11: Escravos e uma doença

24 6 18
                                    

Capítulo 11
Escravos e uma doença


Joaquim havia acordado pouco depois das oito da manhã, e os Regentes já estavam andando pela fazenda. Borges estava à frente dos comandos já que o Regente Carvalho não saíra do quarto nem mesmo para o café da manhã.

Ele acompanhou os Regentes ao fazer as checagens nas senzalas, além de contarem todos os escravos e Regente Moura ter feito questão de falar com alguns deles, questionando como era a morada ali. Até que Joaquim os levou ao rio o qual apenas se cobria os calcanhares, além de terem socializado com as mulheres da cozinha e os outros serventes do casarão.

O ar seco daquela manhã de trabalhos se prolongou até depois do meio-dia quando a brisa da tarde se aproximou com as nuvens passando rápido pelo céu azulado.

Após o banho, Joaquim vestiu roupas arejadas, de cor clara, com uma casaca leve e de poucos botões. Depois de arrumar os cabelos penteados para trás, como de costume, e se encarar mais uma vez no espelho, constatando a barba que lhe nascia de forma rala pelo queixo e abaixo do nariz, ele se direcionou a janela para abri-la. Joaquim encarou o horizonte esbranquiçado de nuvens mais uma vez antes de sair do quarto.

Joaquim caminhou para as escadas e assim que chegou ao corredor do andar de baixo, Luene, mãe de Victhana, se aproximou dele com um aceno de cabeça.

— Senhor Joaquim. — disse ela. — Não sei se lhe fora comunicado, mas...

— Querida. — chamou Joaquim, parando ao seu lado e tocando-lhe o ombro. — Não use de tanta formalidade. — sorriu ele e encarou os olhos acastanhados da mulher. A idade não lhe era um fator tão exposto ao rosto. Sua pele negra lhe dava jovialidade e lembrou facilmente do sorriso de Victhana, quando ela lhe mostrou os dentes, desfazendo aquela postura de medo à sua frente.

— Como eu ia dizendo, — continuou, esfregou as mãos no pano pendurado em seu avental e olhou para o rosto límpido de Joaquim. — As mulheres da cozinha me deram um título.

— Devo ficar feliz que recebeu tal título? — perguntou e sorriu. — Tenho que admitir que, seja qual fora o título que lhe atribuíram, você é divina em seus pratos.

Luene sorriu para Joaquim com um aceno de cabeça.

Ela sentia como se eles tivessem algo quase íntimo. Como se ela soubesse, de fato, que Joaquim se aproximara de outra forma de sua filha.

Desde o dia em que falara com Joaquim a primeira vez, na cozinha, dias depois de terem salvo o homem da fome, sentira a verdade no olhar dele.

Luene reconhecia o olhar de um homem ruim. Não conseguira olhar nos olhos de todos eles, mas, lembrava perfeitamente do homem de olhos claros que lhe arrancara de sua casa e que a levou para um cais qualquer, e depois, quando um outro homem lhe arrastara e jogara em um daqueles navios. Já em terras brasileiras, encarara muitos homens, inclusive no olhar do português em que conseguira colocar os dedos que tentara estuprá-la em uma noite.

Todos os olhares carregavam uma chama obscura. Ela associou aquele olhar a um poder frágil. Um poder que eles conseguiam porque podiam gerar medo.

Houve apenas um olhar que nunca lhe dera medo, mas sim, o amor. Amor esse que partiu e lhe deixara Victhana, para quem ensinou tudo e disse como ela deveria ser.

Atualmente, estava cansada. Sua sabedoria já era toda de sua filha e a disposição que tinha era para viver os dias como se fossem os últimos, apoiando sua filha.

Se Joaquim tivesse aquele mesmo olhar afável para sua filha, ela consideraria que podia morrer em paz quando fosse sua hora.

— Você ainda pretende me contar algo? — indagou Joaquim ao seu lado.

A Primeira ImperatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora