◩ 𝐓𝐡𝐞 𝐄𝐱𝐜𝐡𝐚𝐧𝐠𝐞 ◪
𓏲໋ׅ ᴠɪɴɴɪᴇ ʜᴀᴄᴋᴇʀ ᴀᴅᴀᴘᴛᴀᴛɪᴏɴ.
A tímida e insegura Allice Smith, passou a infância e adolescência como filha única, se mudando de cidade em cidade com uma avoada mãe. Adulta, se mudou para Los Angeles para fazer faculdade...
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Allice Point Of View
Quando acordo, estou sozinha na cama. Não sei se sinto alívio ou pesar. Deveria sentir alívio. Por alguns instantes, permaneço deitada, repassando a confissão de Vinnie em minha mente. Recordo-me de ele falando como o casamento começou estranho, sem intimidade, o que era esperado, levando-se em consideração que eles se casaram sem se conhecerem direito. E de como tudo melhorou, para depois virar um hábito tão rotineiro, que passaram a ignorar um ao outro. Era triste.
Então um sorriso se distende em meus lábios, ao me lembrar de como rimos juntos. De como pareceu íntimo e certo. Só que não era certo. Talvez a presença de Vinnie naquela cama fosse, mas eu era uma impostora.
Com um suspiro, rolo de bruços e aspiro o cheiro que ficou no travesseiro. Cheiro de Vinnie. Me pergunto o que se passou em sua mente ao estar ali outra vez, um lugar que era dele por direito, do qual abdicou há tanto tempo. Será que gostou de dividir a cama com Alinna de novo? Ou foi apenas por obrigação, pelo fato de Hub estar dormindo no sofá? E se gostou, por que em vez de ficar feliz eu estava sentindo ciúme?
Eu sabia o porquê.
Foi com Alinna que ele riu ontem à noite. Foi para ela que ele fez aquelas confissões. Foi com a cabeça de Alinna aninhada em seu peito que ele dormiu.
Sinto vontade de chorar.
E, pela primeira vez em todo aquele tempo que estou ali, sinto ciúme e inveja da minha irmã.
Quando vou para cozinha as crianças já estão tomando café, verifico o relógio confusa e constato que estou um pouco atrasada. Passei mais tempo do que deveria cheirando o travesseiro de Vinnie.
Elisa não me olha enquanto come, porém Stella sorri ao me ver.
- Bom dia, mamãe.
Sorrio de volta e me aproximo, beijando seus cabelos. Faço o mesmo com Elisa, que responde um bom dia apagado fazendo meu coração apertar, porém não forço outra reação. Em sua mente, ela acha que tem razão de estar zangada e talvez tenha. Foram tantos anos sendo negligenciada, que qualquer coisa que eu fizesse fora da curva seria considerada como uma volta aos velhos hábitos.
- Onde está Henry? - pergunto ao ver o carrinho vazio.
- Papai e tio Hub acabaram de sair. Papai o levou para a casa da vovó. - Elisa responde num tom de censura.
- Eu nem me atrasei tanto assim. E ele podia ter me chamado - resmungo. Será que Vinnie estava irritado com meu atraso? - Preciso te levar a escola então.
- Não precisa, a Cynthia vai me levar. Papai ligou para ela e pediu.
- Se quiser, posso te levar - insisto.
- Eu não quero. - É sua vez de resmungar. Pegando sua mochila e saindo da mesa quando um carro buzina lá fora.
Suspiro pesadamente. Lá vamos nós de novo.
Enquanto tomo café, escutando o tagarelar infantil de Stella, pergunto-me se ainda me restam forças para começar tudo de novo. Recomeçar a luta para fazer Elisa entender que a mãe mudou. Tentar fazer com que Vinnie não odeie a esposa.
E para quê?
Eu não era Alinna. Existia um lado meu que estava farto daquele jogo. E sabia bem qual era o lado.
Era aquele que estava gostando demais daquela vida, se apegando demais à Seattle, às crianças que não me pertenciam. Almejando ter uma vida conjugal de verdade com um homem proibido. Que toda vez que sorria para mim, me beijava, me desejava, na verdade estava pensando em outra pessoa. Tudo isto estava causando pequenas rachaduras em meu coração e meu medo era de que ele se estilhaçasse mais dia menos dia.
E se isto acontecer duvido que tenha conserto.
Estou perdida em minha autocomiseração, quando a porta da cozinha se abre e vejo Nailea na minha frente.
- Tia Nailea! - Stella pula da mesa e abraça Nailea, que sorri para a menina. Percebo que seu rosto está pálido e seus olhos sombreados por olheiras.
- Oi, querida.
- Stella, que tal ir assistir desenho? - Melhor Stella não estar por perto caso Nailea comece com suas grosserias.
Espero a menina sair da cozinha para encarar Nailea.
- A que devo sua visita? - Tento ao menos ser educada e me livrar dos velhos julgamentos. Afinal, ela tem seus próprios demônios para exorcizar.
- Hub está aqui? - pergunta, e percebo o quanto é difícil para ela estar ali.
- Já sabe que ele passou a noite aqui?
- Sim, para onde mais ele iria? - ela diz com amargor. - Estive na oficina e ele não está e nem Vinnie, por isto vim ver se ainda está aqui.
- Não, eles foram bem cedo.
Ela respira fundo. Suas mãos trêmulas apertam a bolsa. Parece que está a ponto de estourar. Sinto um pouco de pena.
- Não quer tomar um chá? - pergunto, já colocando a chaleira para esquentar.
- Isto é muito surreal. Você sendo educada comigo.
- Acho que ambas podemos deixar as velhas desavenças e sermos no mínimo educadas, não acha?
- Acha possível?
- Nós somos da mesma família. - Dou de ombros. - Talvez devêssemos tentar ser amigas.
- Não temos nada em comum, Alinna.
- Temos as crianças. Nós as amamos, não é?
- Nunca acreditei que amasse seus filhos.
Aí estava.
- Sei que pode pensar assim por causa de minhas atitudes no passado - digo devagar, servindo o chá em uma xícara. - No entanto, já deve ter percebido que eu mudei.
- E, de uma hora para a outra, decidiu que vai ser esposa e mãe exemplar?
- Não foi de uma hora para outra.
- Não? Você voltou dessa viagem como se um alienígena tivesse tomado seu corpo! É no mínimo esquisito demais.
- Você ainda acha que é alguma espécie de jogo que estou fazendo...
- Por que não? Precisava do perdão de Vinnie.
- Sim, eu precisava. Porém estou sendo sincera. Sou outra pessoa - murmuro - e só quero que tudo fique em paz. Com as crianças, com Vinnie e até com você.
- Como se tivesse alguma preocupação comigo.
- Eu tenho.
Ela faz uma expressão de descaso.
- Sei que sempre brigamos, que nem sempre fui fácil com você. Assim como não foi comigo. Mas acho que agora te entendo.
- Entende? Ninguém entende - ela engasga.
- Ninguém se preocupou em entender a... - respiro fundo - em me entender também. Eu era só uma garota de dezoito anos que foi obrigada a casar e amadurecer mais cedo criando crianças sem saber como.
- Eram crianças, e elas são sagradas. Como pode não apreciar?
- Nem todo mundo tem esse instinto, Nailea.
- E do nada agora você acha que tem.
- Olha, podemos ficar aqui discutindo o dia inteiro. De nada vai adiantar. E estou cansada de discutir.
Ela larga a xícara.
- Sim, vou embora.
- Faço votos que se entenda com o Hub. Ele ama você.
- Eu sei. Às vezes é difícil um casamento como o nosso.
- Deve apreciar o que tem, Nailea. Nem sempre a vida é como a gente sonhou, como imaginou... - Penso na minha própria vida vazia. E na vida de Alinna. - Mas você ama o Hub e ele a você, apesar de tudo. Não desperdice o que têm com amargor.
Ela não diz nada, perdida em seu próprio sofrimento, antes de ela sair pela porta eu a chamo.
- As crianças podem jantar com você uma vez na semana.
- Sério?
- Só quero o bem deles e você os ama também. Só não se esqueça que eles nunca serão seus, eles têm mãe. E um pai. - Seu rosto se contorce de dor. - Mas podem ter uma tia amorosa também, contanto que ela tenha consciência de que é apenas uma tia.
Ela parece querer falar alguma coisa, então apenas assente.
- Vou almoçar com meus pais em Tacoma, no próximo domingo. As crianças já estiveram lá comigo uma vez e adoram. E meus pais... gostam de ter crianças por perto também.
- Certo, eles podem ir com você.
- Obrigada.
Depois que Nailea se vai, sinto que o conselho que lhe dei serve para mim também. Não sou a mãe daquelas crianças, embora as amasse com tal força que era difícil acreditar que não tivessem saído de dentro da minha barriga e que convivíamos há tão pouco tempo. Eu era a tia delas e podia amá-las como tal, mas elas tinham uma mãe.
E a pergunta era: onde estava essa mãe? E quando ela voltasse, será que iria finalmente assumir seu lugar naquela casa, como esposa e mãe amorosa? De novo sinto aquele aperto no peito. Deve ser o que Nailea sente. O vazio. O desejo impossível. Nós tínhamos mais em comum do que se podia imaginar, afinal. Pelo menos ela desejava apenas três crianças que não podia ter. Enquanto eu desejava o pai delas também.
Naquela tarde me pergunto se Elisa virá para casa após a escola, o que não acontece. Eu não devia ficar surpresa. Será que virão jantar em casa considerando-se que na sexta-feira vieram e puderam comprovar que a comida de Alinna já não era tão ruim assim?
É com alívio que vejo Vinnie, Stella e Elisa aparecerem em casa mais cedo naquela noite.
- Vieram jantar em casa? - pergunto, esperançosa.
- Sim, mamãe! - É Stella que responde, abraçando minhas pernas e abraço-a também.
- Isto é muito bom, então vá lavar as mãos!
Quando olho em volta, Elisa já não está por ali e Vinnie está com Henry no colo.
- Oi - digo, meio insegura de como agir.
- Oi - ele responde num tom de fria gentileza.
- Espero que não tenha ficado irritado comigo hoje.
- Por quê?
- Porque acordei atrasada. Podia ter me acordado!
- Eu sei. Só... quis deixá-la dormir.
- Quis?
Ele dá de ombros parecendo meio sem graça.
- Sei que dormimos tarde ontem, não tem problema algum.
- Eu tenho crianças para cuidar, não é certo...
- Posso cuidar delas também Alinna.
- Ficava com raiva antes...
Ah inferno, por que eu estava entrando naquele assunto?
- Antes você não se importava.
- Acha que me importo agora?
- Eu quero acreditar.
- Fico feliz por isso - digo cheia de emoção.
- Só - ele suspira pesadamente - não quebre o coração delas de novo, Alinna.
- E o seu? Eu já quebrei seu coração? - pergunto baixinho.
- Você acha que algum dia teve meu coração?
Oh, Deus!
- E agora?
Ele não diz nada. A gente fica apenas se olhando e sei que ele não quer falar sobre um assunto tão espinhoso quanto sentimentos.
E eu não quero que ele fale de sentimentos.
Ao mesmo tempo, desejo que fale. Uma pequena parte delirante do meu ser desejando que fale que as coisas são diferentes agora.
Que existe a minúscula possibilidade de eu ter seu coração.
De que adiantaria?
Ele está vendo Alinna.
Tenho que me ater a isso. Para não pular no precipício de vez.
De repente, Stella retorna dizendo que está com fome e Vinnie sai para chamar Elisa.
Nosso jantar é quase tranquilo. Se eu ignorar que Vinnie está calado, perdido em pensamentos e Elisa também só responde quando é solicitada, como um robozinho sem sentimento que, com certeza, ela gostaria de ser neste momento. Bem, talvez dividíssemos a mesma fantasia. Eu também queria não ter emoção alguma dentro de mim, principalmente aquela que borbulhava ao retomar o estranho diálogo com Vinnie.
Quando o jantar termina, Stella pede que Vinnie a ajude a montar um quebra-cabeça e eu pergunto a Elisa se ela quer assistir algo comigo, ela responde um não apagado e vai para seu quarto.
- Não a force - Vinnie diz de repente.
- Ela está magoada comigo.
- Só está sendo teimosa. Vou conversar com ela.
- Não... Não a force a nada também. Ela tem seus motivos...
- Ok, talvez tenha razão.
- Vamos papai! - Stella o puxa.
- Quer montar quebra cabeça conosco?
Hesito. Claro que gostaria de ir com eles. Fingir mais um pouquinho que éramos uma família quase feliz.
No entanto, talvez já fosse hora de eu dar um passo atrás.
Para o bem da minha sanidade.
- Vou ler.
Ele levanta a sobrancelha.
- Ler?
Oh, droga. Alinna não gostava de ler.
- É, qual o problema? Tentando coisas novas, vai que eu gosto.
- Ok.
Ele me olha de uma forma estranha, mas não fala mais nada, seguindo Stella.
Eu me ocupo em arrumar a cozinha e depois coloco Henry para dormir e vou para o quarto. Com o coração pesado, pego o telefone, discando para Alinna. E novamente chama e ela não atende.
- Alinna... Por favor, atenda o telefone. Precisamos conversar. Por favor... - Deixo um recado na caixa postal.
Nos dias que se seguem, Alinna não retorna meus inúmeros recados desesperados.
E vou me sentindo cada vez mais angustiada. Seguindo-a pelas redes sociais, vejo-a brilhando em seu papel de autora famosa e descolada, seus olhos brilhando de felicidade por desfrutar de uma vida que não é sua, mas que lhe cai bem como uma luva. Questiono a merda do destino que fez Clara e Arthur nos dividirem deste jeito. Se ao menos Alinna tivesse ido com Clara e eu tivesse ficado em Seattle...
Será que teria conhecido Vinnie? Será que eu teria corrido atrás dele como ela fez, até conseguir uma transa no banco de trás do seu carro? E será que eu teria engravidado e me casado? E nosso casamento seria feliz ao invés do desastre que era o casamento de Alinna?
Eu nunca saberia.
E as coisas em Seattle tinham alcançado uma estranha calmaria. Agora que eu tinha me dado conta da extensão do meu envolvimento com Vinnie e as crianças, vinha tentando me resguardar. Se é que era possível.
Elisa continuava reticente, distante e respondendo com monossílabos, pelo menos não tinha sido mais grosseria e nenhuma discussão havia acontecido. Sua mágoa me deixava triste e eu só podia torcer para que voltasse a ser aquela menina feliz e dócil que se revelou a mim por alguns dias. Vinnie trazia as crianças para jantar em casa todos os dias e sabia que elas ainda passavam um tempo com Nailea à tarde, não me importava mais com isso.
Afinal, ela era a tia, assim como eu, e agora que comecei a entender seu amor pelas crianças só esperava que pelo menos ela parasse com aquele comportamento obsessivo e destrutivo para si mesma e para seu casamento.
E havia Vinnie, desde a nossa estranha conversa nós vínhamos nos tratando com quase gentileza, embora sempre com certa distância. Ele dizia bom dia educadamente de manhã, tomava café com as crianças e até travávamos alguma conversa sobre o tempo ou qualquer amenidade. À noite, ele chegava com as crianças, me cumprimentava com igual educação e jantávamos juntos, sem nenhum imprevisto.
Depois Elisa sempre ia direto para seu quarto, às vezes ele ficava com ela e eu me perguntava se ele falava de mim ou a repreendia, não saberia dizer. Outras vezes ele pegava um livro e ficava na varanda lendo ou brincava com Stella até colocá-la para dormir. Quanto a mim, procurava não ficar no mesmo ambiente sempre que possível. Se ele ficava na sala com Stella, eu inventava o tal livro para ler, por exemplo. Apesar de toda aquela cordialidade fria, ainda era palpável a atração entre nós.
De vez em quando eu me pegava olhando para ele, quando estava distraído, mordendo meus lábios e me esquecendo de respirar, apenas o achando incrível. E sei que ele olhava para mim também, quando achava que eu não estava percebendo. O que fazia com que as pequenas faíscas dentro de mim se transformassem em labaredas que estavam cada vez mais difíceis de disfarçar.
Até que, sexta-feira, decido ter uma folga de toda aquela tensão e ir jantar com Arthur. Aviso Vinnie, de manhã, sobre meus planos, ele não se opõe.
- Tem certeza de que não tem problema?
- Gosto que vá ver seu pai. Você quase nunca fazia isso.
- Eu sei, por isso mesmo.
- Levarei as crianças para jantarem na minha mãe.
- Não na Nailea?
- Hub e ela tiveram uma conversa e parece que não é mais para eu levar as crianças para jantarem lá por um tempo, acho que é algum acordo que fez com a Nailea.
- Entendo... Por acaso... A Faith estará no seu pai?
- Não, ela viajou para Vancouver para o fim de semana.
Disfarcei um sorriso.
Então, naquela noite, chego à casa de Arthur e me ocupo em fazer o jantar. Quando ele chega, fica surpreso com minha presença.
- Que milagre é este? - pergunta, desconfiado, e eu sorrio.
- Milagre algum, só fazia um tempo que não nos víamos.
- E você está cozinhando?
- Sim.
- Você não sabe cozinhar.
- Não sabia, agora sei.
- Como assim?
- Oras, não moro aqui há dez anos, acha que não aprenderia a cozinhar?
- Seu marido e até sua filha já me falaram que sua comida é horrível.
- Bem, melhorei nos últimos tempos.
- Deixe-me adivinhar... - Ele cruza os braços em frente ao peito enquanto me ocupo em colocar as travessas na mesa. - Depois desta sua viagem misteriosa.
Dou de ombros, tentando aparentar naturalidade.
- Um pouco antes, claro... Vamos sentar e comer? Garanto que não vai ter uma congestão.
Ele se senta ainda desconfiado, quando começa a comer suspira de prazer.
- Sério que cozinhou este peixe?
- Claro que sim.
- Misericórdia, está muito bom.
- Eu falei.
Nós comemos em silêncio por um tempo até que ele volta a me fitar intrigado.
- E a que devo esta visita e o jantar?
Respiro fundo tentando não me chatear.
- Não há nada por trás, apenas... queria ficar um pouco com você.
- Que conversa é essa? Nunca quis passar um tempo comigo, nem quando morava aqui.
- Eu era imatura, não dava valor a você - desconverso.
- Ah é?
- Você é meu pai. É importante. Sabe que algumas pessoas... passam a vida inteira sem conhecer o pai? Elas devem se sentir horríveis. - Engulo o nó na minha garganta. - E quando elas têm a oportunidade de tê-los em sua vida, devem aproveitar os momentos com ele.
Arthur me fita com os olhos franzidos.
- O que está acontecendo, Alinna? Porque está sendo sentimental desse jeito?
Sorrio, enxugando minhas lágrimas que teimam em cair.
- Acho que estou na TPM.
Ele revira os olhos.
- Só podia ser.
- É sério. Talvez nunca tenha dito isto, mas... eu te amo pai.
Minhas palavras parecem abalar Arthur, embora ele disfarce.
- Bem, a comida estava boa pelo menos.
Nós nos levantamos da mesa e começo a retirar os pratos.
- Deixa que eu lavo, já que cozinhou. Sei que odeia lavar a louça.
- Está bem.
Vou para varanda tentar me recompor também. E dali algum tempo Arthur aparece e para ao meu lado.
- Está tudo bem... na sua casa?
- Está... As coisas melhoraram.
- Isto é bom, parece que está criando juízo.
Nós ficamos em silêncio por um tempo.
- Acho que já entendi porque está aqui.
Eu o encaro sem entender.
- Amanhã é aniversário deste velho e, por incrível que pareça, você lembrou.
- Claro que foi - minto. - Já que é seu aniversário amanhã, que tal um almoço na minha casa. Com toda a família?
- Está falando sério?
- Claro que sim. As crianças iriam adorar. E parece que eu preciso me redimir, não é?
- Tudo bem, quem sou eu para recusar comida boa.
Esboço um sorriso e faço algo que estava com vontade de fazer há muito tempo. Eu o abraço.
Há quanto tempo desejava abraçar meu pai? Acreditava que nunca seria possível. Pelo menos toda aquela confusão que eu e Alinna criamos serviu para eu poder realizar esse sonho.
Se ao menos eu pudesse contar a verdade a ele...
Talvez um dia.
- Preciso ir. - Sorrio me afastando.
- Certo.
- Será que a gente poderia fazer isto mais vezes? - pergunto, hesitante e esperançosa. Quero passar mais tempo com Arthur enquanto posso.
- Claro.
- Nos vemos amanhã, então?
- Amanhã! - Ele acena, e me afasto para meu carro.
- Alinna? - Ele me chama quando estou abrindo a porta.
- O quê?
Ele sacode a cabeça.
- Nada... só uma bobagem que passou pela minha cabeça de repente... - Ele sacode a cabeça, perdido em seus pensamentos. - Não é nada.
Continua...
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