Capítulo 8 - Em Chamas - II

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- Pessoal... Soldados. Alguém está aqui ainda? - Falava sem entender o que estava acontecendo. Eu estava sozinho nos corredores do quartel, o silêncio tomava conta do ar.

- Bryan, você está me ouvindo? Cabo Derion, responda. - Falei pelo radio transmissor, mas não obtive resposta.

Segui caminhando, buscando encontrar alguém ali e também tentando entender o que estava acontecendo. Alguns minutos depois o meu radio transmissor alerta, eu ouvia somente gemidos estranhos de mais de uma pessoa vindo do outro lado daquela transmissão.

- Bryan? Você está aí? - Falei, mas continuei ouvindo gemidos sem parar. Logo em seguida passei a ouvir a voz do meu soldado, a voz que eu tanto queria ouvir.

Os meus problemas de memória eram bem sérios, raramente acontecia um apagão, um desmaio, mas quando acontecia eu não conseguia entender quase nada e nem sabia quantas horas eu tinha perdido. Desde adolescente eu tinha aquele problema que foi provocado pelo Bryan em uma partida de futebol no ensino médio.

Bryan era do time rival ao meu que estava em campo àquele dia, eu era o goleiro do meu time e ele era o atacante do outro. Por um descuido meu ao ouvir o meu pai na arquibancada gritando euforicamente como aquele velho torcedor fanático de futebol, eu olhei em sua direção sorrindo com a cena que ele fazia naquele momento e em questão de segundos eu senti o forte impacto da bola na minha cabeça, me fazendo bater com ela na trave de ferro com todo o impacto que eu senti, me apagando na hora, eu desmaiei em pleno jogo.

Acordei numa cama de hospital dias depois segundo as palavras do meu pai e do Bryan e, eu fui informado pelo médico que acompanhou o meu caso que eu obtive uma sequela considerável no córtex pré-frontal do cérebro, parte responsável pela memória. Trauma ocasionado devido ao forte impacto que sofri contra a trave de ferro do campo de futebol, causando um pequeno traumatismo craniano.

Mas voltando para aquele momento. Eu desliguei o rádio transmissor e continuei andando pelos corredores, abrindo portas e olhando as salas, dormitórios e cantinas do local na esperança de encontrar alguém, ou melhor; encontrar o Bryan. Ao continuar caminhando ali eu comecei a ouvir vozes vindas da antiga sala do meu pai quando eu me aproximava mais do local.

Eu achei aquilo muito estranho, pois a sala do meu pai era um local que ninguém entrava. Depois do que acontecera, a sala dele se tornou um memorial em homenagem a ele, todas as suas coisas estavam lá; os documentos que relatavam os seus atos de bravura, os jornais que mostravam os seus salvamentos e missões bem sucedidas, muitos troféus como campeão de competições de braço de fogo, pentatlo militar, etapa iron man, mergulho noturno, sobrevivência na floresta e algumas outras modalidades.

Competições que ele e todo o batalhão participavam todos os anos contra outros militares do corpo de bombeiros e polícia na época. Mas de fato eu ouvia barulhos vindos de lá e parecia ser os mesmos gemidos que outrora ouvia pelo radio transmissor.

Então comecei a me aproximar lentamente, eu queria saber o que estava acontecendo afinal de contas. Quando cheguei em frente à porta da sala do meu pai o meu coração disparou no exato momento em que eu ouvi a sua voz e no mesmo instante eu não conseguia acreditar naquilo que estava ouvindo.

- Isso, vai, assim... Isso soldado. - Era a voz do meu pai. Ele falava com um tom de voz delirante. Ouvia barulho de palmadas também.

Eu peguei na maçaneta da porta e a abri de uma só vez, pois eu queria ver com meus próprios olhos se era mesmo o meu pai ali. Mas ao mesmo tempo eu sentia algo de muito ruim naquilo tudo, afinal, sabia perfeitamente que ele estava morto. Quando abri a porta eu travei completamente ao ver o que acontecia lá dentro.

Batalhão 16: Eu e os Militares (Romance & Mistério) - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora