Parte 28

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Fiquei em silêncio o caminho todo até o hotel. Ele fez o check in e se despediu na recepção mesmo. Subi ao quarto e resolvi tomar uma ducha.

No banho, eu não conseguia parar de pensar no Nanami. Aquele beijo quente no meu pescoço, aquele pau roçando na minha bunda no elevador. Eu queria ele.

Mas ele decidiu estar com a feiticeira Mei Mei. A fisgada de ciúmes apareceu de novo.

Me troquei com pressa, coloquei um vestido atraente e sai pelas ruas de Shibuya. Resolvi comer na rua mesmo, para me distrair.

A algumas quadras do hotel, avistei um restaurante muito convidativo. Me sentei e pedi uma refeição. Fiquei olhando pela janela as pessoas passarem. Estavam tão apressadas. Algumas estavam sérias olhando para baixo. Outras ao celular, gesticulando e falando alto. Outras estavam acompanhadas e eu via sorrisos e risadas. Havia todo o tipo de gente. Cada um com sua vida. Todos no mesmo lugar.

Olhei para o lado e reparei um rapaz me olhando. Quando nossos olhos se encontraram, ele desviou o olhar. Mas depois logo voltou a me olhar e sorriu.

Eu sorri de volta. Ele parecia simpático e era muito bonito.

Ele se levantou e veio em minha direção.

- Me perdoe a intromissão, mas por que está jantando sozinha? - ele parou ao lado da minha mesa, com as mãos nos bolsos do terno. Parecia muito confiante em abordar uma garota desconhecida.

- Vim a negócios em Shibuya. E você? Reparei que estava jantando sozinho também! - olhei ele dentro dos olhos.

- Ah ... eu sempre janto aqui! Eles são ótimos! - ele respondeu encabulado com o meu olhar. Fez uma pausa. - Posso me sentar?

- Claro! Eu vou chamar a garçonete, para perguntar se você não é nenhuma pessoa esquisita. - levantei a mão e chamei a garçonete - Já que vem sempre aqui, eles devem te conhecer, não é? - eu ria por dentro com a cara espantada que ele fez.

- É ... você é cautelosa! - se sentou e tirou as mãos dos bolsos, colocando sobre a mesa - Gostei!

A garçonete chegou e eu pedi um copo de suco. Ela se virou para o rapaz e disse:

- Vai jantar nessa mesa hoje, Sr. Yoshida? - ele sorriu de canto de boca e confirmou com a cabeça.

- Você o conhece? - questionei a garçonete.

- Ah sim! O Sr. Yoshida é um cliente fiel e muito querido. Já volto com seus pedidos. - ela se afastou.

- Você perguntou mesmo! - ele falou com cara de surpreso.

- Eu disse que ia perguntar! - rimos de forma descontraída.

Em poucos minutos ficamos amigos. Durante o jantar, ele me contou que trabalhava em um escritório de advocacia em um desses arranha céus, que adorava surfar e que estava a um tempo se obrigando a flertar com as moças que entravam no restaurante porque seus pais e sua terapeuta achavam que ele ia morrer sozinho. Ele era divertido.

- E como está sendo? - eu perguntei mexendo o canudo no copo de suco e colocando ele na boca.

- O que? - ele não tirou os olhos dos meus lábios. - Ah, o flerte? Ah, você sabe ... você foi a primeira pessoa que me deixou sentar! - ele riu alto e eu também. - Minhas cantadas são horríveis!

- Do jeito que me abordou, parecia um cara muito estranho. - eu confessei e rimos mais.

Ao terminar o jantar, ele me convidou para tomar um sorvete e eu aceitei. O papo estava muito bom. Saindo do restaurante, uma rajada de ar gelado fez eu me arrepiar e levei as mãos aos braços, num impulso.

Ele retirou o paletó do terno e o colocou sobre meus ombros, com gentileza. Quando estava perto eu notei uma tatuagem pequena de um buda, perto do osso da clavícula. Ele não usava gravata e a camisa estava aberta até o segundo botão. Ele tinha um perfume delicioso.

Pegamos casquinhas em uma sorveteria ali perto e fomos andando pelas ruas. Eu fiquei próxima ao hotel, para não me perder.

O sorvete estava muito bom e eu me deliciei. Não reparei, mas fiquei com a bochecha suja de sorvete, perto da boca. Ele sem pensar, levou a mão e removeu o pingo de sorvete do meu rosto com o polegar, levou o dedo à boca e o lambeu.

Nossos olhos se encontraram e ele chegou bem perto de mim. Colocou as duas mãos em meu pescoço e chegou perto da minha boca:

- Seria muita audácia minha se eu te beijasse? - ele sussurrou em meus lábios.

- Veja o que acontece! - falei colocando as mãos em seu peitoral e me inclinando para ele.

Nos beijamos e o beijo dele foi doce e demorado. As pessoas passavam por nós pela calçada, alheias à demonstração de afeto. Eu gostei do beijo. Gostei da companhia.

Meu celular vibrou uma vez. Ignorei. Vibrou duas vezes. Continuei ignorando. Vibrou uma terceira vez.

- Deve ser importante ... - ele disse se afastando um pouco.

Corri os olhos na bolsa e peguei o celular zangada.

"Cadê você?".

"Já cheguei do jantar.".

"Onde você está?".

"Estou bem e estou voltando." Enviei.

Olhei para o rapaz à minha frente. Ele me olhava com doçura.

- Eu não sei seu nome. - perguntei a ele, devolvendo o paletó.

- É Takashi! Sou Takashi Yoshida! - ele se curvou e se apresentou formalmente.

Eu ri da formalidade desnecessária.

- E eu sou S/N Saito! Foi um prazer conhecê-lo ,Takashi! - me curvei também - mas eu preciso ir.

- Você me daria a honra de ter o número do seu celular? - ele pediu sem graça.

- Takashi ... não fale assim! - eu ria enquanto passava meu nro para ele - Não fale em "dar a honra" a não ser que esteja pedindo alguém em casamento. Um simples "posso ter seu nro", já é suficiente!

- Vai ser difícil encontrar uma garota tão legal como você assim nos próximos flertes! - ele me beijou e me colou ao corpo dele, me segurando pela cintura. - Foi um prazer te conhecer!

Nos despedimos e eu voltei ao hotel, sem pressa. Ainda bem que tinha saído do quarto. Eu me diverti muito conhecendo o Takashi. Coisas boas estavam acontecendo.

O vazio da morteOnde histórias criam vida. Descubra agora