Parte 53

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- Sr. Satoru, certo? - a enfermeira me chamou de canto na sala. - Olha, o estado dela é muito grave. Foi preciso colocá-la em coma induzido devido a gravidade do ferimento atrás da cabeça. Nós vamos aguardar o inchaço diminuir e ... não temos certeza se ela vai acordar. - aquelas palavras foram como balas entrando no meu coração.

- O ... q-que? - eu balbuciei.

- Sinto muito, Sr. Satoru! Ela pode nunca mais acordar! - a enfermeira disse firmemente, mas com a voz triste.

Eu perdi o chão! Meu estômago se contorceu naquele momento e eu corri procurar um vaso de planta ou algo assim. Vomitei no primeiro vaso de planta que achei, ali na recepção mesmo. Eu suava frio, minha nuca e testa se encharcaram.

- Não, S/N! ... - eu comecei a chorar desesperado. Meu coração queria sair pela boca.

Sentei ao lado do vaso, encostado na parede. Removi a venda para deixar as lágrimas escorrerem. Enfiei a cabeça entre os joelhos, como uma criança e chorei.

- Fique com a S/N, eu vou continuar a ronda até amanhecer!

O Megumi estava próximo e escutou tudo. Ele sempre foi muito centrado quando a situação pedia. Ele era um bom aluno. Eu podia confiar nele.

"Fique com a S/N!". As palavras dele ecoaram umas trezentas vezes na minha cabeça. Eu ... eu não fiquei com ela. Eu a deixei sozinha! Agora eu era um inútil! O que eu poderia fazer?

Mais uma onda de desespero. Eu chorava sem controle. Como uma criança assustada.

Você não passa disso, né Gojo? Uma criança mimada e assustada. Por isso ela preferiu o ... Eu gelei.

Como eu ia contar isso ao Nanami? Ele vai me matar! Vai me odiar e me matar depois! Eu era o único que podia cuidar dela e ... ele literalmente vai tentar me matar!

Amanhã eu encaro o Nanami. Me levantei do chão, enxugando as lágrimas e pedi para a enfermeira me mostrar a S/N, mesmo que de longe.

Ela se compadeceu do meu estado, eu acho. Porque permitiu que eu acessasse um pedaço da UTI e visse a S/N de longe. Ela estava entubada e respirava por aparelhos. Sua cabeça estava totalmente enfaixada e sangue havia se acumulado nas olheiras, abaixo de seus olhos. Vi um dos cães do Megumi nos pés dela, sobre o leito. Isso me tranquilizou um pouco.

Eu agradeci, voltei à sala da recepção e fiquei lá, até amanhecer.

O vazio da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora