◩ 𝐓𝐡𝐞 𝐄𝐱𝐜𝐡𝐚𝐧𝐠𝐞 ◪
𓏲໋ׅ ᴠɪɴɴɪᴇ ʜᴀᴄᴋᴇʀ ᴀᴅᴀᴘᴛᴀᴛɪᴏɴ.
A tímida e insegura Allice Smith, passou a infância e adolescência como filha única, se mudando de cidade em cidade com uma avoada mãe. Adulta, se mudou para Los Angeles para fazer faculdade...
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Allice Point Of View
- Ele estava chorando. - Abraço o bebê em meu peito como um escudo contra a rispidez de Vinnie.
- Sim, mas você raramente escuta - ele continua seu ataque.
- Bem, eu escutei hoje. Acredito que pode estar com fome, já que a fralda está limpa. - Ignoro o olhar ainda desconcertado de Vinnie, começando a procurar a mamadeira no armário. Quando a encontro, pego o leite na geladeira, não está sendo fácil preparar tudo com o bebê chorando no colo.
- Me dê ele! - Eu me surpreendo ao ouvir a voz de Vinnie próxima e quando levanto o olhar ele está com os braços estendidos para pegar Henry.
- Ele está bem comigo - rejeito, tentando equilibrar a criança e colocar o leite na mamadeira com uma mão só.
- Será mais rápido sem ele, Alinna, não seja irritante. - Com um suspiro rendido, lhe ofereço o bebê e, no processo de mudar de colo, as mãos mornas de Vinnie roçam minha pele, fazendo-me arrepiar.
Eu me viro rápido, sem graça, ocupando-me em terminar a mamadeira.
- Ei filho, está tudo bem, não precisa chorar. - Vinnie embala o bebê sussurrando-lhe com voz suave e olho aquela cena, cativada com o carinho com que ele lida com o bebê. Henry deve perceber também, pois vai parando os soluços pouco a pouco, antes mesmo de eu estender a mamadeira para Vinnie, que a leva à boca da criança.
- Parece que ele estava mesmo com fome.
Vinnie me fita de novo com os olhos franzidos.
Eu identifico o significado de sua expressão. Desconfiança. Suspeita.
O tempo inteiro ele me olha assim, cético com cada gesto meu, por mais bem-intencionado que seja. E eu me pergunto quando aquele receio vai deixar seu olhar.
Estou ansiando por isto. Muito.
- Obviamente - responde ríspido, voltando sua atenção para o bebê.
Suspiro pesadamente. Não hoje, compreendo.
Um tanto decepcionada, me viro para a pia e me ocupo em lavar alguns poucos utensílios, só para ter algo para fazer. Não quero ir dormir antes de me certificar de que Henry não precisa de mais nada.
Vinnie pode achar que não estou interessada, não me importo. Se ele está ressentido demais para perceber que estou com boas intenções, eu ainda posso me concentrar em Henry.
Assim que termino de guardar a louça no armário, ouso relancear a cabeça em sua direção e surpreendo seu olhar em mim, mais precisamente em meu peito.
Olho pra baixo e vejo que minha camisola está parcialmente aberta, deixando entrever meus seios.
Fecho os botões rapidamente, vermelha de vergonha.
- Não se preocupe, não estou interessado - Vinnie fala asperamente, desviando o rosto com uma expressão irritada saindo da cozinha levando Henry.
Que merda foi essa?
Será que ele estava pensando que deixei minha roupa aberta de propósito? Para de alguma maneira tentar seduzi-lo?
Era um absurdo!
De súbito, paro minha linha de pensamento. Era Alinna quem estava ali. Sua esposa. Com certeza ela já deve tê-lo seduzido uma centena de vezes. Não nos últimos tempos, certamente, se levar em conta que eles não estavam dormindo juntos há meses. Então, eu não deveria ficar ofendida por ele ter entendido errado, não é? O que Alinna teria feito?
Provavelmente riria e seria irônica. Daria uma resposta no mesmo tom de desdém, dizendo que também não estava nem um pouco interessada.
Enfim, foi uma cena bem desagradável, a qual eu deveria esquecer.
Apago a luz da cozinha indo direto para o quarto, notando que Vinnie ainda está com Henry. Tive vontade de me aproximar e ver se precisava de algo, mas com certeza não seria bem-vinda e, depois da cena na cozinha, era melhor ficar bem longe por hoje.
Ao fechar a porta, percebo que não estou com nem um pouco de sono. Depois de me certificar que a porta está devidamente trancada, pego meu laptop e sento sobre a cama. Abro o editor de texto e começo a trabalhar em uma nova história. Escrever sempre é terapêutico para mim.
Não penso muito sobre o que estou escrevendo, apenas deixo meus dedos vagarem sobre os teclados, sem destino certo. Quando o dia começa a clarear lá fora me dou conta, espantada, de que tinha desenvolvido um livro novo sobre um homem morando solitário em uma cabana, depois de perder toda sua família. E que este homem se parecia demais com Vinnie. Tinha até uma cena em que ele cortava lenha sem camisa.
- Hum, é só ficção - resmungo para mim mesma, fechando o laptop e indo dormir, finalmente.
Quando acordo novamente, relanceio meus olhos sonolentos para o relógio e constato que já são mais de sete horas.
- Droga! Estou muito atrasada!
Pulo da cama, vestindo-me rapidamente. Quando passo pela sala, Elisa está saindo pela porta e me lança um olhar irônico. Vinnie vem logo atrás dela com as chaves do carro na mão.
- Me desculpe, dormi demais...
- Não é nenhuma novidade.
- Eu sei, só que estou mesmo disposta a acordar cedo e cuidar de tudo.
- Eu já devia saber que suas promessas são tão vazias quanto suas intenções.
Droga!
- Cadê o Henry e a Stella?
- Eu os levei à casa da minha mãe. Vão ficar lá hoje, já que não sabia que horas ia se dignar a acordar.
- Podia ter me acordado.
- Para você ficar irritada e de mau humor? Descontando nas crianças?
- Eu não ia fazer isto!
- Você sempre faz, essa discussão é inútil. Preciso levar Elisa na escola.
E sem mais ele fecha a porta na minha cara, deixando-me sozinha, perdida e irritada comigo mesma.
Por que não dormi a noite para acordar no horário? Claro que Vinnie agora achava que Alinna não tinha mudado nada! Desta vez a culpa era minha. Vencida, decido que não adianta chorar sobre o leite derramado. Foi um vacilo e não deixaria acontecer novamente.
Tomo um banho e, aproveitando que as crianças não estão para requerer minha atenção, arrumo e limpo a casa, então, arranjo coragem para ir até a casa dos Hacker buscar Stella e Henry.
Ao chegar na porta da residência imponente, toco a campainha meio hesitante. E não demora para uma distinta senhora de cabelos loiros claros abrir a porta e me encarar surpresa. Maria Hacker.
- Alinna , que surpresa.
- Oi - quase me apresento, como se fosse a primeira vez que nos víamos, mas me contenho a tempo. - Oi Maria, como vai?
- Muito bem, entre! - Ela abre espaço para eu passar e relanceio o olhar pela casa, admirada de como tudo é bonito e bem cuidado.
- Vim buscar as crianças - digo sem rodeios, e ela parece um tanto surpresa.
- Claro. Mas não precisava se preocupar. Sabe que eles estão bem. Não me importo de cuidar deles.
- Claro que sei. E agradeço. Infelizmente acordei tarde e Vinnie achou que...
- Não precisa se justificar, Alinna.
- Eu quero. Sei que não fui uma pessoa muito responsável até agora, admito, estou tentando mudar.
Maria parece admirada.
- Isto é surpreendente, mas bem-vindo. Por acaso foi esta sua viagem que a deixou mais conscienciosa?
- Quem sabe? - Dou de ombros. - Eu precisava de um tempo para pensar... Sei que causei uma comoção, agora voltei e estou disposta a ser uma pessoa melhor. - De alguma maneira sinto que preciso da aquiescência daquela mulher. Ela é a matriarca da família. E recordo-me de Alinna dizendo que tanto Maria quanto Nate Hacker eram boas pessoas, que a tratavam com educação, embora achasse que não gostavam dela.
Também, sabendo o quanto Alinna era relapsa com seus filhos e marido, não era de se admirar.
- Uma mãe melhor - completo.
- Uma esposa melhor? - Maria não hesita em perguntar e fico vermelha.
Não sei se estava ao meu alcance ser uma esposa melhor para Vinnie. Provavelmente não. Eu podia mostrar a ele que tinha mudado em relação às crianças e responsabilidades. Podia até ser gentil com ele e tentar fazê-lo enxergar que ainda havia uma chance para aquele casamento. Matrimônio era mais do que ser uma boa mãe, uma esposa atenciosa e responsável. Tinha a ver com companheirismo. Tinha a ver com amor. E aquele amor que deveria existir entre um homem e uma mulher, este não cabia a mim mostrar a Vinnie. Apenas Alinna poderia.
E me perguntava se ela ainda estava disposta a tanto.
- Farei o meu melhor. Não quero mais magoar o Vinnie.
Maria sorri.
- Espero que tudo se resolva entre vocês.
- Eu também.
Stella aparece correndo e abraça minhas pernas.
- Mamãe!
Eu a pego no colo.
- Eu vim te buscar, precisa se arrumar para ir à escola.
- Se quiser deixar Henry aqui enquanto leva Stella, posso cuidar dele.
- Obrigada, vai ser bom.
Naquela noite, a mesma coisa da noite anterior se repete, apesar de eu ter dito a Vinnie que faria o jantar e que queria todos em casa, ele só chega com as crianças um pouco depois das dez horas. Claro que não estava nem aí para o que eu tinha dito. Ou não levou a sério.
Quando a porta se abre, Stella corre na minha direção e eu a pego no ar.
- Oi mamãe, olha o que eu ganhei da tia Nailea. - Ela mostra, toda empolgada, um caderno de colorir. Tento não me sentir enciumada.
- Que lindo, querida!
Vinnie e Elisa entram logo atrás.
Elisa com cara de poucos amigos, assim como o pai.
Eles são até bem parecidos, com seus orgulhos feridos.
Paciência, Ali. Paciência. Digo a mim mesma.
- Oi, Elisa - cumprimento-a com um sorriso.
- Oi. - Ela pelo menos responde, mas sem sorrir.
- Como foi seu dia na escola?
- Como sempre, desde quando se interessa?
Meu Deus, quando foi que aquela menina aprendeu a ser tão agressiva?
Tenho vontade de repreendê-la, mas não o faço pois sei que vai ser pior.
- Oi, Vinnie - o cumprimento, fazendo questão de não sorrir. Não estou feliz por ele ter ignorado meu pedido.
Elisa aproveita que a atenção não está nela e vai para o quarto.
Coloco Stella no chão, que também se afasta atrás da irmã.
- Cadê o Henry? - Vinnie pergunta, seco.
- Dormindo.
- Minha mãe contou que você foi buscá-los hoje.
O que mais será que Maria disse ao filho? Será que contou sobre as resoluções de mudança que eu tinha lhe confessado?
- Sim, a casa deles é aqui. Não queria dar trabalho para sua mãe mais do que necessário.
- Você não parecia se importar antes.
- Agora me importo. Assim como me importo por você não ter feito o que pedi em relação ao jantar.
- Acha que devia acreditar em você depois de acordar tarde hoje como sempre fez?
- Eu não acordei tarde. Só me atrasei um pouco, desculpe-me.
- Eu já esperava por algo assim. Suas resoluções nunca duram muito.
Ele se afasta e eu rosno, irritada. Vontade de ir atrás dele e fazê-lo me ouvir. Eu sabia que precisava ir com calma. Vinnie estava muito ferido e ressentido pelos anos de maus tratos de Alinna . Não seria de um dia para outro que iria acreditar que ela havia mudado.
Vou até o quarto de Stella e a ajudo a colocar o pijama, depois a ponho para dormir, apagando a luz e saindo assim que me certifico de que Henry está dormindo.
Volto para a cozinha para tomar um copo de água, Vinnie e Elisa estão lá. Vinnie está abraçando a menina.
- Boa noite, querida - ele diz, beijando seus cabelos.
Eles me veem e a expressão de amor que estavam trocando rapidamente muda para frieza. Sinto meu peito se apertar.
- Boa noite, Elisa - digo quando ela passa por mim. Ela responde num resmungo, sem se virar.
- Vocês são tão parecidos. - Entro na cozinha e me ocupo em tomar água.
Vinnie franze o cenho.
- Os dois são muito orgulhosos - esclareço.
- O que quer dizer?
- Você sabe muito bem!
- Mamãe... - Somos interrompidos por Stella que entra na cozinha arrastando os pezinhos no chão e estendendo os braços para mim.
- O que foi, querida? Não devia estar dormindo?
- Quero dormir com você! - Ela gruda os bracinhos em mim e sorrio pronta para responder que sim, Vinnie me interrompe.
- Stella, sabe que deve dormir na sua cama.
- Não, ela pode dormir comigo - o corto rispidamente.
- Você odeia quando ela inventa isso!
- Não odeio, não. E ela pode dormir comigo, sim, afinal, eu durmo sozinha, não é? - Antes que ele possa responder, saio da cozinha.
E é só quando chego ao quarto e repasso minhas últimas palavras que me pergunto por que diabos tinha dito aquilo. Podia parecer a Vinnie uma reclamação por eu dormir sozinha? Será que ele tinha entendido desta maneira?