Capítulo 15
Frieza
O soco atravessou o ar com peso demais e não acertou o alvo.
O homem parecia estar atento o suficiente para desviar do movimento que tentou acertá-lo. De tão atento, desviou de outro soco que viera por baixo, afim de acertar seu queixo. E de mais um outro que tentou acertá-lo na barriga, mas quase escorregando na água do rio à suas costas. Ele deu um meio sorriso, ao se equilibrar e não perdeu tempo em revidar as investidas.
Cerrou os punhos e socou pelo lado esquerdo do rosto de seu oponente. Mas ele ergueu o braço em defesa, impedindo o golpe. Mais esperto, ele usou a outra mão para soca-lo na barriga, esse acertando em cheio, porém com menos força.
O oponente recuou e tentou uma investida diferente; um soco pela direita, – ele defendeu – outro soco pela esquerda, - uma bela defesa dessa vez – e por último, um chute, - por esse ele não estava esperando – que lhe acertaria as costelas em cheio. Mas ele fora mais rápido.
O homem se inclinou rapidamente; não tentando desviar do chute e sim para passar uma rasteira no único pé em equilíbrio no oponente.
A água do rio se uniu com o movimento rápido que ele fez com o pé, levantando água e terra. A rasteira acertou o oponente com perfeição, fazendo com que ele caísse na beira do rio, levantando a água, já que caíra de costas nela.
O silêncio permaneceu por alguns segundos até que o oponente erguesse o rosto em sinal de que estava bem.
— Isso foi bom. — comentou o guarda ao se aproximar. — Muito bom, na verdade.
Houve um suspiro baixo de surpresa vindo das pessoas que assistiam eles, além do burburinho baixo de comentários e da decisão de quem iria para o treino a dois, em seguida.
Jacir estendeu a mão para seu oponente, um dos novatos, e o ajudou a se levantar. Depois o cumprimentou com um sorriso de lado como um pedido de desculpas.
— Boa habilidade com a rasteira, Jacir. — disse o guarda, elogiando, o segurando no ombro como um cumprimento, e se direcionou para o oponente dele. — Seus movimentos, apesar de bons, ainda estão com muito peso. Quanto mais peso você coloca no golpe, você perde tempo ao recompor para tentar jogar o próximo...
Jacir foi se afastando deles e indo em direção de Victhana, que fazia parte do grupo de menos de vinte dentre novatos e veteranos. Pegou a ponta de sua camisa e saiu torcendo-a para tirar o excesso da água, mirando o olhar no da moça que sorria para ele.
— Muito bom, Jacir. — recebeu o elogio de um amigo, e desviou o olhar para assentir, além de o cumprimentar em resposta.
E quando chegou mais próximo, antes mesmo de levantar a voz para lhe dizer algo, um guarda se aproximou de Victhana, a chamando.
— Joaquim está a te esperar no escritório do casarão.
Jacir reconheceu o rosto do guarda Kaluanã e sua voz firme que impunha das outras vezes da semana que treinaram. Embora tivessem sido poucas vezes, já que ele era mais próximo de Joaquim; e com o passar dos dias, percebia que Victhana estava ficando mais próxima dele também.
Ele observa o semblante tranquilo de Victhana se tornar mais neutro. De algumas vezes que parava para observar ela, percebia as mudanças que suas expressões faziam ao se relacionar com ele e os outros, como para quando se relacionava a coisas que viam de dentro do casarão. De uma feição descontraída; a pouco sorria para ele, para uma feição centrada; agora que já assentia para o guarda e se virava em direção a ele.
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A Primeira Imperatriz
Historical FictionVicthana é escrava em um fazenda no sul do Brasil imperial, em 1880. Sobrevivendo a fome ao lado de sua mãe, nas senzalas, ela organiza uma fuga para o nordeste. Mas quanto mais ao norte, o dobro sofriam com a seca e as estiagens no sertão nordestin...