Capítulo 10
Os Cangaceiros
Os olhos pareciam pesados ao acordar. Sabia que dormira demais, mas apenas por causa do enorme cansaço que sentia. A boca estava seca e os lábios quase rachados, provavelmente porque dormira de boca aberta e não se recorda de ter tomado muita água naqueles, o que poderia ter sido, cinco dias.
Tauã virou a cabeça e encarou o teto do lugar onde estava. Demorou até sua consciência lhe dizer que deveria ser uma cabana. Parecia com uma barraca na qual se fazem acampamentos. Havia pedaços grande de madeira segurando o teto de pano grosso, mas que ainda passava a luz do sol. A maiorias dos pequenos feixes de luz entrava por buracos do tamanho de balas de pistola.
Quando se mexeu, tudo doía. As costas estavam duras contra o chão arenoso. No pescoço, a dor de um torcicolo. Os braços com os músculos rígidos e os dedos pareciam enferrujados. Puxou as mãos para separá-las e ouviu o roçar das cordas no pulso, prendendo.
Ainda olhando para cima, passou a língua nos lábios para molhar ali e matar um pouco da sequidão de sua garganta. Podia-se ouvir vozes vindo de fora. A conversa em sotaques, algumas risadas e até sons de espadas e armas sendo recarregadas com as balas.
Se mexeu novamente e até a lufada de ar que dera, doía os pulmões e os ossos do peito. Uma dor lhe acertava a costela e recordou do tombo que deu quando a carruagem que viajava com Benedito, capotara.
Benedito!
Se virou rápido, ignorando as dores e se arrastou para o homem desacordado ao seu lado.
— Benedito! — sussurrou com apreensão, tentando alcançar ele. — Acorda!
Tauã sentiu o corpo estremecer. O que poderiam ter feito com Benedito? Ele estava desacordado, não se mexia e por um instante achou que seu peito não subia e nem descia, como um sinal de que não estava respirando.
A visão já estava turva quando ele se arrastou mais ainda e quase se jogou encima de Benedito, conseguindo o balançar e chamar seu nome novamente.
— Por favor, Senhor. Acorde! — o chacoalhou, suplicando com a voz que já passara a ser mais alto que um sussurro. — Benedito!
— Tauã? — falou uma vez, em tom baixo de quem acabara de despertar. — Tauã! — soltou e foi mais alto quando abriu os olhos para encarar o guarda.
— Ah, ainda bem! — disse e soltou um suspiro alto.
— Pensei que estivesse morto! — Benedito disse e quando se mexeu, soltou um arfo de dor.
Demorou mais de dez minutos para que Benedito alertasse sua visão e a mente como Tauã havia feito.
— E eu achei que estivesse morto... — soltou Tauã, agora com as costas na madeira que sustentava a cabana.
— Não ainda. — disse Benedito, resmungando com a dor nas costas. — Talvez eles demorem a nos matar. Somos importantes...
— O Senhor é.
Os dois se encararam por um momento e passaram a olhar o lugar. Tauã observava em busca de algo para que pudessem se soltar ou ao menos água para molharem a garganta. Apenas as mãos estavam presas e os pés só doíam demais para que pudesse movê-los. Não ventava, pois a cabana não se mexia e o calor era bem presente, apesar de não o fazer suar. Presumiu que ainda seria menos das dez da manhã.
— Não seja duro consigo mesmo. — disse Benedito. — Você é meu guarda. Não irão procurar apenas por mim. Se não me acharem, eles procurariam por você.
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A Primeira Imperatriz
Historical FictionVicthana é escrava em um fazenda no sul do Brasil imperial, em 1880. Sobrevivendo a fome ao lado de sua mãe, nas senzalas, ela organiza uma fuga para o nordeste. Mas quanto mais ao norte, o dobro sofriam com a seca e as estiagens no sertão nordestin...