Capítulo 16 - O Diário Militar - I

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"- Pai... Pai, você está me ouvindo? Acorda pai".

Quando eu abri os olhos já era madrugada... Aquilo tinha sido um sonho ou coisa parecida? Eu via o meu pai deitado em uma cama de casal toda branca; desde a sua construção em madeira, até o seu jogo de cobertas, travesseiros e lençóis, era muito limpa e parecia reluzir algum tipo de luz ao vê-la. Meu pai estava de bruços, sem camisa e calça, apenas trajando uma cueca branca, e no mesmo momento que eu o via todo enrolado com aquele lençol tão branco quanto às nuvens mais limpas no céu, ao mesmo tempo ele estava sem lençol algum, deixando amostra o seu corpo todo ferido, cortado e ensanguentado.

O local em si era bem diferente daquela cama, nada condizia com o que eu vira; o ambiente era sujo e bastante escuro, parecia um local abandonado, deteriorado, era tudo estranho e angustiante ali. Eu chamava pelo nome dele algumas vezes, mas ele não respondia, ele sequer acordava, parecia impossível me ouvir.

Quando me dou conta da realidade sobrepondo àquele sonho, eu noto o Bryan por cima de mim, roncando muito como sempre. Antes de dormirmos nós trocamos o jogo de cama e tomamos um banho que mais pareceu ser uma missão impossível para ambos, mas que foi pior ainda para o Derion, pois tivemos que retirar sua sandália ortopédica, as nossas ataduras e em seguida recolocar tudo novamente com as limitações que tínhamos. Foi basicamente um desastre, mas que no final deu tudo certo, uma vez que o Derion era treinado para atuar na ambulância do batalhão.

Eu acordei sentindo um aperto forte no peito, uma angústia muito grande tomava conta de mim, parecia que aquilo estava virando algum tipo de rotina. Dali então eu comecei a pensar novamente no meu pai enquanto eu me esforçava para tirar o Bryan de cima de mim e poder sentar naquela cama.

Depois de um esforço que eu fiz, eu consegui efetuar aquela proeza, o deixando de lado na cama e o enrolando em seguida. Bryan como sempre dormia feito uma pedra, não acordava por nada diferente de mim, então me levantei da cama e fui tomar um pouco de água e, no caminho parecia que algo dentro de mim dizia: - "O livro". Aquele diário militar estava jogado junto com a minha bolsa em algum lugar do quarto do Derion desde quando saímos para atuar no incêndio da fábrica.

Eu voltei para o quarto dele imediatamente, na esperança de continuar aquele diário esquisito e saber o que aconteceu naquele ano da nossa formação na academia de bombeiros, que tanto foi escrito por aquele suposto cadete na tentativa de que alguém o lê-se no futuro. Eu também fiquei me perguntando se aquilo era algum tipo de pedido de socorro ou coisa parecida, mas eram tantas as dúvidas que a única coisa que me restava ali mesmo era lê e descobrir.

- Derion, acorda. Bryan? - Falei batendo forte em suas costas.

- O quê, que foi? Ah não, Diego. Que mania chata essa sua de me acordar quando não consegue mais dormir. - Ele fala irritado, eu não aguentei e quase ri descontrolado com aquela cena de criança que ele fazia.

- O livro... Você começou comigo, agora vai terminar comigo também. - Falava me sentando ao seu lado na cama. - Alguma coisa não está certa nessa história há muito tempo e eu me refiro à morte do meu pai. Eu preciso saber se tem algo aqui que pode me ajudar a descobrir o que de fato aconteceu, pois eu nunca me conformei com aquele laudo impreciso da perícia, você sabe mais do que eu disso. - Conclui avistando o diário dentro da minha bolsa jogada no canto da parede e que estava com o zíper entreaberto, indo o buscar rapidamente.

Eu realmente nunca aceitei o que os investigadores da polícia criminal me falaram na época, pois a perícia foi com certeza bastante imprecisa segundo as informações que eu recebi dos mesmos. Eu não pude ver o corpo do meu próprio pai, pois alegaram que aquelas imagens poderiam me traumatizar de alguma maneira, levando em consideração a forma como ele foi morto, como também, considerando o fato da minha idade àquele ano e um monte de outras inúmeras coisas que foram ditas a mim e ao Derion na presença do Capitão Sandoval Nogueira que nos acompanhou em cada momento durante e após o ocorrido.

Batalhão 16: Eu e os Militares (Romance & Mistério) - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora