PARTE 1
O sol ainda não havia nascido quando Helion acordou, era assim todas as manhãs, ele acordava cedo, tomava seu café da manhã enquanto o sol despontava no horizonte e ia trabalhar. Se sentava em seu escritório particular e começava o trabalho antes de seus acessores chegarem, era assim que seu pai fazia, foi assim que ele foi educado a fazer, trabalhar duro, se importar com sua corte mais do que qualquer outro, afinal, ele era o Grão Senhor.
Mas naquela manhã seria diferente, enquanto ele tomava seu chá em sua sala particular sua anciedade crescia. A alguns dias atrás ele tinha recebido uma carta da Corte Outonal, sem insígnia oficial, uma carta particular. Ele já sabia de quem se tratava antes de abrir a carta, reconheceu o cheiro, e quando a abriu, reconheceu a letra, sem precisar conferir a assinatura.
Sarah. Ele reconheceria uma carta de Sarah Vanserra até de olhos vendados, apesar de já fazer quase 400 anos que não recebia uma delas.
Mas essa não era uma carta de amor, como as que ele costumava receber a tantos anos atrás, não, era um pedido de ajuda.
Na carta Sarah era educada e direta, pedia ajuda para um sobrinho, filho de sua irmã mais nova, a unica irmã das três que sobreviveu a guerra, a mais de 500 anos, a única familia que ela tinha, além dos filhos.
Ela dizia que o sobrinho corria risco de vida, que Beron, seu adorado marido, estava disposto a mata-lo, e que o rapaz precisava de um lugar para ficar escondido por algumas semanas, até poder embarcar em um navio para uma das cortes feericas no continente, onde seu pai vivia.
Helion cogitou negar o pedido, não queria se envolver com aquela familia de novo, não queria se meter com Beron e principalmente não queria vê-la novamente, seria a primeira vez, depois de todos aqueles anos e Helion tinha medo de como se sentiria, ele ainda se lembrava da dor, da perda da fêmea, depois de Beron descobrir o romance e ela decidir ficar com o marido e não com ele.
Mas ele conhecia a fama de Beron, e sabia que as outras cortes se negariam a ajudar, e por uma questão de cortesia e consideração ao passado dos dois ele disse sim, o rapaz poderia passar algumas semanas na Corte Diurna.
Então Helion terminou seu chá, se vestiu apropriadamente e se dirigiu até o Meio, aquele lugar horrível onde ficava A Montanha.
Quando Helion chegou já havia três pessoas o aguardando. Embaixo da sombra de uma árvore ele pode distinguir a silhueta de dois machos e uma fêmea, ela. Helion se aproximou calmamente, tentando parecer entediado e indiferente, bem diferente do que ele estava sentindo.
- Bom dia - disse ele, observando as pessoas diante de sí.
O primeiro macho, espelhando a expressão entediada do próprio Helion era Eris, o filho mais velho, e possível herdeiro da Outonal. Com os cabelos longos e ruivos como os da mãe e impecavelmente vestido, não disse nada.
O segundo macho, ele nunca tinha visto antes, também não disse nada, olhava os próprios sapatos e parecia desconfortável. Helion tirou uns segundos para olhar melhor.
O rapaz não tinha as cores terrosas da Corte Outonal, em vez de cabelos ruivos ou castanhos ele tinha cabelos de um preto intenso na altura dos quadris, pele pálida e um rosto lindo. Muito lindo. Incrivelmente lindo. Helion pensou que deveria ser proibido alguém ser tão bonito assim. Ele tinha olhos de um verde muito claro, como uvas e lábios grossos e bem desenhados, as bochechas coradas. Andrógino, um lindo rapaz com cara de menina. E ainda assim tinha um corpo longilineo e forte, não musculoso, mas saudável e atlético. Um mestiço entre cortes, Helion pensou encantado.
E a terceira pessoa era ela, a que um dia ele chamou de sua.
A primeira vista Sarah estava igual a que ele se lembrava, linda, elegante e pura. Porém seus olhos tinham perdido o brilho, ela estava igual e diferente ao mesmo tempo, uma sombra do que um dia ela foi. Morta por dentro. E foi ela quem o respondeu:
- Bom dia Helion - como era estranho ouvir seu nome em seus lábios de novo. - Obrigada pela ajuda, sinto muito em ter que incomodá-lo, mas a situação é urgente, como te expliquei ele é o único filho da minha irmã e Beron está disposto a vê-lo morto a qualquer custo.
- Não é incomodo algum - disse ele, mentindo - São só algumas semanas.
Ela sorriu para ele, sabendo que ele mentia, ela o conhecia muito bem, durante décadas eles dividiram a cama e a vida, ela contava seus problemas e ele os seus, faziam planos para o futuro, ela deixaria o marido quando os filhos pudessem se virar sozinhos e eles viveriam juntos, em sua corte, teriam sua própria familia. Como era estranho fazer tantos planos e de repente tudo acabar. Como era estranho terem planejado um futuro que nunca existiria, terem planejado um filho, seu próprio herdeiro.
Esse filho que nunca existiu era seu único arrependimento. A única coisa que ele desejou mais do que a ela própria. Mas como eles poderiam... Beron mataria a todos.
- Então, como se chama meu hóspede pelas proximas semanas? - perguntou ele em um tom divertido.
- Lucca - o jovem macho respondeu timidamente, ainda sem tirar os olhos dos sapatos - Lucca D'angelo.
- Lucca D'angelo - reperiu Helion, em tom de deboche - Nome de anjo.
Sarah ergueu as sombrancelhas, Eris segurou o riso e o rapaz ficou da cor de um tomate maduro.
- Então vamos embora Senhor D'angelo, vou leva-lo a sua nova casa pelas próximas semanas - Helion segurou o braço do macho e atravessou os dois para a Corte Diurna.
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A Court Of Fire And Sunlight
Fiksi PenggemarHelion, Grão Senhor da Corte Diurna era conhecido por seus feitos e sua reputação. Quebrador de feitiços, libertino, macho mais inteligente de toda Prythian, possuidor de mil bibliotecas. Helion merecia esses nomes, batalhou por todos eles, mas o q...