Batalhão 16: Eu e os Militares (Romance & Mistério) - Livro 1

Capítulo 3 - O Livro

O dia de sábado estava passando lentamente. Eu estava ainda no quartel preparando aqueles malditos relatórios que eu tanto odiava quando algum outro tenente os atrasava, e mesmo sendo o meu final de semana de folga eu precisava preparar logo aqueles relatórios para a segunda-feira seguinte, pois não tinha conseguido finalizar nem ao menos os meus, devido o Bryan ter pegado no meu pé a noite toda com relação a nossa noitada bebendo, o que causou uma grande reviravolta na minha vida por sinal.

Eu também não conseguia tirar aquele bombeiro da minha cabeça, o que nós dois fizemos. O meu pensamento estava nele, a cada hora e a cada minuto que se passava. Pela primeira vez na minha vida eu estava pensando no Bryan de uma maneira diferente e aquilo tudo estava mexendo com a minha cabeça de alguma maneira.

O livro que eu encontrei há dois dias estava dentro da minha bolsa camuflada. Eu tentava arduamente me concentrar para continuar trabalhando naqueles relatórios, mas eu estava muito confuso com tudo, absolutamente tudo. Eu tinha transado duas vezes com o meu melhor amigo e de certo modo eu não conseguia aceitar aquele fato, pois era uma coisa estranha demais para a minha cabeça processar com exatidão. Como também, havia o fato daquele misterioso livro que eu encontrei na noite passada no quartel.

— Tá bom, chega de trabalho por hoje Diego. — Falei para mim mesmo, cansado e ainda de ressaca "da farra" com o Bryan. — Preciso de um banho e descansar imediatamente. — Afirmei.

Então saí da minha sala, mas antes consegui finalmente terminar todos os relatórios que eu tinha que entregar na segunda-feira pela manhã na Base Naval da Marinha, pois se tratava de relatórios do progresso e estatísticas de ex-soldados marinheiros que estavam em treinamento na academia de bombeiros no décimo sexto batalhão. E estes mesmos relatórios passariam por análise pelos superiores daqueles ex-soldados.

Eu peguei a minha bolsa e saí em direção ao estacionamento, mas antes eu passei em frente à biblioteca do quartel em uma tentativa frustrada de se colher algum dado sobre aquele misterioso livro, mas não tinha ninguém lá àquela hora. Eu então entrei e fui direto à prateleira onde havia encontrado o livro e fiquei observando o local.

Eu comecei a achar que talvez o meu pai soubesse de alguma coisa sobre aquele livro, ou que ele pudesse estar envolvido em algo, ou até mesmo que ele próprio colocou aquele livro ali na esperança de alguém encontrar no futuro, mas tudo não passava de especulações minhas em pensamentos e devaneios pra lá de confusos.

O meu pai era de fato um homem muito misterioso quando o assunto era a sua vida pessoal fora do quartel, e muitas vezes dentro do seu ambiente de trabalho também. O Sargento Marcelo Braz escondia muitas coisas, ele era um cara procurado, invejado e com o passar dos seus últimos meses de vida ele vivia como se estivesse sempre fugindo de algo ou alguém.

Eu tenho uma vaga lembrança que quando eu estava em treinamento para me formar como Tenente; eu tinha vinte e dois anos de idade e o Bryan tinha dezoito; havia um rapaz chamado Marck, o seu sobrenome não me vinha à mente àquele momento, ele era do meu batalhão, havia ingressado lá como cadete alguns meses após a minha turma ter sido formada e ele também estava em treinamento para Tenente.

Com o passar dos dias, semanas talvez, ele não desgrudava do meu pai por nada e para onde o sargento Braz ia, ele ia junto. O meu pai o treinava, pois era o seu superior e tinham também outros dois homens que comandavam os treinamentos daquela nova equipe de cadetes, mas quando o sargento Braz foi assassinado, algumas semanas depois esse rapaz sumiu do quartel e simplesmente desapareceu da cidade.

- Estranho demais tudo isso. - Era o meu pensamento falando naquele momento de nostalgia triste de parte da minha vida.

Ainda na biblioteca pensando em tudo e muito mais confuso do que eu já estava, eu retirei o livro de dentro da minha bolsa e o abri. Fiquei alguns segundos passando as suas páginas e notei que só continha texto escrito à mão, parecia mais um tipo de diário escrito por alguém. Percebi também que na capa traseira, na parte interior havia duas letras escritas como forma de rubrica: "M.R."