Analu tinha um estilo que nunca caberia no meu jeito moleca de ser. Quer dizer, minhe amigue era estilose pra cacete, isso eu tinha que admitir e elu nunca teve medo de ser quem era, mesmo tendo que lidar vez ou outra com a negação de terceiros.
Era sempre como se nunca pudéssemos ser nada que não coubesse em caixinhas pré formuladas. Quer dizer, caixinhas são sempre pequenas demais para caber nossas profundidades e crescer em lugares pequenos demais é uma merda.
— Eu preciso que você pare de se mexer. — Pressionei a mão em ambos os lados da cabeça de Analu, enquanto elu, de olhos fechados, mantinha o corpo esticado na cama e a cabeça entre minhas pernas.
— Isso é muito estranho. — resmungou.
— Não, não é. — retruquei ouvindo as risadas de Cecília enquanto eu mantinha os dedos firmes ao redor do delineador líquido.
Era impressionante a minha capacidade de maquiar os outros e fazer tudo errado em mim mesma.
— Você já ouviu Tim Bernardes, Nic? — Ceci perguntou, mas não encontrei seu rosto.
Mantive a atenção fixa no desenho sobre a pálpebra direita de Analu. Segui a linha por cima dos cílios e desci pelo cantinho, fazendo um triângulo perfeitinho.
— Já, ele me deprime — retruquei e ela suspirou, girando na cadeira de rodinhas no meio do meu quarto.
— Ele é perfeito.
— Você que adora um cantor triste, Cecília. — Nalu comentou e foi impossível não concordar.
— Na verdade ela curte caras tristes. — Reformulei as palavras, sendo acompanhada por suas risadas.
— Óbvio que não!
Sua revolta não nos afetou.
Passei o pincel por cima da pálpebra esquerda, seguindo o mesmo caminho da direita, em uma linha firme e consistente.
— Óbvio que sim. — Nalu resmungou e limpei alguns cantinhos antes de vislumbrar o desenho perfeito do delineador sobre sua pele clara.
— Prontinho!
Elu deu a mim o tom acinzentado dos seus olhos e sorri antes delu se levantar em busca do próprio reflexo no espelho do meu armário.
— Nossa, tá foda! — Analisou o rosto nos dois lados, vendo minha obra prima.
Pelo menos em algum lugar os meus rabiscos deveriam ser bons.
Nalu tirou o óculos da gola da camisa branca de botões, ajeitando as lentes no rosto. Virou o corpo para nós duas, dando a imagem completa da calça de alfaiataria vermelha e da blusa de botões da Cecília. O cinto preto era um agregador entre a calça e a blusa branca.
— E então?
Troquei olhares com Cecília e concordamos com a cabeça.
— Está espetacular.
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⚢| Eternas Canções dos Anos 90
Novela JuvenilNicole tem uma paixão e ela se chama Mabel Fernandez. A guitarrista da banda mais falada da cidade, despertou sentimentos no coração fatigado da skatista e agora, cheia de passado conturbado, Nicole criará coragem para se permitir amar quem te ama d...