Pietro Lamartine
[ 20 ANOS ANTES]
[...]
— Tem certeza que eu preciso fazer isso? — Ouço atentamente sua pergunta, consigo imaginar seu coração acelerado. O desespero em pensar que vai morrer.
— Está com medo, Agatha? Sério? — Debocho do seu momento de fragilidade, pois sei que ficará com raiva.
— Eu nunca pulei de um avião! Esperava o quê? Que eu fosse me jogar que nem uma maluca?
— Pensei que o seu treinamento para ser detetive, daria aulas de paraquedas... — Comento. Ela semicerra os olhos em minha direção.
— Aulas de paraquedas sim, mas suicídio voluntário, não. — Resmunga, com um bico.
A encaro profundamente, dou um sorrisinho de lado e termino de ajustar o paraquedas em meu corpo. Eu não sei quem é o mais louco nessa história, ela por ter aceitado ou eu por pensar logo em um avião.
— Te espero la embaixo, lembra que quem causou tudo isso, foi sua querida irmã! — Pisco e simplesmente me jogo do avião. Ouço ela gritar se não tenho medo de morrer.
Quando já estou em terra firme, aciono o pequeno dispositivo que me permite observar a maluca e escutá-la.
A vejo se aproximando da porta, e rezando para todos os santos e anjos. Por um breve momento observa todo o oceano.
— Por que ele não escolheu um simples barquinho? — A escuto resmungar. — Eu aceitaria até nadar com os tubarões. — Fecha os olhos, ajusto o paraquedas e se prepara.
— Eu sou muito mais macho que muito homem por aí, então é minha obrigação honrar minha reputação. É só um pulinho, certo? Eu sei que consigo, não é como se tivesse alguma chance de errar a direção e cair diretamente na boca de um tubarão sem alma e com muita fome. Será que tem tubarões aqui? — Murmura e seguro um sorriso.
— VAMOS LOGO, AGATHA! — Grito e percebo que ela quase cai de verdade. — JÁ ESTOU AQUI TE ESPERANDO, VOCÊ ESTÁ DEMORANDO DEMAIS A PULAR DESSA MERDA!
— Quê? Como eu consigo te ouvir? — Pergunta
— Talvez pelo rádio transmissor que tem no seu colete? — Falo, irônico.
— Tudo bem, se acalma, já estou pulando. — Fala e fecha os olhos se jogando do avião logo em seguida.
— Por que eu tinha que nascer com um parafuso a menos? Por que eu tinha que conhecer esse demônio em forma de gente? Eu deveria ter somente prendido ele, quando conheceu minha irmã! Agora eu não estaria nessa situação. — Escuto ela continuar a resmungar. — Sinto minha alma subindo para o céu, ela já está se desprendendo do meu corpo e subindo em direção ao divino, mas vou ser expulsa no primeiro minuto. Santo Cristo! Eu vou queimar no inferno!
Vejo o exato momento em que ela faz uma aterrissagem perfeita e caminho em sua direção, que me encara de semblante fechado.
— Se você rir, eu te mato! — Exclama e caminha na minha direção. — Você não tinha um barco não? — Dou um sorriso de lado.
— Tinha. — Abre a boca em choque. — Mas eu gosto de adrenalina, sabe? — Ela parece querer me matar, mas então percebe onde estamos.
Uma ilha. Afastada de toda a civilização.
— Que lugar é esse? — Pergunta.
— Meu lugar favorito no mundo — Falo, andando pela floresta. — E, minha casa.
— Você mora em uma ilha? — Continua a perguntar, enquanto me segue.
— Não tecnicamente, mas gosto de chamá-la de lar. Fiquei muito tempo aqui sozinho, então ela é minha casa. — Explico.
— Que lugar é esse? Minha irmã já veio aqui? — Pergunta novamente, sabendo que minha primeira resposta não está totalmente certa.
— Bem-vinda a Sede e prisão da Lamartine. — Respondo verdadeiramente e a vejo ficar boquiaberta.
[...]
Basilique Saint-Pierre, 05:22a.m, atualmente
Observo a cena que se passa diante dos meus olhos. Estou escondido observando já faz um tempo, ninguém notou minha presença até agora. Fecho os olhos com força com cada maldita lembrança que ronda minha mente nesse momento.
A vítima foi pendurada, por pedaços do que aparenta ser um paraquedas. Diferente das últimas vezes, essa tem o corpo esquartejado. Cada pedaço pendurado de uma forma terrível.
Uma autenticidade incrível, eu diria. Por um momento cogito a ideia de ser uma brincadeira do Kaden, fazendo tudo isso. Mas então, percebo uma sombra próximo de onde estou.
Um homem armado, apontando diretamente para Agatha, que conversa seriamente com o Pedro. Ao fundo consigo ver o Aleksander chegando e ele percebe onde estou e o homem armado. Percebo que ele faz um pequeno sinal que vai distrair os demais e me aproximo cautelosamente.
Estou em suas costas, sem que ele perceba. Aguardo alguns instantes, o homem parece estar tremendo. Quando ele coloca o dedo no gatilho, o agarro por trás e sussurro em seu ouvido.
— Linda né? — Pergunto ameaçadoramente. Vejo o panico em seu olhar e o próximo barulho que escuto é o seu pescoço quebrando em minhas mãos.
Morto. O homem está morto.
Tateio sua roupa e encontro seu celular tocando. O pego e atendo enquanto limpo minhas mãos.
[DESCONHECIDO] Conseguiu eliminar a detetive? Estou aguardando. — Limpo e garganta.
[PIETRO] Seu amigo teve um pequeno problema, sinto muito, ele vai precisar de ajuda.
[DESCONHECIDO] Você...
Fica sem voz, é notável o nervosismo. Pego a arma que agora está caída no chão e retiro a munição, trocando por algo bem melhor. Procuro o amigo do morto pelo local e o encontro, encarando o celular.
Tão patéticos que não sabem nem como se esconder de alguém como eu. Aponto a arma em sua direção e no momento exato ele percebe minha presença. Sorrio para ele e puxo o gatilho, atirando em sua perna. O quero vivo, pelo menos por enquanto.
O som da arma sendo disparada alerta todos que estão na cena do crime e sei que é a hora de me retirar, mando uma mensagem para Aleksander, pedindo que ele me encontre e levo comigo o celular da minha primeira vítima.
Quando já estou dentro do meu carro, ouço o grito de desespero e dor do segundo envolvido. Tão angustiante, tão doloroso, tão cruel. Uma dor tão alucinante que faz com que ele pense que está tendo todos os seus ossos quebrados ao mesmo tempo. Uma dor tão fatal é como se ele estivesse sendo devorado por lobos famintos.
Sinto meu celular vibrar e pego o mesmo, vendo uma mensagem.
I KADEN I Foi você, não foi?
Sorrio e dou partida com o carro.
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LAMARTINE
RomanceFaziam exatos 15 anos desde a última vez que Pietro viu os olhos de uma das pessoas que ele mais amou durante toda sua vida. Aiyana. Aiyana Lamartine. Até os dias de hoje, sua morte nunca foi esclarecida, as autoridades simplesmente abandonaram o...