Capítulo 14

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Camila


Shawn partiu alguns dias depois do recrutamento.

Viajou com seu Ford Bronco para o norte do estado. Dean o acompanhou, e passou alguns dias com o irmão. Vinte e sete dias se passaram desde que o vira pela última vez, mas não fiquei contando os dias.

Antes de partir, Shawn me explicou que a liga secundária de beisebol profissional consistia, de fato, de diversas ligas: a Single-A, a Double-A e a Triple-A.

Acima de todas elas, ficava a liga principal, a Major League Baseball.

Embora tivesse assinado contrato com o Diamondbacks, time do Arizona da liga principal, Shawn teria de se desenvolver profissionalmente em diversos times, começando num da Single-A. A sede do time da Single-A do Diamondbacks ficava numa cidadezinha no norte da Califórnia. Embora Shawn não tivesse de deixar o estado, precisou sair do lugar em que vivíamos, no sul da Califórnia.

A verdade era que, quando se trata de questões do coração, distância era distância, independentemente do número de quilômetros.

De início, fiquei confusa com o fato de ele não ter ido para o Arizona, mas depois que Shawn me explicou como tudo funcionava, fez sentido que ele tivesse ido para o norte da Califórnia. Ficara tão acostumada com a presença física de Shawn que sentia sua ausência todos os dias.

Era grata à virtualidade do correio eletrônico, do Facebook e do celular, mas nada substituía sua existência material. Shawn mudou-se, e sua vida, naquele momento, estava repleta de novas experiências, amigos, companheiros de time e aventuras. Mas eu continuava no mesmo lugar, fazendo as mesmas coisas, vendo as mesmas pessoas, levando quase a mesma vida.

Para minha sorte, me mantive ocupada com meu novo estágio. Enfim, consegui convencer meus pais a me deixar trazer meu carro para as férias de verão, pois precisava ir e voltar do trabalho, cinco dias por semana. Eles concordaram, mas só depois de eu também concordar que, assim que o semestre de outono começasse, meu carro teria de voltar ao seu posto de coleta de poeira, na entrada de casa. Sério? Quem eram aquelas pessoas que diziam ser meus pais? Pareciam dois estranhos, com quem eu não tinha nada em comum.

Escutei o tom de chamada de Shawn no celular. Estava sentada ao ar livre com Leslie, minha colega de estágio, observando os surfistas durante nossa hora de almoço. Procurei o aparelho em minha bolsa, abrindo um sorriso largo.

— Amor! — gritei assim que atendi.

— Gatinha! — Shawn exclamou. — Estou com tanta saudade! Como está o estágio?

— Muito legal. Estou adorando, aprendendo muita coisa. — Por causa do grasnido das gaivotas, coloquei o celular mais perto do ouvido, para poder escutar melhor.

— Você vai ter de me contar tudo quando estiver aqui. — A voz de Shawn parecia muito alegre, e seu entusiasmo me confundiu.

— Quando eu... o quê?

— Quero que você pegue um avião para passar o fim de semana comigo.

— Sério?!

— Sério! Tenho alguns jogos. Quero que você me veja jogando e conheça os rapazes do time. Estou morrendo de saudades de você.

— Eu também.

— Veja se o seu chefe a libera na sexta. Mande um e-mail e me avise da decisão dele. Ok?

— Tudo bem. Falo com ele assim que eu voltar do almoço.

— Talvez seja bom lembrá-lo de que seu namorado é um sujeito nervoso. Assim, provavelmente, ele não vai dizer "não" — Shawn brincou.

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