CAPÍTULO 04

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Analu tinha um estilo que nunca caberia no meu jeito moleca de ser

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Analu tinha um estilo que nunca caberia no meu jeito moleca de ser. Quer dizer, minhe amigue era estilose pra cacete, isso eu tinha que admitir e elu nunca teve medo de ser quem era, mesmo tendo que lidar vez ou outra com a negação de terceiros.

Era sempre como se nunca pudéssemos ser nada que não coubesse em caixinhas pré formuladas. Quer dizer, caixinhas são sempre pequenas demais para caber nossas profundidades e crescer em lugares pequenos demais é uma merda.

— Eu preciso que você pare de se mexer. — Pressionei a mão em ambos os lados da cabeça de Analu, enquanto elu, de olhos fechados, mantinha o corpo esticado na cama e a cabeça entre minhas pernas.

— Isso é muito estranho. — resmungou.

— Não, não é. — retruquei ouvindo as risadas de Cecília enquanto eu mantinha os dedos firmes ao redor do delineador líquido.

Era impressionante a minha capacidade de maquiar os outros e fazer tudo errado em mim mesma.

— Você já ouviu Tim Bernardes, Nic? — Ceci perguntou, mas não encontrei seu rosto.

Mantive a atenção fixa no desenho sobre a pálpebra direita de Analu. Segui a linha por cima dos cílios e desci pelo cantinho, fazendo um triângulo perfeitinho.

— Já, ele me deprime — retruquei e ela suspirou, girando na cadeira de rodinhas no meio do meu quarto.

— Ele é perfeito.

— Você que adora um cantor triste, Cecília. — Nalu comentou e foi impossível não concordar.

— Na verdade ela curte caras tristes. — Reformulei as palavras, sendo acompanhada por suas risadas.

— Óbvio que não!

Sua revolta não nos afetou.

Passei o pincel por cima da pálpebra esquerda, seguindo o mesmo caminho da direita, em uma linha firme e consistente.

— Óbvio que sim. — Nalu resmungou e limpei alguns cantinhos antes de vislumbrar o desenho perfeito do delineador sobre sua pele clara.

— Prontinho!

Elu deu a mim o tom acinzentado dos seus olhos e sorri antes delu se levantar em busca do próprio reflexo no espelho do meu armário.

— Nossa, tá foda! — Analisou o rosto nos dois lados, vendo minha obra prima.

Pelo menos em algum lugar os meus rabiscos deveriam ser bons.

Nalu tirou o óculos da gola da camisa branca de botões, ajeitando as lentes no rosto. Virou o corpo para nós duas, dando a imagem completa da calça de alfaiataria vermelha e da blusa de botões da Cecília. O cinto preto era um agregador entre a calça e a blusa branca.

— E então?

Troquei olhares com Cecília e concordamos com a cabeça.

— Está espetacular.

⚢| Eternas Canções dos Anos 90Onde histórias criam vida. Descubra agora