Coliseu, ItáliaAgatha Chermontt
04:05 a.m. e a cena que se desenrola em minha frente me deixará em claro por várias noites. Quando seu celular toca durante a madrugada nunca é um bom sinal, mas quando é no meu trabalho, só pode ser duas coisas, ou estão te chamando para fazer turno extra, ou existe alguma morte para você investigar, no final, ambos são o mesmo.
O corpo em minha frente está coberto de cortes, o sangue que escorre dos ferimentos cai diretamente em uma enorme travessa de vidro com um papel pregado. Uma carta. Observo atentamente o cadáver, tentando encontrar alguma pista que me leve até o responsável.
— Alguma pista, Chermontt? — Pedro pergunta, enquanto faz uma cara de nojo.
— Nenhuma até agora, quem cometeu esse crime sabe o que está fazendo. — Respondo.
— Então vamos considerar somente como um crime normal? — Lhe encaro.
— Quais são as suas definições de crime normal? — Pergunto — Porque a minha, com toda certeza não é essa. O corpo está pendurado em um tronco de árvore, com os olhos furados, seu corpo todo mutilado, sangue escorrendo para uma travessa de vidro, detalhe, tem uma rosa na travessa. Parece um crime normal para você?
Antes que o Pedro possa responder qualquer coisa, caminho para onde Kaden e Haelyn acabam de chegar, ambos trabalham comigo e tem minha total confiança.
— Esse é um belo caso, hein? — Haelyn comenta, enquanto já corre para perto do corpo.
Ela é fissurada por investigação de crimes brutais, não consigo nem imaginar como ela se formou em Quântico sem ter sido presa por psicopatia. Mas ainda sim, daria minha vida pela dela.
Kaden me encara profundamente. Ele é como se fosse meu braço direito em qualquer caso, qualquer incidente, em qualquer momento, mesmo que ninguém aqui seja cem por cento confiável devido a assuntos inacabados do passado.
— Com o que você acha que estamos lidando? — Kaden pergunta, mas diferente dos outros oficiais que chegaram até o local, ele não parece nem um pouco surpreso com a cena diante de si.
É como se ele já tivesse presenciado algo assim.
Olho de relance para o corpo da vítima. Esse crime foi planejado, não existe outra explicação. Sei também que esse não vai ser o único e último corpo que o assassino deixará para nós. Todas as evidências, as poucas que encontramos, dizem isso.
Ele ou Ela não vai parar até concluir o seu objetivo.
— Alguém que sabe muito bem o que está fazendo. O assassino queria que achássemos o corpo rapidamente, caso contrário ele o esconderia melhor e não deixaria em um dos pontos turísticos mais famosos da cidade. — Caminho até o corpo e faço um sinal para o Kaden me seguir. — A carta e a rosa são a prova de que ele está deixando sua marca, dizendo quem é, então também quer que descubramos sua identidade. Isso é um jogo, Kaden, e ele está um passo a frente nesse momento.
— Um assassino em série? — Haelyn propõe, enquanto tira fotos do corpo.
— Também. Mas não um assassino em série comum. — Respondo, mas algo chama minha atenção. Coloco rapidamente minhas luvas e encosto no ferimento aberto em seu peito e com uma certa dificuldade, consigo arrancar um pendrive de dentro. Sorrio. — Vamos voltar rapidamente para o departamento, precisamos analisar esse pendrive.
Antes de sair, peço para que a equipe que iria ficar no local recolhendo as demais pistas tragam para mim a rosa e a carta.
Minutos depois estou em minha sala, aguardando impacientemente o bendito pendrive que teve que ser levado para coletar todas as evidências e só depois passaria para um técnico.
— Não conseguiram encontrar nada no pendrive, Agatha. — Kaden adentra minha sala com Haelyn ao seu lado. Mas, eu os conheço bem para perceber um certo receio em seus olhares.
— Nada? — Pergunto e ele me entrega o mesmo.
— Nada. Totalmente vazio.
— Estão me dizendo que nossa única pista não tem absolutamente nada que nos leve ao assassino? — Eles assentem e suspiro cansada — Vejam por favor se já trouxeram a carta e a rosa — Peço, enquanto ainda encaro o pendrive em minhas mãos.
— Agatha... — Kaden começa a dizer, mas ganha uma cotovelada de Haelyn.
— Não pense em falar esse nome, sabe que é perigoso.
— Que nome? — Pergunto, mas os dois se calam na minha frente. — Fiz uma pergunta e espero ser respondida. Vocês não vão querer me deixar com raiva.
— Acredito que o pendrive possa estar codificado, já vi algo parecido antes. Tenho um amigo que está na Itália de férias e ele sabe como descodificar qualquer coisa. O conheci enquanto estudava em Quântico e nos tornamos muito amigos. — Kaden fala.
— Quem é a pessoa? — Pergunto e Haelyn suspira.
— Pietro Castellano. — Respondem os dois, juntos.
— Deixa eu ver se entendi. Vocês estão me dizendo que um dos diretores de Quântico é amigo dos dois e ele está na Itália simplesmente tirando férias? — Pergunto, incrédula.
— Não se engane, Pietro nunca está sozinho. Ele e Aleksander são como carne e unha. Um mata pelo outro Agatha, tipo irmãos de sangue.
— E como vocês sabem disso? — Pergunto, desconfiada. Por que eu nunca soube dessa informação?
— Como Kaden disse, estudamos em Quântico e somos amigos. Não somente do Pietro, mas do Aleksander também. Sabemos um da vida do outro. — Haelyn pontua.
— Somente isso? — Pergunto. Percebo que Kaden tem algo a mais para dizer, mas está se contendo. — Desembucha logo.
— Não acho que seja interessante fazer ele perder tempo com um pendrive, Agatha... — Kaden faz uma pausa — Pedro não gosta da aproximação com ninguém do nosso passado. — É então que tenho uma crise de riso.
— Pedro não gosta? — Pergunto após me recuperar. Eles assentem. — Desde quando ele precisa aprovar alguma decisão? Ele não tem poder nenhum sobre as minhas decisões e acho que esse tal de Pietro possa nos ajudar.
— Mas Agatha, pode ser perigoso! — Haelyn exclama.
— Por que seria perigoso se vocês dois mesmo me disseram que ele é amigo de vocês? — Pergunto.
— Faz muitos anos que não nos vemos. As coisas mudam, as pessoas mudam. Ele mudou. — Haelyn suspira e percebo seu semblante triste.
— Ele pode ter mudado, mas sei que também não é louco. Sou uma detetive, o máximo que pode acontecer é prender ele — Sorrio.
Pego minhas coisas em cima da mesa e guardo o pendrive em minha bolsa. Vou ignorar o fato dessa suspeita toda, por agora. Depois preciso ter uma conversa séria com todos eles, acho que ainda não entenderam que todo meio que possa estar ao nosso favor para evitarmos mais mortes, deve ser usado.
— Pretendo encontrar Pietro, então vocês marcam o encontro com o amigo de vocês, ou eu acho ele de outra forma.
Não dou tempo para que nenhum deles possa me responder. Quando estou saindo da delegacia, vejo Haelyn e Kaden me seguindo, ambos com o celular na mão. Por mais que confio nos dois cegamente, existem horas que devemos aprender a desconfiar. Quando já estou chegando próximo ao meu carro, recebo uma mensagem de um amigo, havia pedido para ele um favor alguns dias atrás, mas por hora, esse encontro com Pietro é mais importante.
[Domenico] Os documentos que você pediu para que eu conseguisse, já estão em minhas mãos.
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LAMARTINE
RomanceFaziam exatos 15 anos desde a última vez que Pietro viu os olhos de uma das pessoas que ele mais amou durante toda sua vida. Aiyana. Aiyana Lamartine. Até os dias de hoje, sua morte nunca foi esclarecida, as autoridades simplesmente abandonaram o...