Tirei o gesso na manhã de uma sexta feira de Sol. Foram exatas duas semanas, mais cinco dias, oito horas e trinta minutos com aquele troço na minha perna. Entretanto não sabia o que era pior, o tempo com ele, ou o aspecto estranho depois dele.
- Isso é estranho.
- Vai melhorar, pensa, vinte dias com gesso afetam a musculatura. - Encontrei o tom castanho da Carolina por trás das lentes sustentadas no seu nariz.
A enfermeira do postinho me encheu o saco falando sobre fisioterapia e exercícios físicos, mas o único exercício que queria fazer consistia em andar no shape sobre quatro rodinhas. Poxa, meu skate estava com saudade de mim e eu dele.
Girei o tornozelo de um lado para o outro, quase não sentindo mais dor. Estava pronta pra outra.
- Beleza! - Fiquei de pé me reacostumando com a liberdade de movimentos. - Vou na casa de Nalu.
Busquei o rosto de minha mãe sentada no sofá. Sua atenção estava entre o livrinho de caça palavras em os dedos e o programa de fofocas na TV.
- Não vai não!
- Mãe, eu estou há semanas - enfatizei. - Sem andar no meu skate. - Fiz questão de pegar o meu companheiro do chão e quase esfregar na frente dela.
Estava tentando fazer um dramalhão ali, mas não rolou.
Minha mãe fixou suas íris acastanhadas nas minhas, só para declarar um belo:
- Não!
- Mãe...
- Não começa. - me cortou enquanto corria a caneta pela diagonal no papel. - Não tem nem doze horas que você tirou esse gesso, você não vai a lugar nenhum até terminar as provas na próxima semana.
- Mãe - Comecei controlando o meu desespero. - Eu passei todos esses últimos dias estudando com a Mabel, não consegui ver a Cecília por causa da bagunça na casa dela, Nalu começou a terapia e a gente precisa conversar, Luís está atarefado com o cursinho preparatório e eu preciso, não, necessito dar um rolê de skate se não eu vou pirar!
Concluí todo aquele discurso e Carolina nem deu atenção. Eu sei que entre riscar palavras no texto e encontrar outras perdidas, ela tinha me ouvido, mas não reagiu como eu queria. Na verdade, assim que fiquei em silêncio, minha mãe caiu na gargalhada.
Em certo ponto começou a ficar vergonhoso.
- Mãe, para de rir!
- Eu não estou rindo. - retrucou rindo.
- Caraca!
- Eu tô prestando atenção aqui. - Apontou para o livrinho com a ponta da caneta.
- Não, não está, você está rindo da sua filha!
- Não estou. - Carolina começou a rir na minha cara.
- Tá rindo.
Acomodei o corpo no sofá, puta da vida.
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⚢| Eternas Canções dos Anos 90
Novela JuvenilNicole tem uma paixão e ela se chama Mabel Fernandez. A guitarrista da banda mais falada da cidade, despertou sentimentos no coração fatigado da skatista e agora, cheia de passado conturbado, Nicole criará coragem para se permitir amar quem te ama d...