Jughead
Um leve ronco me lembrou de que eu não estou sozinho. O peso de um corpo esparramado imediatamente me alertou. O cheiro rançoso do dia anterior pairava no ar e em meus lençóis.
As cortinas estão puxadas para trás, o sol brilhando através da grande janela que me proporciona a melhor vista e privacidade.
Rolando na cama vi um rosto do qual não me lembrava. Um rosto que não deteve nenhum nome em minha lembrança ou recordação viva de como ela foi parar no meu quarto de hotel e muito menos na minha cama.
A parte da cama, eu provavelmente poderia descobrir.
O cabelo preto me diz que eu não me preocupei em perguntar o seu nome ou perguntar qual sua bebida favorita. Garantindo nossa conversa apenas nos olhos, mãos e lábios. Existia uma cor de cabelo que poderia fazer meu coração bater e não era preto.
Nem vermelho.
Olhos também.
Nunca verdes.
Eles tinham que ser castanhos ou azuis, nunca verdes.
Esta não é uma descida em espiral ou algum momento induzido pelas drogas. Eu não uso drogas, nunca, mas posso beber excessivamente em algumas ocasiões, como na noite passada. Esse sou eu lidando com meus erros e fracassos. Eu poderia ser bem sucedido quando estava no palco, mas à noite eu estava sozinho.
E estupidamente com medo de morrer sozinho.
Pego meu celular para verificar as horas. Em vez disso, abro a galeria que mantém sua imagem, meu polegar pairando sobre seu rosto. Eu vou vê-la quando eu voltar para casa e não sei o que vou dizer.
Eu sei que ela me odeia.
Eu me odeio.
Eu arruinei sua vida. Isso foi o que a sua mensagem de voz, disse. A mensagem que eu guardei ao longo dos últimos dez anos. A que eu tenho transferido de telefone para telefone apenas para que eu pudesse ouvir sua voz quando estou no fundo do poço. Posso recitar cada palavra odiosa que ela disse para mim quando eu estava ocupado demais para atender e nunca encontrava tempo para retornar sua ligação.
Nunca encontrei um segundo para ligar e explicar a ela o que eu fiz para nós. Ela era minha melhor amiga e eu a deixei escapar por entre meus dedos só para me salvar da dor de cabeça de ouvir que ela não me queria mais.
Eu tinha sonhos também.
E meus sonhos a incluíam, mas ela nunca teria querido vive-los. Eu não estou vivendo o nosso sonho americano. Estou vivendo o meu próprio sonho.
Minha decisão destruiu tudo.
Minha companheira de cama sem nome estende a mão e acaricia meu braço. Eu me afasto rapidamente. Agora que estou sóbrio, não tenho vontade de ser qualquer coisa para essa pessoa.
―jughead― diz ela através de seu tom sedutor que soa como um bebê. Minha pele se arrepia quando as mulheres falam assim. Não veem que as fazem parecer ridículas? Nenhum homem vale suas bolas se gosta desse tipo de coisa. Não é sexy.
Envolvendo o lençol em torno da cintura eu sento e balanço as pernas sobre a beirada da cama, longe dela e de sua mão errante. Minhas costas ficam tensas quando sinto o movimento na cama. Ficando de pé, aperto mais o lençol para me manter coberto. Eu não deveria me importar, mas eu me importo. Ela me olha no escuro, mas não proporcionarei a ela ou a sua câmera outro olhar.
―Estou ocupado. ― Minha voz é rigorosa, com uma monotonia bem praticada. ―Jorge, o porteiro, vai se certificar que você consiga um táxi para voltar para casa.
Eu durmo propositadamente de frente para o banheiro para que nunca tenha que olhar para elas quando digo para sair. É mais fácil assim, sem emoções. Não preciso olhar para os seus rostos e ver a esperança desvanecer. Cada uma espera ser aquela que irá me domar, a que fará com que eu me comprometa.
Não tive uma namorada fixa desde que entrei na indústria fonográfica e uma ficada de uma noite não está prestes a mudar isso. Essas meninas não significam nada e nunca significarão. Eu poderia mudar. Eu poderia sossegar e casar.
Ter um filho ou dois.
Mas por quê?
Minha empresária, Sam, iria adorar, especialmente se fosse ela. Ela é minha única repetição na cama. A primeira vez foi um erro de julgamento, um erro em uma noite solitária na estrada. Agora, ela quer mais. Eu não.
Quando ela me disse que estava grávida, eu quis pular de um penhasco. Eu não queria filhos, pelo menos não com ela. Quando pensava em ter uma esposa, ela seria baixa e loira. Ela é bronzeada devido aos anos como chefe de torcida e corrida diária de cinco quilômetros. Não é uma executiva com fome de poder na indústria da música, que falou em contratar babás antes que um médico sequer confirmasse sua gravidez.
Ela sugeriu casamento, eu me apavorei e voei para a Austrália para aprender a surfar.
Ela abortou dois meses depois e eu fiz uma promessa que iríamos manter as coisas profissionais a partir desse ponto e foi quando comecei minha rotina de uma noite só. Apesar de tudo, ela ainda me ama, e está esperando para me fazer mudar de ideia.
―Sabe... ― A mulher de ontem à noite começa a dizer entre respirações ofegantes enquanto coloca suas roupas. ―Eu ouvi que você era um idiota, mas não acreditei. Eu pensei que tinha algo especial.
Eu rio e balanço a cabeça. Eu já ouvi tudo isso, cada uma delas acha que tem algo especial por causa da noite mais incrível que já tiveram.
―Eu não escolhi você por causa de seu cérebro. ― Ando até o banheiro e fecho a porta, trancando-a de fora.
Encostado na porta, bato minha cabeça contra a madeira maciça. Cada vez digo a mim mesmo que vou parar, mas acho que tenho algo que me faz querer esquecer. Minhas mãos passam sobre o meu rosto em pura frustração.
Não estou ansioso para voltar para casa.
A razão para voltar está olhando para mim da pia do banheiro. A página longa de um artigo do cara que eu costumava chamar de meu melhor amigo. Pegando o jornal, leio as palavras que eu gravei.
Archie Andrews, pai de dois filhos, foi morto tragicamente quando um motorista de dezoito anos bateu na traseira do carro que ele dirigia.
Morto.
Se foi.
E eu não estava lá.
Saí como um covarde quando eu não disse adeus.
Mudei o número do meu telefone celular, porque ela não parava de ligar. Eu tive que fazer uma ruptura clara e archie era parte disso. Ela e verônica eram melhores amigas e ele contaria a ela onde eu estava e o que eu estava fazendo. Foi melhor assim.
Minha intenção era ficar fora por um ano. Disse a mim mesmo que eu voltaria para casa depois de doze meses, fazendo tudo certo e mostrando a ela que eu não era a mesma pessoa pela qual ela se apaixonou. Ela veria isso e me agradeceria, seguiria em frente e casaria com um homem de negócios yuppie, aquele que acorda todos os dias e veste nítidas camisas e calças de pregas que ela passaria a ferro como no filme Leave it to Beaver.
Eu aperto o papel em minhas mãos e penso em tudo o que perdi. Não me arrependo, eu não posso. Eu fiz isso por mim e fiz da única maneira que eu sabia. Eu só acho que eu não me importo tanto com tudo que perdi.
Eu perdi o dia que ele perguntou a verônica se ela queria se casar com ele. Algo que eu sabia que ele queria fazer desde que tinha dezesseis anos.
Perdi seu casamento e o nascimento de suas gêmeas. Ele era pai e marido. Tinha três pessoas que dependiam dele e agora ele se foi. Ele nunca veria suas filhas crescerem e fazer as coisas que fizemos quando éramos mais jovens. Todas as coisas que dissemos que nossos filhos fariam juntos. Eu perdi isso porque tinha algo a provar a mim mesmo. Eu desisti dos nossos sonhos e de toda a vida que planejei.
E agora estou indo para casa para enfrentar a música.
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Para sempre minha menina
FanfictionUm homem que amou uma única mulher durante toda a sua vida. Que abriu mão desse amor para seguir seu sonho. Uma mulher que ficou sozinha no momento em que mais precisava de seu amor. Que tentou esquecer e seguir em frente, mas que repentinamente tem...