18: Quando a História É Sobre Nós

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Capítulo 18
Quando a história é sobre nós


O mundo voltou ao seus pés e ele recobrou sua consciência pela segunda vez naquele dia.

Joaquim levou as mãos ao pescoço que sangrava suavemente abaixo de seu queixo. Viu o sangue nos dedos e o corpo estremeceu, quase desabando sobre seus próprios joelhos até ser amparado por um abraço suado e sujo; era poeira e lágrimas, medo e alívio. A voz que o chamava ajudou a se sentir vivo. Tocou mais uma vez o pescoço e soube que não estava morto quando encarou o olhar de Victhana.

Ela se ajoelhou ao lado dele, o agarrou em um abraço, dizendo que estava tudo bem. Estavam vivos. Sentiu ela agarrar seu rosto e exibir seu pescoço para revelar o corte; não era um corte profundo e a dor era fina como se houvesse se cortado sem querer com uma faca qualquer.

Joaquim tossiu e as mãos coçaram. O nariz o irritou com a poeira e balançou a cabeça para então encarar os olhos de Victhana novamente, sendo transportado para o momento em que vira aqueles olhos pela primeira vez e sentiu sua mão coçar da poeira.

Joaquim agarrou Victhana naquele abraço. Forte e sincero; por fim ele sorriu e suspirou em real alívio.

Joaquim avaliou o campo do conflito. Na estrada vermelha havia mortos e feridos. O grupo de Carvalho, todos mortos, e outros agonizando com os cortes profundos, sangrando até a morte. Dentre os mortos, haviam homens Livres que jaziam uns sobre os outros, ainda empunhando suas armas. Dentre os feridos, outros gravemente e outros superficialmente os ajudando.

Gritou para o casarão; chamou as mulheres de mais força para ajudar a levar os feridos para os quartos e não se importassem com nada até manter todos vivos. Solicitou aos guardas; aos últimos que estavam morrendo, os deixasse ao sol, e ajudassem as mulheres com os feridos.

O homem foi jogado ao chão. Ele gemeu ao bater as costas na grade de ferro no canto da varanda do casarão. Ferido pelo tronco, ele agarrava a barriga, os cabelos que outrora eram bem cacheados, estavam bagunçados em um emaranhado de suor e poeira. Os olhos azuis sem nenhuma graça agora ao encarar os olhos de Joaquim.

A espada foi desembainhada e a ponta se aproximou de seu pescoço. Ele engoliu em seco e suspirou, ofegando com a sensação do sangue molhando suas roupas suavemente.

— Ainda há mais alguém, Regente Maciel? — Joaquim indagou, enquanto observava o guarda Kaluanã apontando a espada no pescoço do noviço.

— Não... — ele tossiu. — Estão todos aqui...

A poeira já não subia mais, apenas havia o movimento da retirada dos corpos dos feridos ou mortos da estrada vermelha.

— Todos mortos. — Maciel concluiu. — Até mesmo Regente Carvalho.

— Certamente. — Joaquim o observou, e percebeu sua tensão. — E eu deveria deixá-lo viver?

— Eu nunca fui regente por vontade própria. — se apressou em dizer, e tentou erguer o tronco ferido, mas dor irradiou por todo o corpo. — Quero dizer que...

— Eu não perguntei como pretende salvar sua vida, Maciel. — Joaquim o interrompeu, e viu ele engolir em seco novamente.

— Já estou com uma espada no meu pescoço, minha barriga cortada ao meio por ela... — disse e indicou Victhana ali atrás deles. — Porque eu iria ir contra uma rendição?

— Apenas sua rendição não se serve de muito. Posso deixar isso mais interessante. — disse Joaquim, colocando as duas mãos nos bolsos, uma que estava em seu pescoço, segurando a faixa de tecido que cobria o ferimento. — Junto de sua rendição, quero que esqueça que um dia foi regente e esclareça algumas coisas para mim. Até decidirmos o que fazer.

A Primeira ImperatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora