Allice Point Of View
Dizem que o tempo cura tudo. Ainda estou esperando esta máxima funcionar comigo.
Faz três meses que Alinna se foi.
Três meses que deixei Seattle e todos que amava para trás.
E ainda acordava toda noite banhada em suor, depois de sonhos que se transformavam em pesadelos.
Neles, sempre estou em Seattle. Revivo meus dias como Alinna, cuido de suas crianças como se fossem minhas e me apaixono por seu marido como se ele fosse meu. Então, depois, tudo desaparece. E me vejo sozinha em frente à casa, as portas fechadas para mim. E lá dentro escuto o choro das crianças.
Escuto a voz de Vinnie consolando-as. E de repente Alinna surge ao meu lado. Ela segura minha mão e sorri para mim.
- Você precisa ser forte, irmã.
E o sonho termina quando acordo chorando, sentindo um vazio que temo nunca mais ser preenchido.
É o vazio de Alinna na minha vida. É o vazio da vida que ela me presenteou para depois me ser tirada.
E assim os dias transcorrem, tristes, vazios, sombrios.
Não consigo escrever, abro meu laptop todos os dias e fico horas olhando para a tela vazia. Não há nada dentro de mim que possa ser colocado no papel.
Estou oca por dentro.
E todas as noites vou dormir após rezar por Vinnie e pelas crianças. Para que eles estejam melhores que eu. Que estejam superando pouco a pouco o sofrimento pela perda de Alinna e a nossa mentira.
Rezo para que não guardem rancor da mulher que se foi.
E que, se possível, não guardem rancor de mim.
Naquela manhã, corro pelo Grand Park como sempre faço, agora ignorando o frio do inverno. Correr me ajuda a espairecer, embora me faça lembrar das corridas matinais de Vinnie. E todas as vezes acabo chorando em silêncio.
Eu sentia tanta falta dele. Tanta, que doía em meus ossos.
Será que ele já me esqueceu? Existia um lado meu que torcia para que Vinnie superasse o que eu tinha feito. Enquanto um outro, inconsequente e egoísta, queria que ele não esquecesse.
Que não esquecesse de mim.
Afinal, quem ele amou? Sempre fui Alinna para ele. Todas as vezes em que me beijou, que fizemos a amor... era Alinna que ele desejava.
Eu era apenas um corpo e um rosto igual ao dela.
Pensar nisso fazia doer demais.
E eu tentava esquecer. Eu devia esquecer. Eu precisava esquecer.
Quem disse que eu conseguia? A cada dia que passava só sentia aquele amor se solidificar mais.
Não ajudava nada que Arthur me ligasse de vez em quando e eu não aguentava e sempre perguntava por eles.
No começo a resposta era sempre a mesma.
- Vou todas as semanas lá. Vinnie não tem ido à oficina, está se dedicando somente às crianças.
- E como elas estão?
- Elisa continua bem calada e reticente, negando-se a falar sobre você ou sobre a mãe que morreu.
- Pobrezinha. E Stella?
- Stella pergunta muito por você. Ela diz que sente saudade e que você prometeu voltar. E quando vou embora ela sempre diz: "vovô, diz para a mamãe que estou esperando".
- Oh! - Eu sempre terminava chorando.
- E Vinnie?
- Ele está triste, mas mantém a postura pelas crianças. Ele precisa ser forte por elas e é o que está fazendo.
- Ele fala sobre mim?
- Até tentei conversar com ele, mas é difícil.
- Ele finge que eu não existo.
- Entenda, Ali, ele sofreu demais com tudo. Coloque-se no lugar dele. Ele passou um mês inteiro com uma mulher que no fim não era quem ele pensava. E ainda descobriu que a esposa e mãe dos seus filhos morreu. Ninguém sai de algo assim de uma hora para outra. Dê tempo ao tempo.
- Sinto tanto a falta deles.
- Eu sei, querida.
E por semanas as respostas não eram diferentes, por fim, as coisas começaram a mudar.
Elisa não estava mais tão triste o tempo todo, embora ainda se negasse a falar sobre mim ou Alinna. Vinnie havia voltado a trabalhar na oficina meio período, enquanto as crianças estavam na escola. E Nailea cuidava de Henry enquanto isto.
- E Faith? - Não conseguia deixar de perguntar.
- Essa se mancou e foi embora na semana passada.
- Sério?
- Sim, voltou com o marido, pelo que ouvi dizer.
Não contive o suspiro de alívio.
Não podia negar o medo que existia dentro de mim de que Vinnie resolvesse dar uma chance a Faith agora que estava viúvo.
- E você, filha, como está? - ele perguntava, e eu sempre tentava parecer melhor do que realmente estava.
- Melhorando. Um dia de cada vez, não é?
- Sua voz não me parece boa.
- Vou ficar bem, pai.
O natal estava chegando e, enquanto saio do parque diminuindo o passo, relanceio meus olhos pela decoração da cidade, sentindo um aperto no peito. Como será que seriam as coisas em Seattle naquele feriado?
Quando chego em casa, Avani está me esperando.
- Olá, como vai? - Ela está sempre preocupada comigo, não há nada que eu possa fazer.
- Estou bem. Estava correndo.
- Percebi.
- O que deseja?
- Sabe o quê. Quero saber como vai seu livro novo.
- Nada ainda, continuo tentando.
- De verdade?
- Por favor, Avani, não me pressione.
- Sabe que é minha obrigação. É o que você faz, Ali. Escreve. Não pode parar só porque...
- Só por que o quê? - Eu me irrito.
- Me desculpe.
Suspiro, arrependida por ter sido grosseira.
- Me desculpe.
- Eu só quero te ajudar. Já passaram meses. Precisa seguir com a sua vida.
- Estou tentando.
- Não, não está. Está se escondendo.
- O que mais eu posso fazer? Não vejo motivos para viver - confesso.
Avani se aproxima e toca minha mão.
- A vida é curta, Ali. Veja a vida de Alinna, ela passou dez anos num casamento vazio, sendo infeliz e só tomou coragem de ir embora quando era tarde e foi só para tomar a vida que nem era dela. Para viver uma ilusão.
- Pelo menos ela parecia feliz... - Recordo da minha ligação, confessando meu amor por Vinnie, o que sempre me atormentava. Será que eu fiz Alinna sofrer? Ter raiva de mim?
Eu nunca iria saber e era difícil de suportar.
- Sim, ela parecia feliz, embora soubesse que em algum momento tudo acabaria, que era só uma ilusão.
- Assim como eu também sabia.
- Sim... Acabou. É passado. E não podemos mudar o que fizemos de errado, o passado não volta. Só podemos seguir em frente.
- Como?
- Se perdoando.
- Não sei se consigo.
- Precisa tentar.
Ela beija meus dedos e se afasta.
- Eu já vou. Pode sair para fazer umas compras comigo amanhã?
- Não.
- Vai sim. Vamos nos divertir gastando algum dinheiro.
Depois que ela se vai, o telefone toca e vejo que é Arthur.
- Oi, pai.
- Oi, filha, tudo bem?
- Tudo e você?
- Sim, e... está tudo bem aí? - pergunto baixinho. Arthur sabia o que eu estava querendo dizer.
- Eu te liguei para pedir que venha a Seattle para o Natal.
- O quê?
- Você ouviu.
- Você sabe que não posso! - Sinto minhas mãos suarem só de pensar em voltar a Seattle .
- Já se passaram três meses, Ali. Está na hora de retornar à cidade.
- Não sei se devo. Não há nada que eu deseje mais do que retornar... rever as crianças e...
- Vinnie?
- Sim, o senhor sabe como me sinto. Vinnie me mandou embora, ele disse que eu tinha que me afastar para o bem das crianças.
- Ele disse no calor do momento e eu acreditava que era o melhor também.
- E foi melhor. O senhor mesmo disse que as coisas estão melhorando pouco a pouco.
- Sim, por isso mesmo está na hora de você voltar.
- Todos me odeiam.
- Não é bem assim. Foi um choque para todos, porém o tempo cura tudo, filha.
- Vinnie não me quer aí - digo baixinho.
- Ali, Vinnie vai se mudar de Seattle.
- O quê? Como assim?
- Ele desfez a sociedade com Hub e vai morar em Kenmore com as crianças, fica aqui em Washington mesmo.
- Por quê?
- Ele está tentando entrar na universidade de lá.
Abro minha boca, totalmente estupefata.
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𝐓𝐡𝐞 𝐄𝐱𝐜𝐡𝐚𝐧𝐠𝐞 | 𝐕𝐢𝐧𝐧𝐢𝐞 𝐇𝐚𝐜𝐤𝐞𝐫 ✓
Storie d'amore◩ 𝐓𝐡𝐞 𝐄𝐱𝐜𝐡𝐚𝐧𝐠𝐞 ◪ 𓏲໋ׅ ᴠɪɴɴɪᴇ ʜᴀᴄᴋᴇʀ ᴀᴅᴀᴘᴛᴀᴛɪᴏɴ. A tímida e insegura Allice Smith, passou a infância e adolescência como filha única, se mudando de cidade em cidade com uma avoada mãe. Adulta, se mudou para Los Angeles para fazer faculdade...