Fazia sete dias que não havia nenhuma morte do assassino, para ser mais exata, desde o dia que meus dois oficiais foram mortos na cena do crime. Isso me deixa levemente assustada, mas um pouco aliviada também.
Pietro estava estranho desde o nosso último encontro, parecia perdido em um mundo paralelo somente dele, em que eu não ousava entrar. Queria poder conversar com ele sobre todos os assuntos inacabados do passado, mas às vezes, o silêncio precisa permanecer, por mais que seja perigoso.
Estava a caminho da delegacia após Jackson marcar uma reunião importante. Quem nos comunicou foi o Pedro.
Jackson era o nosso supervisor e respondia diretamente ao FBI, o que me faz estranhar essa reunião, já que Aleksander está pela cidade.
Estaciono meu carro e desço, percebendo que todos já estão aguardando do lado de fora da delegacia. Caminho até eles e Jackson me olha.
— Agora que estão todos aqui, podemos entrar, temos assuntos importantes a tratar. — Fala e se direciona para a sala de reunião, a qual é onde geralmente acontecem esses encontros.
— Mas que porra é essa? — Ouço Jackson gritar e o encaro, vendo o vidro e a porta da sala de reuniões completamente cheios de sangue. Ele abre a porta rapidamente e entra, o sigo, estranhando os demais ficarem parados do lado de fora sem demonstrar interesse em entrar.
Liza, a esposa de Jackson, está sentada na ponta da mesa, seus olhos estão cheios de lágrimas e suas mãos cobertas de sangue. Ao seu lado vejo um corpo caído, não um corpo qualquer, mas de um oficial aqui da delegacia.
— Liza?!... — Ele tenta se aproximar, mas ela recua, totalmente atordoada. — Amor... querida, venha, eu não vou fazer nada com você. — Liza dá um sorriso triste e as lágrimas escorrem por seu rosto.
— Você fez isso comigo... — Ela murmura e então vejo uma sombra atrás dela, encostada na parede. — Você quem tomou às decisões no passado, ele está furioso... — Sussurrou a última parte.
Observo atentamente as reações do Jackson e da Agatha. Incrível eu diria. Somente os dois estão na sala, dei ordens diretas para ninguém mais entrar aqui. Saio de onde estou e vou para o lado da Liza.
Vejo o Jackson ficar pálido ao perceber minha presença. Toco o ombro da Liza e sorrio.
— Sente-se Liza... — Ela me obedece prontamente e paro mais uma vez atrás dela, escorado na cadeira. Ela mantém os olhos fixos no marido.
— SEU DESGRAÇADO! Você deveria estar morto! — Ele se exalta e ela encolhe os ombros, com medo. Liza acha que o marido é o vilão, que ele é motivo de sua ruína. Ela está certa sobre ele ser o vilão, mas ele faria tudo por ela e é exatamente por isso que a escolhi, da mesma forma que ele ajudou a escolher a Aiyana anos atrás.
Da mesma forma que ele se intrometeu em assuntos que não deveriam.
Percebo Agatha pegar a arma discretamente e reviro os olhos. Sabendo que ela jamais teria coragem de atirar, sua face está tão pálida quanto do idiota na minha frente.
— Se eu fosse você, não faria isso, detetive. — A encaro e ela paralisa. — Inclusive, deveria saber que quem mente para mim não tem um final feliz... — Sussurro a última parte e ela fica estática.
— Solte a Liza, ela não tem nada a ver com a nossa história. — Jackson fala.
— Realmente, ela não tem nada a ver. É uma pena pessoas inocentes morrerem por escolhas do passado, não é mesmo? — Ele fica em silêncio, seu olhar está preso na esposa. — Você mais do que ninguém sabe no que sou capaz de fazer, principalmente quando tentam machucar alguém que amo. — Ele arregala os olhos, sabendo exatamente do que estou falando. — Se tentar machucar alguém que eu amo novamente, a próxima vai ser sua mãe. Deveria ter cuidado apenas da sua vida, quando teve a oportunidade. — Ameaço.
— Ela é inocente Pietro! Não faz parte desse seu joguinho sujo! — Grita novamente se aproximando de mim. Liza aponta uma faca na sua direção e ele para imediatamente. — O que você fez com ela, seu canalha?
— Todos eram inocentes, antes de serem contaminados.
— Isso tudo é por causa dela, não é mesmo? Sempre foi por causa daquela vadia. — O encaro rapidamente. — Ela deveria ter sido morta antes.
Me viro para Liza e a levanto da cadeira com um movimento, a coloco de frente para Jackson e sorrio. Me abaixo o suficiente e sussurro no seu ouvido.
— Vamos lá, querida. — Pego uma rosa-vermelha que eu havia deixado no chão e a entrego. Ela sorri para mim e a cheira. — Você sabe o que precisa fazer...
Me afasto dela e vejo o exato momento que ela encara o marido e sorri com os olhos cheios de lágrimas.
— Você fez isso comigo...
E então, em um movimento rápido, ela enfia a faca na direção do coração, caindo morta logo em seguida.
— Não, não, não... — Jackson corre até o corpo da esposa e o segura em desespero. — Por favor, não... — Súplica e faço cara de tédio. Sempre o mesmo. Seu olhar levanta até onde estou e vejo toda a dor e raiva que está sentindo. — Eu vou matar você.
— Não vai, não, você sabe que eu acabo com todos que você ama antes que isso aconteça. — Cantarolo e vou saindo da sala. — Estou de volta Jackson, sei que sentiu minha falta. — Passo pela detetive que continua encarando a cena horrorizada e toco sua bochecha, fazendo com que ela saia do transe. — É um prazer te rever, Chermontt.
Caminho despreocupado até a saída da delegacia e vejo Kalel me esperando, juntamente com Kaden e Haelyn.
— Padrinho! — Os dois falam animados e me abraçam. Sorrio para eles.
— O que andam aprontando, hum? — Pergunto divertido e vejo o brilho no olho do Kalel. — Depois conversamos mais, isso daqui vai ficar uma loucura daqui a alguns minutos. Me mantenham informado. — Dou um beijo na testa de cada um dos dois e vou para o meu carro sendo seguido pelo Kalel.
— É bom ter você de volta aqui. — Ele fala e suspiro.
— É bom estar de volta, idiota. — Ele sorri. Essa cidade vai virar um inferno, e eu prometo incendiar cada canto, até encontrá-los.
Antes de dar partida com o carro, pego o diário e abro na página que estava lendo, tendo o olhar curioso de Kalel sobre mim.
"Hoje fui às compras com Max, mas estava me sentindo estranha, percebi que estava sendo seguida pelo Jackson, não sei o que ele poderia querer comigo, mas fiquei com medo do que vi em seus olhos. Ele sempre me dava medo. E, quando se aproximou de mim, ouvi um sussurrar de sua boca, mas espero estar ficando louca, pois ele dizia que meu tempo estava chegando ao fim.
Queria que o Pietro pudesse estar aqui comigo nesse momento, ele sempre faz tudo de ruim passar, todas as tempestades. Estou com tantas saudades, que acho que estou contando os minutos para poder ver ele novamente.
Eu o amo, somente isso basta."
VOCÊ ESTÁ LENDO
LAMARTINE
RomanceFaziam exatos 15 anos desde a última vez que Pietro viu os olhos de uma das pessoas que ele mais amou durante toda sua vida. Aiyana. Aiyana Lamartine. Até os dias de hoje, sua morte nunca foi esclarecida, as autoridades simplesmente abandonaram o...