Capítulo 7
Para a Capital
— Provavelmente chegaremos ao anoitecer de hoje, senhor. — disse o guarda a frente de Benedito.
— Como espero que sim, Tauã. Odeio estas viagens. — resmungou enquanto comia do pão que lhe fora servido. — Ficar dentro daquela carroça por dias é demais para mim. Por isso, quando vim do sul, apenas fiquei por aqui.
Benedito olhou pela janela do pequeno estabelecimento em que estavam para ver o céu e a mata seca. Devia ser quase dez da manhã, pela altura do sol. Fizeram uma pausa em uma cidadezinha para se alimentarem e cuidar dos animais.
— Convenhamos que o senhor não ficou na província por esse motivo, não é? — sorriu Tauã, bebendo o suco azedo de seu copo, o que fez com que ele fizesse uma breve careta.
— Ah, claro que não! — Benedito deu um sorriso com as lembranças que o atingiram. — Minha bela Iraci. Nunca amarei outra mulher em minha vida.
A viagem de Benedito e sua caravana em direção a capital já durava três dias. Estava sendo considerada uma viagem rápida, pelas poucas paradas que fizeram, pois, haviam poucos homens. Um homem para cada carroça que carregava o trigo, sendo quatro delas. Além de duas carruagens, uma para os mantimentos em geral e a que levava Benedito e seu guarda, e amigo, Tauã.
— Bem imagino, meu senhor. — disse Tauã, mordendo o último pedaço do pão. — Me recordo pouco dela. Já que o período em que cheguei com o senhor Thoumas em sua fazenda, ela já não estava mais... — procurou as palavras. — Não estava mais presente.
Benedito sorriu de lado para Tauã, como se agradecesse. Mesmo depois daquele tempo, mesmo com a amizade que ultrapassou o dever de proteger seu senhor, ele mantinha o cuidado de usar certas palavras.
Tauã era quase dez anos mais novo que Benedito, já que ele beirava os cinquenta anos. Era alto e estava em ótima forma, com músculos e aparência cuidada com os cabelos pretos e lisos, com leves ondulações a descer pelas laterais e a barba rala sobre todo o rosto. Seu nariz era pontudo e médio, mas se destacava pouco em seu rosto, já que o olhar profundo e de cor castanho claro se sobrepunha.
— De qualquer forma, foi um momento trágico. — disse Benedito, em um tom baixo. — Quando você chegou, ela ficava apenas deitada na cama, em nosso quarto e eu cuidava dela.
— Me recordo de ajudar nos mantimentos. — Tauã apoiou os cotovelos na mesa. — Infelizmente, presenciei as mortes das mulheres de meus dois senhores. — Relembrou. — Saímos do Rio de Janeiro pouco tempo depois da morte da mãe de Joaquim.
— Eu não desejo a dor de perder alguém que se ama tanto a ninguém. Alguém que você faria tudo para estar com ela. Alguém que é sua amada, meu amigo. — A voz carregava as lembranças como se tivesse vivido aquilo no dia anterior.
— Bem, eu não saberia como é o amor. Amar alguém, quero dizer. — Tauã sorriu de lado. — Na verdade, não saberia amar uma mulher.
— Me desculpe, meu amigo. — sorriu, saindo da distração das lembranças do passado, para se recordar o presente. — Permita que eu diga: o seu amado.
Tauã fez uma reverência com a cabeça e sorriu novamente.
— O senhor reconhece que isto é bem mais difícil. — disse com um suspiro. — Ainda prefiro servir como um guarda a me ferir com um amor nos tempos em que estamos.
— Não deveria dizer algo como isso. Quando vier o seu tempo de amar, será o tempo certo.
Tauã agradeceu as palavras com mais um sorriso e viu seu senhor levantar-se da cadeira.
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A Primeira Imperatriz
Historical FictionVicthana é escrava em um fazenda no sul do Brasil imperial, em 1880. Sobrevivendo a fome ao lado de sua mãe, nas senzalas, ela organiza uma fuga para o nordeste. Mas quanto mais ao norte, o dobro sofriam com a seca e as estiagens no sertão nordestin...