaria de agradecê-lo primeiro Senhor, obrigado pela sua hospitalidade você foi muito gentil em me receber aqui.

- Primeiro, nada de Senhor... Helion por favor, e segundo eu é que devo agradecer, você iluminou os meus dias senhor Lucca D'Angelo.

- Eu nunca vou me esquecer do que você fez por mim. - E ele não esqueceria mesmo, aprendeu mais alí em poucas semanas do que em toda a sua vida na Outonal. Helion o ensinou a ser paciente, confiante, o educou em Política, Filosofia, Sociologia, o ensinou a atirar com o arco, o ensinou a amar. Ele ia embora da Diurna uma pessoa muito melhor do que era quando chegou. Se tornou um bom macho, porque Helion era um bom macho.

- Porque está se despedindo de mim como se nós nunca mais fossemos nos ver de novo? - Helion parecia infeliz. Mas Lucca não quis mentir, ele não merecia.

- Porque acho que não vamos, e se nos vermos de novo, acho que vai demorar, muito.

Helion o abraçou e então seguiram caminho até o porto da Corte Diurna, onde sua vida mudaria para sempre.

Helion o abraçou e então seguiram caminho até o porto da Corte Diurna, onde sua vida mudaria para sempre

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Helion nunca tinha se sentindo tão infeliz durante toda a sua vida. Lucca estava indo embora e ele não podia fazer nada para mudar isso. Foram até o porto caminhando, não era tão longe do Palácio, mas ainda assim a caminhada era suficiente para terem tempo de absorver a realidade e se despedirem.

Lucca parecia que estava mesmo se despedindo da cidade. Olhando para tudo por uma última vez, tentando guardar os detalhes na memória.

- Então o que vai fazer primeiro quando chegar a Vallahan? - Helion perguntou, mais para puxar o assunto, Lucca parecia mais triste a cada minuto.

- Eu não sei, meu pai não me deu nenhum detalhe, só mandou a passagem.

- Quero que você me escreva, quero detalhes das suas aventuras.

- Você não tem tempo para ficar lendo cartas sobre as bobagem da minha vida jovem. - Lucca Riu.

- Sempre terei tempo para você anjo. Promete que escreve?

- Prometo.

- Sabe o que acho estranho? Não encontrei nenhuma das suas poesias hoje. Desistiu de me seduzir? - Helion fez um biquinho, a cara de deboche que ele sabia que tirava Lucca do sério.

- Na verdade eu escrevi várias dúzias delas, estão espalhadas pela casa, você ainda vai encontrá-las durante um mês. - Lucca riu, era um de seus prazeres, imaginar Helion lendo poesias escondido e pensando nele.

Helion não conseguiu deixar de rir, ele era incrível, deixou migalhas para ele encontrar. Ele iria procurar cada uma delas.

Seguiram pelas ruas sem pressa, o destino final era muito triste, porém inevitável. Enfim chegaram no porto. Enquanto Lucca fazia o Check-in da viagem, Helion despachava as suas malas. E antes que Lucca percebesse, Helion colocou dentro delas uma aljava com um arco e flexas, o mesmo que ele tinha ensinado Lucca a usar. Colocou também o seu livro de aventura preferido com uma dedicatória, para ele se inspirar em sua nova jornada. E uma fivela de ouro, aquela fivela em formato de sol, que ele usava prendendo sua roupa na primeira vez que fizeram amor.

Lucca voltou dizendo que precisava subir a bordo, se abraçaram por um longo momento, as pessoas passando por eles e olhando atentamente o Grão Senhor abraçando um rapaz desconhecido com tanto afinco, Helion não se importou, precisava senti-lo uma última vez.

- Eu amo você, eu amo você, eu amo você... - Lucca dizia em seu ouvido, como um mantra.

- Vá com segurança, e que a Mãe o proteja, meu anjo! - Helion o beijou uma última vez e então ele embarcou.

E enquanto o barco se afastava do cais, Helion ouviu aquela canção, mais antiga que o tempo, mais misteriosa que o mar, cantar em seu coração, a mesma canção que ele ouviu naquele dia no anfiteatro. E viu aquele laço, brilhante como o sol, nítido como o dia. E do outro lado do laço o seu amor, seu igual, seu parceiro, indo embora para não mais voltar.

A Court Of Fire And SunlightOnde histórias criam vida. Descubra agora