É uma sensação estranha. A gente deságua, desaba e vai sendo consumide por isso. É bom procurar refúgios de vez em quando, procurar por braços e abraços e quem sabe um lugar pra chorar.
Sabia como era essa sensação de não conseguir estar em lugar nenhum e reconhecer essa quentura de quando se acha um lugar para estar.
A Mabel dormiu na minha cama. Eu não tinha a menor ideia do que rolou, mas às vezes ficar perguntando não ajuda em nada, então depois que ela se acalmou eu só cedi o lado vazio do meu colchão, perto da parede e quis ser presença. Observar ela dormir era ao mesmo tempo calmo e angustiante. Foram centenas de minutos assim. O sol foi se pondo e o quarto sendo banhado por uma noite silenciosa, mas inquieta.
Dedilhei os dedos pela lateral do seu rosto, escondendo a mecha azul atrás da sua orelha. O celular ficou vibrando sobre a escrivaninha, mas não saí da cama. Era estranha a maneira como eu me sentia naquele escuro, sem saber o que dizer e muito menos o que fazer.
— Ei! — Lancei a atenção das minhas íris para a porta, encontrando a figura da minha mãe de pé. — Ela acordou?
Neguei com a cabeça, vislumbrando aquela penumbra no quarto.
— Quer alguma coisa? — Continuou e neguei novamente.
A maneira como a minha mãe lidava com aquilo era longe demais do que qualquer coisa que pensei nos últimos meses, ou melhor, nos últimos dezessete anos. O meu erro foi meter os pés pelas mãos, achando que algo nas minhas bagunças fizesse sentido.
— Obrigada. — murmurei e ela esboçou um sorriso amigável.
— Qualquer coisa, estou na sala.
Concordei e meio sem jeito, Carolina fechou a porta do quarto, trazendo aquela imensidão silenciosa. Fiquei de barriga para cima, estendendo os dedos até o abajur ao lado do móvel. A lâmpada trouxe luz para o meu quarto, iluminando também uma parte da pele clara do rosto de Mabel. Não sabia mostrar presença e mesmo sabendo do que a gente tinha, não me sentia com total liberdade para deixar minhas digitais sobre sua pele.
Tombei a cabeça na direção da escrivaninha, vendo o celular vibrar sobre o tampo de madeira. Os dedos batucavam na camiseta, tão inquietos quanto o meu peito e a minha cabeça. Esqueci aquele barulho e respirei fundo, fechando os olhos e tentando, muito, manter a calma naquela escuridão toda.
— Ei… — O som soou baixo, feito um sussurro.
Abri os olhos devagarinho, indo na direção daquelas íris azuis. O efeito das suas lágrimas estavam no nariz vermelho e no inchaço debaixo dos olhos, mesmo assim, Mabel sorriu com os lábios fechados, como se quisesse passar qualquer tipo de sentimento.
— Ei. — murmurei no mesmo tom, sem conseguir expressar muito.
Virei de lado na cama e seus olhos foram na direção das minhas pernas.
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⚢| Eternas Canções dos Anos 90
Ficção AdolescenteNicole tem uma paixão e ela se chama Mabel Fernandez. A guitarrista da banda mais falada da cidade, despertou sentimentos no coração fatigado da skatista e agora, cheia de passado conturbado, Nicole criará coragem para se permitir amar quem te ama d...